Cultura & Lazer Titulo
Mais da estética bangue-punk
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
11/05/2007 | 07:01
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O cinema de Chan-wook Park ganhou uma publicidade involuntária mês passado, após o massacre na Universidade da Virgínia (Estados Unidos). O jovem atirador que matou 32 pessoas ao longo de uma única manhã posou para fotos em que imitava o protagonista de Oldboy (2003), filme mais célebre de Park e que antecede este novo Lady Vingança na trilogia da vendeta que o diretor sul-coreano realizou (Mister Vingança, o primeiro dos três filmes dessa série, permanece inédito no Brasil).

Vieram as costumeiras idiotices de vincular a sanha do assassino a suas afinidades audiovisuais. Calma lá. Seria no mínimo infantil acreditar que o cinema é combustível da estupidez ou lenha da atrocidade. Existe uma identificação iconográfica, tão-somente, e os devaneios e premeditações de um homicida não podem ser relacionados aos filmes que solicita à locadora. Não fosse assim, todo adolescente dos anos 80 amarraria uma fitinha vermelha na testa e sairia a metralhar transeuntes após deixar a sessão de Rambo 3.

Esse contexto faz olhar para Lady Vingança de um modo diferente, que associe sua iconografia de violência viral e estética bangue-punk a um ambiente comunitário; ou à incapacidade de relacionar-se em comunidade explicitada por atos como o da Virgínia.

A tal madame vingança é uma mulher que deixa a prisão após anos de cárcere. Além de ter perdido boa parte da vida atrás das grades, teve de abrir mão da própria filha. Ela inicia então um plano de vingança contra o homem que acabou com sua vida e usa artifícios numerosos e seus contatos na prisão.

Uma vez mais não cola a tentativa de Park de fazer, a partir da violência explícita e pós-Peckinpah, uma tragédia que navega entre o punk e o barroco. O fato de escolher uma mulher como protagonista é inócuo, inexpressivo quase. Agora o que não pode ser ignorado é que Lady Vingança, mesmo com suas manias cosméticas, é um sintoma de que o terror não nasceu de chocadeira. É filho de uma mãe bem leviana, conseqüência de maus-tratos de um organismo maior, às vezes chamado sociedade. Park entende que a agressão é a reação para uma ação, esta mais cruel e violenta.

LADY VINGANÇA (Chinjeolhan Geumjassi, Coréia do Sul, 2005). Dir.: Chan-wook Park. Com Yeong-ae Lee. Estréia nesta sexta-feira no HSBC Belas Artes 5 e Unibanco Arteplex 6. Duração: 112 min. Classificação indicativa: 16 anos.



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