Cultura & Lazer Titulo
Mais e muito melhores insultos em dicionário
João Marcos Coelho
Especial para o Diário
17/03/2002 | 17:45
Compartilhar notícia


Você sente falta de novos insultos para renovar seu estoque de armas verbais em brigas de todo tipo? Sente-se medíocre para expressar de modo adequado sua fúria quando vê estampadas nas primeiras páginas dos jornais fotos como aquela das 26,8 mil notas de R$ 50? Ou não sabe como atingir seu chefe arrogante e pretensioso com aquele insulto que o deixará nocauteado, consciente de sua (dele) ignorância? Pois seus problemas acabaram. Chegou o Dicionário Brasileiro dos Insultos (Ateliê Editorial, 364 págs., R$ 30), obra fundamental para todos os que querem revigorar de forma inteligente e sempre diversificada sua reserva de insultos.

Altair J. Aranha, o festejado autor do novíssimo dicionário, confessa de onde vieram os impulsos para a confecção de obra tão necessária no dia-a-dia dos brasileiros de 8 a 80 anos: “Desde o primeiro conflito na adolescência e a necessidade de usar a palavra como arma, busquei munição nos dicionários da língua portuguesa. Ora era a procura específica de um termo para me vingar de um superior em um próximo encontro de embate, ora a necessidade de rechear um texto juvenil com vocábulos cabeludos para deixar vagos antagonistas nocauteados.”

Foi aí que Altair percebeu que o insulto pouco conhecido mostra-se duplamente contundente: de alguma forma qualifica negativamente e, ainda, acrescenta, implicitamente, uma segunda ofensa: ignorante. Estava aberto o caminho para uma exaustiva pesquisa que lhe consumiu algumas décadas. Mas valeu a pena, diz ele, ao mesmo tempo em que assegura que o exercício diário do insulto acrescenta uns anos a mais na vida de qualquer um: “Nada como um bom e sonoro insulto para descarregar maus sentimentos”. Estes, sim, envenenam o coração quando recalcados, quando não explodem como petardos nos ouvidos alheios.

De abalelado a zureta – O primeiro verbete, entre os cerca de 3 mil arrolados por Altair, já é daqueles que não se deve deixar de usar: abalelado. Já pensou você xingar um sujeito confuso e desorganizado de abalelado? Eis a definição do verbete: “É aquele que se mete em grandes empreendimentos sem conseguir levá-los adiante porque atua de maneira confusa, desordenada. Os que participaram da construção da famosa Torre de Babel eram assim. Babélico”.

Não encaixa como uma luva na personalidade de Itamar Franco? O dicionário é um verdadeiro jardim das delícias para quem adora um xingamento. No caminho de procurar o último verbete, zureta, outro, impagável e novo, chama a atenção. Já imaginou chamar aquele canalhinha fingido e hipócrita de zanho? Sensacional.

Algumas expressões compostas resvalam para o escatológico, mas são divertidas e podem ser usadas conforme a conveniência e a liberalidade do ambiente. Mestre-do-cu-sujo, por exemplo, é o indivíduo com grande capacidade de mostrar o seu lado mais repelente, desprezível. Está lá, na obra de Altair e nos demais dicionários convencionais.

Outro insulto mostra-se muito antenado com o momento político que vivemos. Alguns jornalistas descobriram que a palavra Maranhão, no dicionário Aurélio, refere-se não só ao Estado dos Sarney, mas também significa “mentira”. O mais recente Dicionário Houaiss vai muito mais longe na página 1.848. Qualifica Maranhão como “mentira engenhosa” e – surpresa, pois é anterior ao reinado sarneyzista – localiza o início do uso do vocábulo nesta acepção entre os anos de 1851 e 1881. A fonte usada é o respeitado dicionarista pátrio Caudas Aulete.

Altair, no entanto, dá um passo à frente em relação aos concorrentes mais generalizantes. Seu Dicionário dos Insultos registra também o adjetivo maranhoso, ou seja, mentiroso.

Bem, em um país como este, o dicionário de Altair tem de ser obra de cabeceira – para os insultos domésticos – e daquelas que ficam ao alcance da mão no escritório, para ser usado diariamente, ao telefone e por e-mail e, claro, ao vivo e em cores.

Altair tem plena consciência de que o insulto é não só coisa nossa, mas daquelas que evoluem todo dia. E apela: “O dicionário é um corpo vivo que se renova a cada momento. Todos os leitores, ou melhor, usuários, poderão ajudar a reescrevê-lo. Envie sugestões para o e-mail insultos@bol.com.br”. Não virou costume ficar emeiando ou telefonando para merdícolas televisivas como a merdífera Casa dos Artistas e podricalhas como o Big Brother? Então não custa nada contribuir para uma causa nobre como este dicionário.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;