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Fim trágico e previsível
Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
09/12/2007 | 07:14
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Um homem tímido, triste e cercado por oportunistas que o tratavam como uma máquina de fabricar dinheiro. Esse é o retrato feito pela jornalista norte-americana Sharon Lawrence na biografia Jimi Hendrix – A Dramática História de uma Lenda do Rock (Jorge Zahar Editor, 356 págs., R$ 40 em média).

Amiga e confidente de Hendrix, a autora narra a trajetória do artista, desde a infância tumultuada, até a morte prematura, aos 27 anos, em decorrência de uma overdose de barbitúricos. Sharon conheceu o biografado em 1967, quando era repórter da agência de notícias United Press International.

Apesar da narrativa maniqueísta – que sempre apresenta o músico como uma vítima indefesa de empresários inescrupulosos –, ela descreve com maestria as transformações culturais ocorridas nos anos 1960.

Instável - A mãe do guitarrista, Lucille Jeter, era alcoólatra e emocionalmente instável. O pai, Al Hendrix, é descrito no livro como um sujeito autoritário e interessado apenas em dinheiro.

Quando o músico tinha 4 anos, Al teve o primeiro contato com o filho após ter sido dispensado do serviço militar. Seu casamento já estava em crise e ele tomou uma decisão curiosa.

Desconfiado de que a mulher poderia ter batizado o menino como Johnny, em homenagem a algum amante, resolveu mudar legalmente o nome do garoto para James Marshall Hendrix (nos países de língua inglesa, Jimi é um apelido comum para quem se chama James). Sem o afeto dos pais, que não tinham condições de criá-lo, o guitarrista cresceu sob os cuidados de parentes e conhecidos.

Humilde - Munido de sua guitarra Fender Stratocaster, Hendrix criou um estilo que até hoje influencia instrumentistas em todo o mundo. Mas, segundo Sharon, apesar de ter sido aclamado por medalhões como Pete Townshend e os Beatles, preservou a humildade. Costumava demonstrar constrangimento ao comentar que, em um determinado show, tinha tocado melhor que Eric Clapton, um de seus grandes ídolos.

Morte - Ao final da leitura, fica a impressão de que a trágica morte de Hendrix poderia ter sido evitada. Sem muitos amigos, estressado por turnês intermináveis e rodeado por parasitas, o ídolo rendeu-se à depressão e ao consumo excessivo de drogas.

Trechos

“Al Hendrix lhe dizia: ‘Essa mulher é uma vagabunda’. Jimi odiava ouvir o pai falar mal de sua mãe, assim como se arrepiava ao vê-la intoxicada, trôpega e trêmula”. (página 23).

“Enquanto Jimi, o baixista Noel Redding, o baterista Mitch Mitchell reclamavam o tempo todo dos pequenos salários, que não duravam mais que uma semana, o empresário Michael Jeffery se mostrava evasivo como sempre em relação ao assunto”. (página 71).

“Hendrix tinha uma atitude muito superior em relação ao preconceito racial. ‘Sou contra os rótulos de qualquer espécie, a não ser os de embalagens de picles’, dizia”.

(página 79).

“A vida estava ficando cada vez melhor para Al Hendrix. Recebera muito dinheiro do espólio de Jimi, o que possibilitou comprar uma casa muito confortável com cinco quartos, cinco banheiros, duas salas e seu próprio ‘esconderijo’ no porão, com mesa de bilhar e geladeira para estocar cerveja.” (página 245).




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