No senso comum dos esportes radicais, não há meio-termo. Os movimentos sinuosos ladeira abaixo têm de ser executados com precisão. Caso contrário, o chão é destino certo. Criado basicamente para simular sensações típicas da prática do surfe em terra firme, o carveboard é uma modalidade street (de rua) criada em 1997 e que já conta com cerca de 3.000 adeptos no Brasil.

No Grande ABC, o esporte já tem aproximadamente 50 praticantes. A equipe Carvericks, de São Bernardo, se prepara semanalmente nas imediações da Chácara Inglesa para as etapas do Circuito Paulista, que geralmente são realizados de três em três meses.

E o próximo desafio acontece neste fim de semana, em Itu, Interior paulista, na ladeira conhecida como Tsunami. O time oficial é formado pelos carveboarders Bonja, Leme, Nego, Verso, Fabão, Zanetti, Carlão e Jorge Longo.

O estilo de competição é o free ride (ou corrida livre) e consiste em fazer o percurso sozinho. O praticante realiza o traçado que desejar e tem de mostrar manobras integradas com obstáculos como rampas, calçadas e guias.

"Pela própria origem do esporte, as manobras vieram do surfe e são conhecidas pelo mesmo nome, como a rasgada, tubo, floater (sobre guias altas), 360º e a batida. Mas a modalidade está em constante evolução e sempre aparecem novidades, como movimentos de slide adaptados do skate downhill. O que vale sempre é ser espontâneo e criativo", afirmou Jorge Longo.

Calibragem total - Em uma primeira olhada, o carveboard lembra simplesmente um skate de maior dimensão. Mas o shape (prancha) tem rodas semelhantes às utilizadas em karts, que aderem ao asfalto. O equipamento conta com molas especiais amortecedoras, que permitem o carve se movimentar e se inclinar sobre os eixos de acordo com as manobras executadas.

Como os pneus têm câmaras de ar, a calibragem pode ser regulada de acordo com a velocidade almejada pelo praticante. Por ser um esporte de velocidade, são indicados equipados básicos de proteção, como capacete, joelheiras, cotoveleiras e luvas.

Como o carveboard é relativamente novo, os requintes lúdicos e o clima de festa inerente em muitos esportes radicais ainda estão presentes nas competições. O Circuito Paulista ainda é o único torneio nacional, com quatro etapas ao ano. A equipe Carvericks, inclusive, pretende trazer a próxima fase para São Bernardo.

"O Brasil atualmente pode ser considerado umas das principais potências da modalidade. No momento, temos de divulgar cada vez mais o esporte, para que novas equipes apareçam. Isso finalmente viabilizará a criação da federação brasileira. Assim, também poderemos levar nossos campeonatos pra fora, principalmente para a cidade natal do carveboard, a Califórnia", explicou Bonja.

Modalidade foi criada há 12 anos na Califórnia
O carveborard foi criado na Califórnia, em 1997. O surfista profissional Brad Gerlach e seu pai idealizaram a prancha para simular movimentos do surfe no asfalto, e que serviria para auxiliar o treinamento do esporte das ondas nos dias em que o mar estivesse sem condições ideais para a prática.

Muito confundem a modalidade com o mountain skate, criado também por norte-americanos, em 1993. A diferença está nas rodas (mais voltadas para enfrentar qualquer tipo de terreno), e no estilo das formas de disputa.

A principal novidade do esporte nos Estados Unidos é o estilo carvin paddle, inventado por surfistas havaianos e baseado no stand up paddle surf, uma variante que utiliza um remo para auxiliar as manobras sobre as ondas. No caso do carvin paddle, este remo se transforma em um bastão adaptado com pequenas rodas de borracha na extremidade.