Setecidades Titulo Por dentro de um hospital de campanha - Capítulo 5
Equipe multidisciplinar traz leveza na luta contra o vírus

Psicólogos, assistentes sociais e fisioterapeutas garantem bem-estar dos pacientes durante o período de internação

Por Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
04/02/2021 | 00:01
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Nario Barbosa/DGABC


Na maior parte do tempo, o ambiente do hospital de campanha montado no Complexo Esportivo Pedro Dell’Antonia, em Santo André, lembra o de uma base de guerra. Apesar de pesado e tenso, também reserva momentos que tiram sorrisos, sejam por histórias, visitas virtuais, alta médica ou festinhas de aniversário. E os responsáveis por esses momentos leves estão, em sua maioria, na equipe multiprofissional, composta por psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, entre outras especialidades que vão além do trabalho clínico.

Esse time de super-heróis tem como princípio um lema, repetido diariamente entre as reuniões pré e pós-plantão. “Não tratamos de Covid aqui no hospital de campanha, nós cuidamos de pessoas.” 

A coordenadora da equipe de psicologia e assistência social, Rita de Cássia Calegari, é a prova de que o trabalho desses especialistas é carregado de simpatia e bom humor. O sorriso dela, embora escondido pela máscara, é sentido pelos olhos. E é com essa energia boa que cada um da equipe vai, leito a leito, fazendo seu trabalho e dando atenção aos pacientes, que ficam isolados, sem contato físico com familiares. “Um paciente traz consigo suas aflições, medos, angústias e questões mal resolvidas, que ficaram lá fora. E nós (psicólogos e assistentes sociais) estamos prontos para atender essas demandas e ajudar da melhor maneira possível”, afirmou Rita.

A coordenadora da equipe contou que o psicólogo, em especial, é responsável pelo acolhimento do paciente desde a sua chegada, passando pelo atendimento diário, concluindo o processo até a alta. “Temos de entender quem é aquela pessoa e quais suas necessidades emocionais, o que a aflige e, a partir disso, trabalhar em cada um”, afirmou.

Outro aspecto importante é o acompanhamento da visita virtual, feita todos os dias por meio de videochamada com duração de cinco a dez minutos. “A visita virtual é extremamente significativa para os pacientes e seus familiares. Os novos internados chegam com medo, estressados, inseguros e o distanciamento com a família só acentua e dificulta na recuperação clínica. Então, a videochamada é um momento em que esse paciente pode ser acolhido pelos entes queridos”, reforçou Rita. “Além disso, há outras atividades onde o psicólogo contribui junto à equipe de saúde, porque alguns pacientes podem apresentar quadros patológicos de ansiedade e depressão que precisam ser acompanhados durante todo o período de internação.”

Uma das psicólogas da equipe, Rosilene Pocay mostrou à equipe de reportagem do Diário como funciona a rotina destes especialistas que organizam, diariamente, uma planilha com todos os pacientes internados, suas alas, estado de saúde e detalhes individuais. Uns têm asteriscos, o que significa que precisam de acolhimento, que nada mais é do que a escuta. É o momento, então, que o profissional vai entender quem é aquela pessoa e o que ela está sentindo emocionalmente. “Para auxiliar esse momento de internação nossa melhor ferramenta é a escuta. Temos de acolher. Tem fases, desde a negação e raiva, até a compreensão. Recebemos o impacto e, de acordo com o que estamos ouvindo, vamos atuando. Não tem receita pronta”, revelou Rosilene.

Aos 27 anos, o psicólogo Yago das Neves Jacinto recebeu o que chama de “grande oportunidade” de trabalhar no hospital de campanha. “É importante estarmos aqui neste momento, dando suporte tanto para os pacientes e famílias quanto à equipe de saúde, a quem também auxiliamos. Nosso trabalho é fundamental”, afirmou o profissional.

Para Yago, a palavra-chave é “ressignificar”, já que acolhem angústias e, ao lado do paciente, conseguem fazer com que a pessoa enxergue toda a situação com um novo olhar. “Nosso desafio é sempre nos mostrar disponíveis a todos, e de peito aberto tudo fica mais fácil. Trabalhamos contra o tempo e temos de fazer todo o trabalho com qualidade”, reforçou, pontuando que a equipe de psicólogos atua, também, no momento do óbito, dando suporte à família.

Profissionais ajudam a tranquilizar doentes e familiares

Os assistentes sociais que atuam no hospital de campanha montado no Pedro Dell''Antonia têm, entre outras atribuições, a missão de ser a ponte entre o paciente e o familiar, normalmente, ambos abalados com o momento de internação devido ao vírus mais temido do século.

São esses profissionais que contatam a família para trocar informações sobre amenidades da vida do paciente, levando determinadas questões pessoais aos médicos que, embora sejam os que passam o boletim diário de saúde, muitas vezes dependem da assistência social para entender pormenores daquela pessoa. Os profissionais colhem informações, buscam saber sobre medicamentos controlados que terão de ser ministrados na internação, itens que auxiliem o bem-estar, como livros, Bíblia e outros pertences pessoais (meios de comunicação são proibidos), além de se responsabilizar por buscar atestados médicos, informar a alta e também o óbito.

Eles trabalham desde a hora em que o paciente chega, no contato com a família, até o momento de ir embora, quando pegam a vestimenta do internado no portão do complexo esportivo, levam até o leito para a enfermeira e acompanham a saída rumo à casa, ou, infelizmente, acompanham e auxiliam o fim da luta contra a Covid.

A assistente social Luciana Rezende explicou que o plantão da equipe é de seis horas diárias, com atendimento das 8h às 22h, tendo em vista que cada plantão é mantido por um time, sendo de manhã com cinco profissionais, dois à tarde e o mesmo número de noite. “O trabalho prioritário do assistente social aqui no hospital de campanha é fazer o contato com as famílias. É a primeira coisa que fazemos quando iniciamos o plantão e é bastante importante, porque acalenta”, disse Luciana.

Para a profissional, o momento pandêmico, somado à internação em um hospital de campanha, assusta tanto o paciente quanto a família. “Quando a gente leva orientação para a família, eles se acalmam e a gente consegue seguir o trabalho”, pontuou. “É um desafio<CF51> (trabalhar no hospital de campanha)</CF>. Não é fácil, mas é fascinante. Tem casos que a gente respira três, quatro, cinco, seis vezes para tentar buscar um pouco de conforto interno e emocional, mas entendendo que estou cumprindo com meu dever, que, além de profissional, é cívico também”, disse Luciana, bastante emocionada.

FISIO ALÉM DO MOVIMENTO

O trabalho do fisioterapeuta é visto, muitas vezes, apenas como recuperação motora. Mas no caso do hospital de campanha, a assistência desses profissionais é primordial para salvar vidas, sobretudo porque atuam na recuperação dos movimentos respiratórios dos pacientes acometidos pela Covid.

Milena Corrêa atua na área fisioterapêutica desde a abertura do hospital. Ela enxerga que a equipe tem ganhado “extrema relevância” com o dia a dia. “A gente capta o paciente desde a admissão. Muitas vezes as pessoas já dão entrada com a suplementação de oxigênio, momento em que já se inicia o trabalho da fisioterapia”, explicou.

O processo de reabilitação respiratória é feito para que o paciente consiga sair o mais breve possível da suplementação de oxigênio. “Trabalhamos para que a pessoa possa ir para casa respirando sozinha. Mas também trabalhamos a mobilidade, porque, muitas vezes, a internação causa redução da força”, exemplificou Milena.

Nos próximos capítulos desta série, o Diário contará um pouco da rotina dos nutricionistas, auxiliares de higiene e socorristas que fazem a diferença no dia a dia do hospital de campanha.




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