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'O PT não tem candidato' à Presidência da República, diz Roberto Jefferson
Por Beto Silva
Do Diário do Grande ABC
28/06/2010 | 07:00
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O discurso está mais do que afinado. Mais do que os acordes, o tom e as notas de suas empreitadas musicais como cantor amador. Roberto Jefferson é enfático: "O PT não tem candidato a presidente" nas eleições deste ano. "Não é eleição de assessor", salienta, ao referir-se à petista Dilma Rousseff, candidata ao Palácio do Planalto. O presidente nacional do PTB recebeu a equipe do Diário semana passada, na casa do vice-prefeito de São Bernardo, Frank Aguiar (PTB). Sobre o episódio do mensalão (compra de votos dos parlamentares por parte de integrantes do governo federal), afirma que os resultados da denúncia foram positivos. E garante que a manobra não ocorre mais. Indagado acerca da possibilidade de o PTB lançar candidato à Presidência em 2014, foi enfático: "Temos um nome que está em estado latente no PTB, que é do ex-presidente Fernando Collor." Confira os principais trechos da entrevista.

DIÁRIO - O que levou, de fato, o PTB a apoiar José Serra (PSDB), já que os deputados e senadores do partido estão na base de apoio do governo federal?
ROBERTO JEFFERSON - O PTB não é partido congressual, é partido de base. Você veja que houve uma chapa apresentada (na convenção nacional) para coligação com Dilma. Essa chapa era subscrita pela bancada federal. E ela perdeu para a que foi apresentada pela juventude do PTB, que venceu por 80%. Imediatamente, percebendo que iria perder, o líder da outra chapa retirou-a e houve aclamação.

DIÁRIO - Sobre o futuro político do sr.: já pensa em se candidatar novamente, após passar o período de cassação?
JEFFERSON - Estou cassado até 2018, tem tempo, estou construindo e organizando o partido. Meu objetivo é fazer um grande PTB nacional. Costumo dizer que nós vivemos da herança que recebemos de Getúlio (Vargas, presidente do Brasil de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954, quando se matou). Somos espécie de filhos pródigos, porque estamos gastando a herança. Porque não fomos capazes ainda de construir no presente nada da importância que Getúlio nos deixou, seja na obra social, na do trabalhador, previdência, CLT... não fizemos nada igual. Queremos interromper aquele ditado popular: pai rico, filho nobre, neto pobre. Queremos deixar heranças de conquistas para os nossos filhos.

DIÁRIO - Voltando um pouco aos fatos passados, a denúncia do mensalão teve o resultado esperado?
JEFFERSON - Foi positivo: 40 pessoas denunciadas no STF (Supremo Tribunal Federal), ministros de Estado, presidentes de partido, diretores de estatal, de bancos privados. Meu pai do céu! Nunca antes na história deste País houve isso (risos).

DIÁRIO - O mensalão ainda acontece no Congresso?
JEFFERSON - Não acontece mais, acabou, isso não existe. A maior fiscalização que há no Brasil é a da imprensa. A imprensa é os olhos e os ouvidos do País. Se houvesse isso de novo, já estava no jornal.

DIÁRIO - O que o sr. pensa sobre esses dossiês que estão surgindo?
JEFFERSON - Guerra suja. Tomará que não continue, porque isso é um desserviço à democracia. Isso destrói a reputação do político e depois a população diz: político é tudo farinha do mesmo saco. Esses episódios também são por conta do modelo político. Deveríamos ter o voto distrital, parlamentarismo, com presidente como chefe de Estado, deveríamos ter evoluído, avançado na reforma política. Tudo isso é consequência de um código eleitoral da década de 1960, que não foi atualizado, modernizado. Onde a importância não está nos partidos, está nos fulanos, nos políticos. É muito ruim isso. A reforma tributária... Tudo o que é produzido no País tem 40% de impostos. O sonho de Tiradentes, o herói da Pátria, que morreu sonhando em libertar o Brasil de Portugal, era fazer o movimento libertário no dia da derrama (dia da cobrança do imposto, que a Coroa cobrava sobre a extração do ouro). Vinte por cento era o imposto do ouro. E Tiradentes queria fazer a liberdade do Brasil porque achava que era caro demais. Hoje a gente paga 40% e não aparece um Tiradentes. Mas também, se aparecer, vão pendurar de novo ele na forca e vão esquartejá-lo.

DIÁRIO - O que sr. acha de Dilma Rousseff?
JEFFERSON - Não é eleição de assessora. Se fosse ela era perfeita. Ela e uma bela assessora, mas não tem nenhuma condição de ser presidente. Não foi testada. Por exemplo, meu dentista é mais velho do que eu. Estou com 57 anos e ele com 62. Mas quanta gente ele já beliscou na boca com aquele boticão antes de chegar em mim? O meu médico é mais velho do que eu. O bom cirurgião é aquele que pratica muito. O professor é o velho professor, que estudou, se atualizou. Essa sra. não foi vereadora, vice-prefeita, deputada, não conhece o povo. Ela sabe fazer fórmula de economia. Todo economista tem viés autoritário, quer ditar regra. Ele não entende que toda decisão que toma atinge o trabalhador da lavoura, que está com a enxada na mão. Ele quer ditar de Brasília uma regra que vai se transformar num comportamento social. Isso não existe. É o comportamento que faz a regra e não a regra que faz o comportamento, meu irmão. Ela é uma mulher das regras. Caiu o José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil, no episódio do mensalão), que seria o candidato natural e ela foi inventada, mas não tem condições. O PT não tem candidato a presidente.

DIÁRIO - E Marina Silva?
JEFFERSON - Deixou o PT, foi para o PV e vai ficar ali naquele segmento do movimento ambiental ecológico, com 10% das intenções de voto. Talvez ela leve para o segundo turno. Porque quanto mais tempo de televisão para a Dilma, desmistifica ela (a petista).

DIÁRIO - Então a TV vai ser prejudicial ao PT?
JEFFERSON - Nem duvide. Ela gagueja, ela xinga os outros, não tem condições.

DIÁRIO - Pode surgir um quarto nome para protagonizar as eleições?
JEFFERSON - Não. Está definido o jogo. Não será uma final fácil. Essa eleição não acabará em samba. Ela terá o final de tango argentino, por una cabeza (por uma cabeça). Por una cabeeezaaaaaa (cantando). O José Serra amadureceu muito, está preparado. Tem currículo, conhece o povo, respeita o parlamento, tem estrutura: foi deputado federal, ministro de Estado, prefeito, governador, sabe o valor do voto, sabe o respeito que tem de ter pela confiança do eleitor. A meu ver, mais preparado do que ela.

DIÁRIO - Campos Machado (presidente do PTB paulista) tem dito que o partido vai deixar em breve de ser coadjuvante. Dá para lançar presidente em futuro próximo?
JEFFERSON - Penso que sim. 14 é nosso número , 14 é nossa data. Em 2014 queremos disputar com candidatura própria à Presidência. Temos um nome que está em estado latente no PTB, que é do ex-presidente Fernando Collor. Ele disputa agora o governo de Alagoas. Vem buscando se recompatibilizar com a opinião pública, faz passo a passo, voltando a confiança do povo, a discutir com a sociedade brasileira e vai precisar enfrentar essa eleição. Até por sua biografia, por sua história e pela história do Brasil.

DIÁRIO - O povo não pode ver com olhar mais cético essa questão?
JEFFERSON - Agora creio que sim. Sem dizer que é candidato, ele tem 12% (de intenção de voto) e 40% de rejeição. Isso tem uns seis meses. Mas você imagina: a Dilma tinha 48% de rejeição e já está com 20%! Parte para a luta.

DIÁRIO - Mas a Dilma não tem o histórico dele.
JEFFERSON - Tudo isso vai ser discutido, não é. E ele vai mostrar que, com todas as ações que recebeu, nunca sofreu condenação judicial. A condenação foi política.




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