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Os amigos do presidente
Por Carlos Brickmann
23/08/2020 | 07:19
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Na época da ditadura que dizem que não houve, contava-se esta piada: quem denunciasse um comunista ganharia um Fusca; quem denunciasse dois comunistas ganharia um Fusca e um apartamento; quem denunciasse três comunistas iria em cana, porque conhecia comunistas demais.

E como a família Bolsonaro conhece gente que tem problemas, digamos, éticos! É o Queiroz, são aqueles milicianos que têm foto com alguém da família, é aquela tropa de gente empregada em seus gabinetes parlamentares e que mora a horas e horas de distância, tendo ainda de ocupar parte de seu tempo em outros trabalhos remunerados! E esse tipo de amigos e conhecidos agora se internacionalizou: Steve Bannon, guru de Olavo de Carvalho, talvez o maior ideólogo do bolsonarismo, foi preso nos Estados Unidos. Problema político? Não: a acusação é mesmo a de ter enfiado a mão no pudim.

Bannon sentou-se ao lado de Bolsonaro no jantar da Embaixada brasileira em Washington (do outro lado, Olavo de Carvalho). Ali estavam sete ministros, inclusive o Imposto Ipiranga Paulo Guedes, mas Bannon era o astro. Já ídolo e amigo de Eduardo Bolsonaro, defendeu publicamente sua nomeação para embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Eduardo o chamou de ícone da luta contra o marxismo cultural. Bannon o escolheu como seu representante no Brasil, chefiando a seção brasileira do Movimento, grupo empenhado em lutar internacionalmente contra o comunismo. Bannon foi guru de Trump, que o demitiu: nem ele o aguentou.

Deixa comigo
Bannon foi um dos criadores da ideia de separar Estados Unidos e México por um grande muro. Para ajudar a pagá-lo, promoveu grande campanha de doações; foi preso pela acusação de desviar boa parte das doações. Quanto? Não se sabe: mas, pelo tamanho da fiança que tem de pagar para defender-se em liberdade, dá para imaginar. São cinco milhões de dólares. Ele topou.

Diminuir aumenta
Lembra-se do compromisso de Paulo Guedes de privatizar rapidamente quatro grandes empresas? Pois é: para privatizar a Eletrobras, o governo reserva, no orçamento de 2021, R$ 4 bilhões para criar uma nova estatal, que ficaria com parte da operação da empresa a ser vendida. Algo, digamos, como jogar fora os documentos velhos para poupar espaço, mas não sem antes copiá-los para guardar. Quais as operações que não seriam vendidas com a Eletrobras (isso se a Eletrobras for mesmo vendida)? As três usinas nucleares de Angra dos Reis (a terceira não foi concluída e está parada desde 2015) e a parte brasileira em Itaipu. Usinas nucleares da Europa e Estados Unidos são privadas. Mas Itaipu não tem jeito: não sendo estatal, como nomear gente com salário mensal de uns R$ 30 mil para ir a seis reuniões por ano?

A probabilidade e o risco
O governo queria dar R$ 200 mensais para quem tivesse perdido sua fonte de renda na pandemia. O Congresso, para criar-lhe dificuldades, votou R$ 600. O objetivo era derrotá-lo, mas quem ganhou foi Bolsonaro, cuja popularidade voltou a crescer. A promessa do presidente, de manter a ajuda até o fim do ano, tem tudo para ser cumprida, e o dinheiro vai surgir. Só há um risco: Paulo Guedes prometeu enviar ao Congresso, na terça, o projeto da Renda Brasil, uma Bolsa Família ampliada e melhorada. Promessa de Guedes para depois de amanhã sabe-se lá quando chega. E, claro, se chegar.

Boa notícia
Em julho, foram criados no Brasil 131 mil empregos formais, daqueles de carteira assinada e tudo. Sim, é pouco. Mas não houve estagnação nem queda. E se interrompe uma terrível série de quatro meses em que só houve redução do número de empregos formais. Pode ser – vamos torcer- o início da retomada do nível de emprego, indicando alguma recuperação econômica.

Os censores
O ministro da Justiça, André Mendonça, pediu que seja aberto processo pela Lei de Segurança Nacional contra o jornalista Hélio Schwartsman, da Folha de S.Paulo, por ter dito, quando o presidente Bolsonaro foi contaminado pelo coronavírus, que torcia para que ele morresse. Detalhe: o jornalista não pediu a ninguém que o matasse nem tomou qualquer medida para que isso ocorresse. Apenas manifestou sua opinião de que, morrendo o presidente, o Brasil ficaria melhor. Mendonça pediu o processo com base no artigo 26 da Lei de Segurança Nacional, que prevê pena de reclusão a quem caluniar ou difamar o presidente da República, do Senado, da Câmara ou do Supremo, imputando-lhes fato definido como crime ou fato ofensivo à reputação. E em que momento Schwartsman caluniou ou difamou quem quer que seja?

Não concordo com Schwartsman, acho impiedoso desejar a morte de alguém, mas ele tem direito a expressar sua opinião. Acho que Mendonça não deveria ser ministro, acho também que não deveria ser nomeado para o Supremo Tribunal Federal. Questão de opinião. Opinião é crime? 




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