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Estudo aponta que piscinões já não funcionam contra enchentes

Pesquisa avalia alternativas mais econômicas e eficientes no combate ao problema das cheias

Yasmin Assagra
Do Diário do Grande ABC
19/02/2020 | 23:30
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Júnior Carvalho/DGABC


Estudo realizado por especialistas da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), e divulgado ontem pelo Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS), aponta que os piscinões são insuficientes para combate efetivo às enchentes. Afinal, se trata de um modelo corretivo e não preventivo a um problema que historicamente assola o Grande ABC, avaliam. 

Para os especialistas, a drenagem urbana atualmente tem como base dois modelos de enfrentamento aos transtornos causados pelas chuvas: a retenção de água das no local, ou seja, quando o combate é realizado na própria cidade, ou aquele que transfere para outras áreas e municípios. Hoje, a região apresenta como solução essa transferência para outras regiões com a rede de piscinões. 

Prova de que os reservatórios não dão conta de evitar alagamentos e inundações no Grande ABC foi o que ocorreu em Mauá na terça-feira, quando piscinão nas proximidades do Paço transbordou, a água formou verdadeiras lagoas em trechos da Avenida João Ramalho e deixou motoristas e motociclistas ilhados. Quem estava na cidade também enfrentou problemas no terminal de ônibus e na Avenida Portugal, no Centro. 

Gestor do curso de arquitetura e urbanismo da USCS e pesquisador do Conjuscs, Enio Moro Júnior propõe algumas alternativas mais econômicas para combater as enchentes, como poços de infiltrações em terrenos públicos e privados – estruturas que armazenam água para absorção natural pelo solo –, jardins de chuva, que são pequenas áreas verdes em calçadas que possibilitam a absorção da água da chuva, e telas protetoras de bocas de lobo, para evitar entupimento. 

“São soluções de baixa tecnologia e eficientes na retenção de água. E são iniciativas que, se pulverizadas, o funcionamento será muito melhor”, destaca Moro. 

Durante a divulgação da pesquisa, também foi citada a futura construção do Piscinão Jaboticabal, localizado entre São Bernardo, São Caetano e São Paulo. Os investimentos previstos são de R$ 315 milhões, sendo R$ 190 milhões em obras e outros R$ 125 milhões para desapropriação de terrenos. 

“Essa reflexão (sobre a construção do Jaboticabal) é sobre a realidade que vai coroar a política oficial de jogar o problema para outra região. Esse piscinão é um buraco, quase 15 metros de profundidade, que equivale a um prédio de cinco andares e vai funcionar duas vezes por ano”, destaca. 

Enio ainda observa que, após o período de fortes chuvas – geralmente de dezembro a março –, o piscinão não terá nenhuma utilidade. “Um local ruim, atrapalhando a cidade, a paisagem urbana e que não qualifica em nada. Só soma uma ideia de baixo impacto nas soluções contra enchentes”, finaliza. 

Construção de reservatórios tem impacto negativo no meio ambiente 

A pesquisa divulgada ontem também aborda impactos negativos que os piscinões causam ao meio ambiente na região. O desafio desse tipo de drenagem urbana é evitar o uso de soluções que transferem a água para pontos mais baixos da cidade, cada vez com maior velocidade e sem capacidade de escoamento. 

“Nesse modelo de urbanização, podemos prever algumas mudanças extremamente importantes. Um terço de toda região, por exemplo, é de área pública, e dois terços são de áreas já construídas. Essa pesquisa detalha que esse um terço pode ser utilizado como retenção em 100% do local e boa parte das áreas privadas também”, observa Enio Moro.

Por isso, as alternativas visam inverter essa ordem, ou seja, garantir a retenção da água no ponto de origem por meio de iniciativas ambientalmente sustentáveis e com custos menores em relação à construção e manutenção de piscinões. Com isso, inibem a concentração da água em um único ponto.




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