Aos 19 anos, Thainá Aparecida Décio Passos celebra a considerada primeira grande conquista da vida. Moradora do bairro Montanhão, zona periférica de São Bernardo, ela foi aprovada no vestibular de quatro universidades públicas para cursar medicina, carreira que sonha seguir desde a infância. Aluna da rede pública de ensino durante toda a etapa escolar, ela revela que só conseguiu o feito após permuta em um cursinho particular, onde trabalhava em troca de conhecimento, e dedicação diária de dez horas junto aos livros.

Thainá prestou o primeiro vestibular para medicina assim que concluiu o ensino médio na EE Dr. Baeta Neves, em São Bernardo, em 2017. Diante da reprovação, começou a buscar alternativas para conseguir chegar onde desejava. “Resolvi que precisava iniciar os estudos em cursinhos preparatórios, mas precisava de uma bolsa, porque meus pais não tinham condição de pagar”, comenta a jovem, filha do aposentado Aparecido Passos, 68, e da desempregada Malfizia Clari Décio, 59.

A jovem abraçou oportunidade do Singular-Anglo, de São Bernardo, e, em troca de cursinho pela manhã, realizava monitoria aos alunos no período da tarde. “Pela manhã, estudava das 8h até 13h30 e, depois, das 14h até umas 20h, em média. Fora os fins de semana, quando que eu conseguia revisar todo conteúdo e realizar simulados atrasados”, lembra Thainá. “Quando você busca muito algo que deseja, você consegue”, ressalta.

Ao fim do primeiro ano de cursinho, em 2018, tentou novamente o vestibular para medicina. Dessa vez, avançou para a segunda fase da Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular), responsável pelo processo seletivo da USP (Universidade de São Paulo), no entanto, ainda não conseguiu entrar.
“Ainda estava bem insegura (na segunda tentativa), mas no terceiro ano (em 2019) estava mais confiante, tinha revisado mais os conteúdos e busquei estudar mais o que ainda estava com muitas dúvidas, principalmente, física”, destaca.

Thainá foi aprovada na USP de Bauru, Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro) e Famerp (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto). A instituição escolhida pela futura médica será Unifesp, por não precisar se mudar e ficar longe dos pais durante os estudos. “A primeira que fui aprovada foi a USP. Meus pais já choraram que eu iria embora. Quando você é aprovada, não dá para ficar escolhendo, mas depois vieram os outros resultados e pude optar por continuar aqui”, declara a estudante.

Ficar perto da família tem a ver com a saúde do pai, que acabou passar por um transplante de rim. Thainá revela, ainda, que acompanhar o pai foi fundamental para a escolha da medicina como carreira. “Fiz parte de todo o tratamento do meu pai. Foram 41 dias visitando o hospital e conhecendo todo procedimento de hemodiálise e tudo mais. Acho que meu pai foi a cereja do bolo para eu desejar seguir na medicina”, diz. Sobre a especialidade que pretende seguir, ainda há dúvidas. “Sempre soube que gostaria de fazer algo com crianças, então meu objetivo é seguir na pediatria ou algo relacionado aos transplantes”, conclui.