O longa, ganhador do prêmio da crítica da 24ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, trata na essência do sofrimento do migrante de forma original e lírica.
A história é narrada por um homem, mas do ponto de vista de um vira-lata na Mongólia. Não há diálogos. É inverno e o cenário é árido. Baasar, o cão, morre no início do filme, abatido a tiros por um matador contratado pelo governo para combater a superpopulação canina. Os mongóis, apesar das epidemias propagadas pelos cães, temem exterminá-los por acreditar que os animais reencarnam como homens.
Após a morte, o espectador acompanha a viagem do espírito canino. É feito um retrospecto no aguardo da reencarnação. A fábula mongol remete a uma angustiante realidade do país: a miséria na cidade agravada pelo êxodo rural. Baasar teve momentos felizes em sua curta vida de cão pastor. Vivia no campo e tinha um dono que o afagava.
Quando a família teve de vender o rebanho de cabras, ele se viu abandonado nas geladas estepes e migrou para a cidade. Lá, como muitos filhos do êxodo, ele conhece a solidão, a indiferença, a fome e a morte.
Como na vida real, não há final feliz. Um delicado número de contorcionismo encerra o filme.
Peter Brosens, 29 anos, e Dorjkhandyn Turmunkh, 41, dividem a direção. O primeiro é um geógrafo belga dono de uma produtora independente. Turmunkh é mongol, jornalista e escreveu, produziu e dirigiu o longa Tears of Lama (1992).
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