Cerca de 9 mil alunos adultos do Grande ABC conseguiram neste ano importante conquista: para eles, as letras não são mais um mero conjunto de sinais. Passaram a ter um significado e agora formam palavras e frases. Todos participaram dos cursos de EJA (Educação para Jovens e Adultos) oferecidos pelas prefeituras de Santo André, São Bernardo e Diadema, além das aulas ministradas pelo Mova (Movimento de Alfabetização).

A cidade que mais teve alunos matriculados no EJA em 2010 foi Diadema, com 3.044. Destes, 954 cursaram o segmento I (de 1ª a 4ª séries) e 2.090 no II (de 5ª a 8ª). Na sequência vem Santo André, que atendeu 1.456 pessoas no primeiro nível e 1.200 no segundo.

Já São Bernardo recebeu 1.400 alunos nos cursos para jovens e adultos, sendo cerca de 910 no primeiro nível e 490 no seguinte. As prefeituras de São Caetano, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não informaram quantos alunos participaram dos programas.

Outro curso relevante no combate ao analfabetismo adulto na região é o Mova, que neste ano formou aproximadamente 1.680 pessoas no Grande ABC, sendo 928 em Diadema, 602 em São Bernardo e 150 nas demais cidades.

"A alfabetização representa uma nova perspectiva de vida, a assinatura de um documento, a conquista de novas possibilidades", considera a coordenadora do Mova em São Bernardo, Estela Fidélis Rodrigues. Segundo ela, o número de adultos analfabetos no município gira em torno de 40 mil.

EVASÃO - A secretária de Educação de São Bernardo, Cleuza Repulho, avalia que diminuir as desistências é o principal desafio no ensino básico para pessoas com idade mais avançada. Cleuza, que é mestre em EJA, entende que os adultos tendem a se sentir envergonhados ao esbarrarem em alguma dificuldade de aprendizado.

"Apenas uma pequena parte desiste porque arrumou emprego ou outra atividade no mesmo horário em que ocorrem as aulas. Grande parte que desiste é por conta da dificuldade e vergonha. Há um certo preconceito neste sentido", explica a secretária de Educação.

Cleuza Repulho conta que uma das saídas encontradas pela Prefeitura para diminuir a evasão é a junção de cursos profissionalizantes no EJA. "Voltar para a escola quando a gente já é adulta é muito mais difícil. Se não atrelar isso a alguma coisa que dê mais sentido ao dia a dia, fica mais difícil atrair as pessoas."

A secretária de Educação revela que cerca de 70% dos alunos do EJA no município participam de alguma atividade profissionalizante. Em média, cada segmento dura um ano.

Aos 62 anos, aposentado entra pela 1ª vez em escola

O aposentado Antonio Camilo de Paiva, 62 anos, nasceu em Guaraciaba do Norte, no interior do Ceará. Seu Antonio, como é conhecido, veio para São Paulo aos 20 anos para buscar uma vida melhor. Trabalhou na construção civil e na indústria metalúrgica, mas sempre carregando o incômodo rótulo de analfabeto. "Cresci na roça, nunca tinha entrado em uma escola", lamenta.

Depois de 40 anos de trabalho sem saber ler nem escrever, foi no ano passado, quando parou de trabalhar, que seu Antonio decidir recuperar o tempo perdido. Ele se matriculou no curso de EJA segmento I da Prefeitura de São Bernardo. "Resolvi aproveitar meu tempo livre com o conhecimento."

O analfabetismo já prejudicou seu Antonio, quando assinou um contrato de compra de apartamento sem ter lido o documento. "Depois de alguns anos pagando, as prestações aumentaram muito e eu não conseguia mais pagar", conta. O aumento no valor da parcela estava previsto em contrato.

O novo estudante considera que a alfabetização para adultos é vista com preconceito, mesmo entre pessoas que não sabem ler e escrever. "Outro dia indiquei o curso para um amigo, que me esnobou. Ele me disse: ‘Estudar para que, se já sou velho?'"

As críticas, no entanto, não desanimam seu Antonio. Ele garantiu que, quando tiver netos, irá incentivá-los a se dedicar aos estudos. "Para mim é um orgulho saber ler e escrever. Prefiro morrer sabido." O aposentado já fez matrícula para o próximo segmento do curso.