Ele procura imitar o timbre vocal, o figurino e os trejeitos do cantor Tim Maia (1942-1998). Mas, ao contrário do cantor, que costumava faltar às apresentações, seu sósia, Charles Maia, promete comparecer ao show marcado para hoje, às 23h, no Bar Quintal, em São Bernardo.

O artista – que representou Tim no especial Por Toda a Minha Vida, exibido pela TV Globo –, deve interpretar sucessos do ‘síndico’ como Do Leme ao Pontal e Gostava Tanto de Você. No palco, será acompanhado por Maurício Monteiro (teclados), Paulinho (guitarra), Ernesto (baixo), Beto (percussão) e Vladimir Cardoso (baterista). Os ingressos custam R$ 10.

Além do aspecto físico e da voz grave, que o credenciaram para participar do programa em homenagem ao lendário intérprete, Charles têm em comum com seu ídolo a simpatia e o bom humor.

Invariavelmente, suas frases terminam com uma gostosa gargalhada. “Tenho 50 anos, quase 51. Estou partindo para uma boa idéia”, afirma Charles, ao fazer um trocadilho com o nome de uma conhecida marca de cachaça.

O contato de Charles com a obra de Tim começou muito antes de ele vencer um concurso de sósias promovido em 1998 por um programa de TV. Nascido Carlos José da Silva, na cidade de Caruaru, interior de Pernambuco, ele repetiu o trajeto de milhões de nordestinos.

Em 1971, migrou para São Paulo, em busca de trabalho e melhores condições de vida. Para conseguir se sustentar, trabalhou como office-boy, ajudante de serralheiro e chef de cozinha. Por intermédio do irmão, deslumbrou-se com o primeiro disco do cantor, que continha pérolas da soul music brasuca como Azul da Cor do Mar, Coroné Antônio Bento e Primavera.

“Tinha uma seleção de músicas lindas e ele usava aquele cabelo black, muito legal”, comenta Charles. Aos 30 anos e 137 kg, Charles começou a ser comparado com o cantor. “Nessa época eu era bem gordão mesmo. O pessoal ficava me chamando de Tim”, relembra, aos risos.

Há dez anos, a semelhança com o ícone da MPB virou sua fonte de renda. “Tinha um bar em São Paulo e eu estava praticamente falido. Ganhei R$ 500 no concurso de sósias e consegui botar minhas dívidas em dia e pagar meu aluguel”, conta com orgulho.

O sósia de Tim foi selecionado para interpretar o ídolo no programa de TV, depois de ter sido aprovado em um teste que contou com a supervisão da última namorada do cantor, Adriana Silva.

“Foi um trabalho maravilhoso, mas tive um pouco de dificuldade para atuar porque tinha de falar em ‘carioquês’. Estou há trinta e seis anos em São Paulo e ainda tenho sotaque nordestino forte.”

Segundo Charles, uma das cenas mais marcantes que gravou foi a do último show do artista, em que Tim sentiu os primeiros sintomas da infecção generalizada que o matou.

“O pessoal da Globo tinha a imagem dele no palco, passando mal, mas não tinha as imagens dele nas coxias, que foram as que eu gravei”.

Além de ser pontual nos shows, Charles garante não cometer os excessos que caracterizaram a vida do ‘síndico’. “Quando comecei, tinha mania de achar que era o Tim. Fiz um programa de TV com o filho dele, o Léo Maia, que me perguntou se eu gostava de ‘tomar umas’. Falei que gostava de beber duas ou três doses de uísque antes dos shows. Ele me disse: ‘Pelo amor de Deus, não faça isso. Meu pai começou assim e terminou daquele jeito’. Hoje, consigo fazer meus shows totalmente de cara limpa”, revela.

Ainda de acordo com o sósia, a solidão é um dos fatores que contribuem para o uso de entorpecentes pelos artistas.

“Eles se envolvem quando não têm Deus no coração. Depois que me apresento para 10 mil pessoas, me preparo espiritualmente, porque minha energia foi sugada pelas pessoas. Ponho meu joelho no chão e vou buscar Deus. O Tim não teve em que se agarrar e foi procurar no álcool e nas drogas.”