O show deve - e vai - continuar. É para que a sensação de medo não vença a verossimilhança. Pequena Falha no Sistema de Segurança poderia ser uma manchete sobre a situação vivida pela ELT (Escola Livre de Teatro de Santo André) na quinta-feira, véspera do aniversário de 15 anos do início de suas atividades, mas tornou-se um título premonitório. É o nome da nova peça, que será apresentada nos dias 16 e 17, e 23 e 24, dentro da Mostra de Processos da escola, evento que começa neste sábado e vai até dia 24, com entrada franca ou doação de um agasalho. O arrombamento seguido de saque e atos de vandalismo do Teatro Conchita de Moraes, sede da ELT, no bairro Santa Terezinha, na madrugada de quinta-feira, não alterou a programação.

O que restou deste ato de violência, para alunos e professores, foi a "dimensão assustadora da perda" e um pedido encarecido: "A ELT precisa ser vista com cuidado". O Conchita não tem vigilância diurna ou noturna. "Este problema persiste há algum tempo. Nós ficamos cuidando de nós. A situação ficou dramática, frágil. Não adianta só relocar equipamentos roubados. É preciso ter segurança e condições de trabalho", diz Antonio Rogério Toscano, coordenador da ELT.

O espetáculo E.L.Circo, realizado pelo Núcleo de Montagem Circense da ELT, prorrogou sua temporada no Parque Prefeito Celso Daniel durante este mês, com entrada franca, e também integra a Mostra de Processos. Até dia 24, alunos-aprendizes mostram ao público o andamento criativo dos projetos em execução, professores promovem aulas abertas e workshops, e acontecem fóruns de discussões sobre pedagogia teatral, modos de produção e pesquisas.

A Mostra de Processos é o momento em que a escola se mostra por dentro dando ao público a perspectiva de olhar de dentro também. No caso do Conchita, a tal impressão por dentro estará aberta a partir da próxima terça-feira (dia 5), quando começam na sede da ELT as aulas abertas e encontros com os núcleos de pesquisa.

No dia 16, estréia uma pesquisa que tem começo e meio, mas pode ter o fim alterado. O Núcleo de Teatro Popular Urbano, orientado por Claudia Schapira, Ulisses Bourdon, Roberta Estrela D'Alva e Ana Roxo, apresenta Pequena Falha no Sistema de Segurança, livre adaptação de Pequenas Infrações, de Gregório Bacic, e com base em pesquisa do grupo sobre segurança em condomínios fechados.

Na história inicial, uma família monta um arsenal de segurança. Pai, mãe, três filhos, seu avô e um vigia convivem fechados em um ambiente onde ninguém sai, ninguém entra, e todos têm um lado podre que ninguém revela. Ana Roxo recebeu a notícia do furto na sede da ELT pelo Diário. "Ainda faltam algumas coisas para concluir. Vamos tentar colocar algo do roubo na peça", afirma, ainda assombrada com o fato, mas dentro do espírito "o show deve continuar".