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Goleiro busca reviravolta após escolhas erradas
Por Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
06/02/2012 | 07:30
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Orlando Filho/DGABC


Após defender três times do Grande ABC, de repente pintou o Real Madrid. Este foi o caminho trilhado pelo goleiro Alex Balbino, 23 anos, que por conta de escolhas erradas e da ganância de pessoas que se diziam amigas, não trilhou caminho no clube merengue e atualmente está no futebol sul-mato-grossense, com proposta para atuar no Paulista da Segunda Divisão pelo Fernandópolis. E, nos momentos em que não está em campo, segue a carreira de modelo, mesmo tendo muitas vezes que escolher entre uma ou outra.

Sem dúvida a experiência vivida após passar por Santo André, Mauaense e São Bernardo, nas três semanas em que ficou na capital espanhola, valeu para toda a vida. Tanto positiva quanto negativamente, afinal como o próprio jogador admite, a pretensão dos empresários que intermediaram sua ida ao Real Madrid prejudicaram o negócio.

"(O problema foi) Ganância pelo dinheiro. Acabou o período de avaliações, quando tive que passar por três preparadores de goleiros e pelo chefe geral da posição, que só observa e manda, recebi ligação do Paco de Gracia (diretor de captação do Real) falando que não sabia quem era dono do meu passe, porque três pessoas já haviam se apresentado dizendo que o negócio era de responsabilidade deles", contou Alex. "Quando retornei ao Brasil esperei, esperei e esperei e cheguei à conclusão de que a ganância pelo dinheiro destruiu um sonho. A gente batalha tanto dentro de campo para fora dele perder uma oportunidade desta", lamentou.

Segundo o goleiro, em determinado momento uma dúzia de empresários estava respondendo por ele, sem seu consentimento. "Uma pizza tem oito pedaços, imagina 12 pessoas tomando conta de uma só. Foi falta de responsabilidade da parte deles. Quando se mexe com o sonho de um atleta, tem de imaginar que mexe também com uma família, com amigos, de pessoas que acreditam no potencial. E ali quase foi o fim da minha carreira."

E Alex realmente pensou em pôr fim naquilo que mais gosta de fazer: jogar futebol. "No momento em que vi todos que me davam condições de continuar treinando virarem as costas porque o negócio não daria mais dinheiro para eles e que já não compensava investir, tive de me fechar, esperar alguma coisa, enquanto familiares e amigos iam atrás de oportunidades para mim."

Foi aí que pintaram oportunidades para o goleiro realizar trabalhos diante das lentes fotográficas. Mas com um porém: "Trabalhar como modelo é escolha. A agência deixou claro que terei de escolher o futebol ou os compromissos dela, porque conciliar os dois não dará certo", concluiu.

 

Ramalhão, Mauaense e Tigre pelo caminho

Alex tem oito clubes (sem contar o Real Madrid) no currículo. Três deles no Grande ABC, pelos quais o goleiro mostra gratidão. Tem motivo diferente para gostar de cada um deles. Um por um, o jogador descreveu a importância dos times na carreira. "Metade da minha vida foi no Grande ABC. O primeiro clube que abriu oportunidade para fazer teste, inclusive o único da minha vida, foi o Santo André, onde pude ver o que era o futebol", relembrou.

Já o Mauaense serviu como vitrine. "Em Mauá foi uma experiência muito grande, porque pude disputar o Paulista (sub-17) e em poucos jogos subir para o profissional, mesmo com apenas 16 anos."

O mais marcante, porém, foi o Tigre, pelo qual disputou a Copa São Paulo de Juniores e depois se profissionalizou. "O São Bernardo foi tudo para eu acreditar no meu potencial. Me demonstrou uma coisa no futebol, que além do profissionalismo, tem como formar uma família", exaltou Alex.

 

CLANDESTINO

Alex passou uma temporada no Santa Cruz, pelo qual atuou em 99% dos jogos da equipe de juniores (como capitão) e integrou o banco de reservas no profissional. Mas para chegar até lá teve de passar por aventura. "Tinha passagem comprada para mim e mais três atletas. Falaram para nos encontrarmos na estação do Brás, porque lá teria ônibus para nos levar. Pensei que fosse até o aeroporto, mas quando vi era um clandestino. As pessoas entrando, aquele sofrimento, mas dali não poderia voltar, porque minha mãe só descobriu que era clandestino quando retornei e tive coragem de contar", relembrou o goleiro.

"Não tem como ficar com raiva do empresário, porque comprou a passagem do jeito que dava. A condição dele era aquela. Ainda bem que vencemos, porque enfrentar quatro dias de ônibus sem ser aprovado nem nada ia ser complicado", concluiu Alex.

 

Estilo de jogo rende comparação a Casillas

A chegada ao Real Madrid ocorreu por intermédio de olheiros que viram Alex em ação em torneio caça-talentos para jovens na Espanha. E, segundo ele, um dos motivos que fizeram despertar interesse dos merengues foi sua característica de jogo, que lhe rendeu até comparações.

"Quando foram me buscar no campeonato me passaram que eu tinha estilo do goleiro europeu, ágil, que joga com os pés, boa reposição. E lá isso é importante, porque o futebol é muito dinâmico. Ser comparado ao Casillas, um ídolo, goleiro que tem contrato vitalício com clube como o Real Madrid é orgulho para qualquer jogador."

Apesar de ter apenas 22 anos, com tantas experiências adquiridas, Alex chegou a algumas definições em relação à carreira. "A grande conclusão é que na vida nada é impossível. Se com muito trabalho já consegui chegar onde nunca imaginei, acho que trabalhando bastante novamente e com novo ânimo, vou buscar objetivo maior agora."

Nesta temporada, ele espera oportunidade para se reerguer. "Busco para 2012 o acesso, valorizar meu trabalho, ser reconhecido novamente no futebol paulista e também no Nordeste, por onde passei, e quem sabe um dia voltar lá para fora", comentou.

Hoje, pela primeira vez Alex compartilha sua história para, quem sabe, se tornar exemplo para jovens atletas não caírem em promessas de empresários "Fui muito bem recebido, mais ainda por ser brasileiro. Nada foi perdido, trabalhei, conquistei, tentei me desdobrar em língua que desconhecia, fui aprovado, admirado, recebi elogios... Por muito tempo guardei essa história porque o negócio poderia melar, mas hoje é prazer poder compartilhar e dar exemplo para muita gente, porque nada é impossível na vida", encerrou.

 




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