Setecidades Titulo Segurança
Foco da PM será combate aos roubos

Coronel Marcelo Cortez Ramos de Paula, 46 anos,
assumiu CPA/M6 no lugar da coronel Cláudia Rigon

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
26/01/2015 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC


A PM (Polícia Militar) do Grande ABC tem novo comandante desde terça-feira. O coronel Marcelo Cortez Ramos de Paula, 46 anos, assumiu o CPA/M6 (Comando de Policiamento de Área Metropolitano) no lugar da coronel Cláudia Rigon, que deixou o posto após oito meses para assumir a diretoria de pessoal da corporação no Estado.

Em entrevista exclusiva ao Diário, o coronel destaca que uma das prioridades de sua gestão será o trabalho de continuidade às políticas voltadas à diminuição dos roubos. De acordo com último levantamento da SSP (Secretaria de Segurança Pública), divulgado na sexta-feira, o indicador teve alta de 33,81% entre os anos de 2013 e 2014. Em contrapartida, houve queda no número de homicídios, furto e roubo de veículos, de 9,7%, 10,73% e 4,72%, respectivamente.

Nos primeiros 30 dias de atuação, coronel Cortez pretende estabelecer contato com seus colaboradores externos e também com as autoridades das sete cidades. Isso porque considera a capacidade de articulação de um líder fator primordial para o sucesso em sua função.

Ao pregar a continuidade do trabalho da colega de profissão e de formatura no curso superior de formação de coronéis, o comandante destaca que não pretende fazer nenhuma mudança nas equipes por discordar desse tipo de política, mas que pretende desenvolver atuação mais intensa junto à população no sentido de aproximar polícia e sociedade para a discussão dos problemas e promoção da segurança pública.

O comandante ressaltou ainda que todos os policiais militares das companhias do Grande ABC são contemplados atualmente com a bonificação oferecida pelo programa da SSP São Paulo Contra o Crime. O bônus, que varia entre R$ 900 e R$ 3.000, é dado aos agentes da região que conseguem reduzir os índices criminais.

O senhor já consegue estabelecer prioridades para sua gestão?

A prioridade do ponto de vista policial e em função dos índices é dar continuidade às políticas que o Estado e a Polícia Militar de forma geral vêm desenvolvendo para diminuir os números de roubos, o indicador criminal que vem apresentando maior resiliência dentre todos. Do ponto de vista do início do meu trabalho, considero que um fator primordial para o sucesso de qualquer comandante é ser um grande articulador. Então, a minha prioridade agora e onde eu mais vou investir meu tempo nestes primeiros 30 dias é no estabelecimento de contato com meus colaboradores internos e com as autoridades locais. Porque parto do princípio que uma grande tarefa nossa é a de articulação das forças. Articular os batalhões com as autoridades locais e o próprio comando da região com os demais. Isso tudo exige conhecer as pessoas além de um simples telefonema. Então, a maior parte do meu tempo vai ser investida nessa atividade de contato e conhecimento dos parceiros.

 

Em relação aos índices criminais, como o senhor avalia o cenário?

Só posso avaliar positivamente. Na verdade não esperava coisa adversa por conhecer a coronel Cláudia (Rigon) há muito tempo e saber da competência dela, assim como o coronel Mauro (Ricciarelli), que a antecedeu. Numa clara demonstração de que as pessoas mudam, mas as políticas continuam. A equipe aqui é muito boa. Conheço todos os comandantes de batalhão, embora não tenha trabalhado com nenhum diretamente, e sei da capacidade deles. Vamos dar continuidade a este trabalho. Estamos herdando o comando com índices decrescentes. Isso nos anima muito e também dá tranquilidade para que possamos desenvolver trabalhos um pouco mais profundos e garantir essa continuidade de queda. Acho que o grande desafio de qualquer comandante é manter o que está bom.

 

De que forma isso pode ser feito?

Isso pode e vem sendo feito mediante trabalho mais intenso voltado para a organização social. Existe grande equívoco em associar a insegurança à falha no sistema de segurança. E geralmente as pessoas leem por sistema de segurança exclusivamente a polícia, mas o sistema envolve a própria sociedade. O nosso grande desafio, no primeiro momento, é fazer a sociedade ver essa realidade e envolvê-la num trabalho de buscar sua própria segurança. Consciente de que ao fazê-lo ela não está executando o trabalho da polícia, mas sim o seu próprio trabalho.

Então a sociedade tem parcela de responsabilidade no processo?

Costumo fazer uma associação entre Segurança e Saúde. Essas noções de segurança primária, secundária e terciária vem da Saúde pública. Na Saúde, prevenção primária é adotar hábitos de higiene, como escovar os dentes, cortar as unhas, tomar banho, alimentar-se corretamente, enfim. São cuidados que se voltam para a promoção da saúde própria. É óbvio que poderá haver situações em que esses cuidados não serão suficientes e que as pessoas terão de procurar órgãos que cuidam da prevenção secundária e terciária. O mesmo se passa na Segurança. Nós temos de ter hábitos, condutas, práticas de prevenção primária. Eles existem, apenas são ‘esquecidos’ muitas vezes porque, repito, as pessoas pensam que a segurança é papel apenas da polícia. Isso cria um grande problema porque eu coloco de um lado sociedade e de outro a corporação. E, ao invés de eles colaborarem uns com os outros, acabam se digladiando. Isso tudo só faz a vontade dos que são os verdadeiros oponentes de ambos, que são os infratores da lei. O objetivo aí, para proporcionar essa queda mais acentuada e permanente da criminalidade, é promovermos maior inserção da sociedade na discussão dos problemas.

Isso pode ser considerado um desafio?

Não desconhecemos os desafios porque estamos em uma civilização que demanda muito de todas as pessoas. O cidadão não conhece mais seus vizinhos, não frequenta mais reuniões de condomínio e aí fica muito difícil em um cenário como esse você restabelecer esse trabalho de prevenção primária.

Quais outros desafios o senhor acredita ter pela frente?

Óbvio que vou falar com base num conhecimento ainda muito superficial, mas acho que o desafio de qualquer comandante de Comando de Policiamento de Área Metropolitano e também do Interior é promover a integração entre as prefeituras, porque são comandos que envolvem várias cidades. É diferente do local de onde vim, porque eu trabalhava com bairros, com distritos. Aqui não. Aqui nós temos prefeituras diferentes, cada uma com autonomia e políticas próprias. Acho que o grande desafio, falando aí do aspecto externo, é promover a integração de toda essa organização política e social em torno de uma meta comum que é a segurança local.

E em relação a metas? Alguma em específico?

Nossas metas iniciais são as definidas pelo comando anterior. Só ousaremos modificar algo a partir do momento em que tivermos finalizado o diagnóstico que qualquer comandante recém-chegado faz. É um diagnóstico no sentido de conhecer a unidade subordinada e de se apoderar da compreensão da realidade com seus próprios olhos, porque cada um de nós enxerga as coisas de maneira diversa. O comandante que chega tem que fazer um diagnóstico porque é isso que vai basear todo o seu trabalho futuro. Eu não poderia estabelecer metas diferentes sem conhecer a realidade pelos meus próprios olhos. E os comandantes sempre refazem esses diagnósticos porque a gente trabalha com uma realidade dinâmica.

O senhor não pretende promover nenhum tipo de mudança inicialmente?

A equipe continua. Não temos ideia nenhuma pré-concebida de mudar quem quer que seja. Eu particularmente não trabalho com esse modelo de gestão, de trazer equipes novas. Isso causa trauma para o local de onde elas saem e para onde elas vêm. Não admiro esse tipo de política, embora entenda quem trabalhe dessa forma.

Qual a sua relação com o Grande ABC? O senhor conhece a região?

Moro na região, embora não seja nascido aqui. Minha história no Grande ABC começou frequentando a faculdade de Direito. Casei e mudei para cá. E aqui permaneço até hoje. Nos últimos dois a três anos, já me animava com a ideia de mudar para a Capital porque a carreira foi se desenvolvendo por lá e, com o passar do tempo, a possibilidade de ficar por lá foi aumentando. Mas acho que morar aqui, felizmente, me trouxe para cá profissionalmente.

O senhor está vindo do 28º Batalhão, na Zona Leste. Sua carreira sempre se deu no policiamento ostensivo?

Tive uma carreira bastante rica, considero. Comecei no policiamento ostensivo como aspirante e segundo-tenente, no 3º Batalhão Metropolitano, na Zona Sul da Capital. Depois de cerca de cinco anos passei para o policiamento de trânsito, onde fiquei por dez anos até que o policiamento de trânsito fosse extinto. Fui para o Estado maior da Polícia Militar, fiquei cerca de sete a oito anos na 3ª Sessão, que cuida da parte de doutrina, de organização de operações. Retornei para o trânsito, fui diretor de fiscalização do Detran, subcomandante do 1º Batalhão de Trânsito e comandante do 2º. Retornei para o policiamento ostensivo comandando o 28º Batalhão, que foi a última unidade antes de vir para cá.

Alguma experiência do posto antigo pode ser aproveitada para a região?

A sede do Batalhão fica na Zona Leste da Capital, área que congrega Cidade Tiradentes, Guaianazes, Parque do Carmo e um pedaço do Jardim José Bonifácio. Foi um trabalho gratificante, apesar das imensas dificuldades. Hoje estamos também com índices em queda, recebendo as bonificações do Programa São Paulo Contra o Crime. Porque ali temos imensas áreas em que as pessoas ainda não confiam na Polícia Militar e, pior, a veem como inimiga. Isso dificulta o trabalho. Você vive situações nas quais o policial vai atender as ocorrências e a viatura é apedrejada. Começamos um trabalho longo, daí a importância da sequência das equipes, de desarmarem o sentimento de resistência para haver integração, sem a qual a gente não avança.

Como o senhor avalia o sentimento de insegurança pública na sociedade?

Hoje, com a globalização, a sensação de insegurança acaba sendo alimentada por fatores estranhos à realidade local. A pessoa assiste na televisão um atentado na França e o subconsciente acaba atuando na construção da ideia de insegurança. É promovida a associação entre informações que acabam alimentando um medo que não corresponde à realidade e se constrói um cenário.




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