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Refém da tecnologia

Estão desaparecendo as utilíssimas placas com os nomes das ruas

Rodolfo de Souza
26/10/2014 | 07:00
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Estão desaparecendo as utilíssimas placas com os nomes das ruas, nos bairros das cidades. Antes os moradores, principalmente das esquinas, possuíam aquelas azuis, consultadas todas as vezes em que alguém, vindo de outras paragens, necessitava saber de sua localização, se estava no rumo certo, se havia encontrado o endereço, se um tal trecho da via pertencia à mesma ou se já teria outro nome, enfim, uma série de dúvidas que só o letreiro com a marca registrada do logradouro era capaz de elucidar.

Depois das casas, a identidade desses lugares migrou para os postes. Somente alguns deles que as prefeituras utilizaram para, com uma fita metálica, fixar bem firme a plaquinha que não demorava a desaparecer ou desbotar, para infortúnio do visitante.

Nos dias de hoje, em que as sociedades se valem de um sem fim de aparelhos que a tecnologia inventa e aperfeiçoa rápida e incansavelmente, soa até nostálgico e antiquado pensar nelas, sentir sua falta. Tal como máquina de escrever e disco de vinil, parece que caíram em desuso. A bem da verdade que aqueles foram extintos em decorrência da criação de aparatos tecnológicos que os substituíram com alguma vantagem. Com relação à placa, no entanto, não surgiu objeto que a tornasse obsoleta. Daí a sua utilidade permanecer tão prática.

Fonte de inspiração para mais uma crônica, foi justamente a dificuldade que encontrei, uma noite destas, para me localizar e encontrar domicílio em região desconhecida. Um mato sem cachorro.

Ainda tive questionada a minha inteligência quando fui cobrado pelo motivo elementar de não ter levado GPS. Perplexo, constatei, então, que agora também dependo da máquina para encontrar endereços, assim como dependemos dela para um número cada vez maior de atividades diárias. Haverá um tempo em que teremos atrofiadas algumas partes do corpo, começando pelos membros, consequência desastrosa do uso indiscriminado de equipamentos, os mais variados, que nos transportarão para qualquer canto e tudo farão para o conforto de mãos e braços. Não será necessário esforço físico e mental para mais nada nesta vida, por mais ínfimo que seja. Os cérebros de alguns até já ensaiam diminuição considerável em seu ritmo, anunciando talvez a apoteose da preguiça da qual se orgulham as gerações atuais.

No final das contas, profetisa este cronista que de profeta nada tem, mas que aprendeu a olhar este mundo com a apreensão que lhe é devida, que em breve este será dominado por circuitos e chips, como na ficção. Nem é bom pensar! Até as academias terão aparelhos que malharão para as pessoas.

Assim, temeroso das consequências, procuro não me deixar seduzir pela facilidade. Este texto, inclusive, escrevo-o à mão, munido da boa e velha caneta que não deixa de ser produto da tecnologia, mas que ainda induz o ser humano ao movimento. Em seguida, coloco com muito jeito as palavras no computador, o que, graças a Deus, ainda faço por meio da digitação, exercício vital para uma determinada, embora pequena, parte do corpo.

E, devidamente exercitado no meu ofício de escrever e reclamar, sigo na expectativa de que a modernidade se compadeça de quem procura endereço, e invente moda de se colocar os nomes das ruas novamente nas casas. Apelo para a moda, uma vez que costuma ditar regras de conduta numa sociedade.

Posso também esquecer esta balela antiquada, me render aos novos tempos e admitir que é mesmo difícil viver sem GPS. Pronto.

Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André. É professor e autor do blog cafeecronicas.wordpress.com

E-mail para esta coluna: souza.rodolfo@hotmail.com . 




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