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ONG ganha
prêmio internacional

Rede Cultural Beija Flor, de Diadema, é eleita
entre 1.000 projetos sociais do mundo inteiro

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
26/10/2014 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


A ONG (organização não-governamental) Rede Cultural Beija-Flor, de Diadema, ganhou o prêmio World of Children Award (Prêmio Mundo da Criança) 2014, na categoria Prêmio Humanitário. A entidade da região foi eleita entre outras 1.000 candidatas de 100 países do globo. A honraria é considerada o Nobel da Assistência Social no mundo.

O presidente da ONG, Gregory John Smith, participará da cerimônia de entrega do reconhecimento no dia 6 de novembro, em Nova Iorque. “Dos 60 ganhadores dos últimos 17 anos, todos têm a mesma característica: não correm do fogo, mas sim para dentro dele. Enfrentamos dificuldades e problemas. Para nós, é um grande reconhecimento, porque o nosso trabalho chamou a atenção de um prêmio mundial.”

Smith é norueguês e chegou ao Brasil em 1992 para ajudar meninos de rua. Ele largou a confortável vida de empresário que levava no país europeu, vendeu todos os bens e embarcou rumo a terras tupiniquins com o sonho de resgatar crianças da miséria e das drogas. “Achei que depois de tomar a decisão de ir para o Brasil, ia ser fácil, mas quando cheguei, vi que era muito difícil. Só mesmo a convivência nas ruas prepara você para enfrentar as adversidades.”

Dos 55 países que o fundador da ONG havia conhecido até então, o Brasil era o único que não tinha visitado. Além disso, o filme Pixote, a Lei do Mais Fraco, lançado em 1980 pelo diretor Hector Babenco, também teve um papel importante na decisão. “Assisti a esse filme maravilhoso, que me tocou bastante, mas não sabia que a história do Pixote era de Diadema. A escolha da cidade foi totalmente por acaso, porque aqui havia um Clube Escandinavo e acabei ficando. Nesse meio tempo, me inteirei das dificuldades enfrentadas pelos meninos de rua de Diadema. A chácara que ocupamos hoje foi doada por um empresário que eu conhecia e acabou virando nossa sede”, afirmou, sobre o imóvel localizado no bairro Eldorado.

ATENDIMENTO

A entidade faz parte da KolibriCarf, fundação também criada por Smith e que ajuda a manter o projeto por meio de doações.

Logo que chegou ao País, Smith adotou 15 meninos de rua. Atualmente, os quatro núcleos mantidos pela Rede Cultural Beija-Flor, sendo três em Diadema e um em Itanhaém, no litoral paulista, realizam cerca de 3.000 atendimentos por ano. “É necessário que a sociedade esteja preparada para receber os meninos de volta. Hoje atendemos todas as crianças da comunidade porque percebi que é preciso fazer o trabalho de prevenção para que essas crianças não cheguem às drogas,”

Jairo Ferreira de Souza, 14 anos, frequenta as aulas de capoeira e nutrição há um ano. “Conhecia o projeto há muito tempo, mas comecei mesmo quando meu primo me falou que era legal. Acho que é importante estar aqui para ficar longe da criminalidade. A sede é um lugar de liberdade”, afirmou o garoto.

Moradores se reúnem na sede da ONG no Eldorado

Entre os frequentadores da ONG no Eldorado, não tem quem não conheça a Tia. Ordalina Cândida, 68 anos, é parceira do presidente da entidade, Gregory John Smith, desde 1992 e atualmente dá aulas de artes e corte de cabelo.

Quando Smith adotou as 15 crianças de rua, ela foi a única profissional que aceitou cortar o cabelo dos meninos. Hoje, 12 anos depois, mantém-se como uma das principais parceiras do projeto.

“Quando comecei a dar aula de arte para as crianças, elas não entendiam muito o que estava sendo retratado. Então, comecei a pintar favelas, e elas começaram a refletir sobre o seu espaço”, explicou.

Várias das telas de Ordalina foram pintadas nas paredes dos barracos, cedidos pelos próprios moradores. “Nesse meio tempo tentava trazer essas donas de casa para a ONG, doava roupas, ensinava crochê, conversava. Tentava tirá-las da rotina e oferecer outras atividades.”

Tia e mais dez crianças da ONG tiveram a oportunidade de conhecer a realidade das Filipinas, que também foi retratada nas telas dos atendidos pela entidade. Entre os viajantes estão Maurício Borges Vaz, 13, que faz aula de grafite. “Adorei ter ido até lá. Foi ótimo conhecer culturas diferentes e aprender sobre elas, além de conhecer pessoas que não teria a oportunidade se estivesse aqui.”

Ele também não poupa elogios à ONG. “Foi o lugar que mudou a minha vida. Antes eu vivia brincando na rua e não fazia mais nada, mas agora tenho uma nova perspectiva. É a minha segunda família”, afirmou.

Mayara Gabriela Albuquerque, 10, afirma que descobriu a paixão pelo teatro. “Eu vivia fazendo palhaçada e a minha mãe me inscreveu no curso de teatro. Gosto muito mesmo de atuar, é parte de mim”, disse. 

Sem repasses, organização rompe convênio com a Prefeitura

De acordo com o presidente da ONG Beija-Flor, Gregory John Smith, a Prefeitura de Diadema deve R$ 70 mil para várias organizações da cidade há cerca de dois anos. Por esse motivo, a entidade irá romper o convênio com a administração municipal, que atendia crianças com oficinas diretamente nas escolas da cidade.

O responsável pelo repasse da verba arrecadada por meio de doações, incentivos fiscais, entre outros, é o Fumcad (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente de Diadema). “Quando questionamos, ouvimos dos próprios integrantes do Fumcad que ninguém sabia onde estava esse dinheiro. Como o montante está parado há tantos anos e ninguém está questionando nem exigindo essa verba? Vários projetos sociais foram interrompidos por isso e ninguém vai fazer nada?”, questionou Smith.

Sem o valor, a ONG sofreu consequências. “Perdemos apoio de patrocinadores importantes, inclusive internacionais, porque o dinheiro precisava ser emprestado e não consegui devolver muitas vezes.”

A parceria da Beija-Flor com as escolas era mantida desde o ano passado por meio do Programa Cidade na Escola – Mais Educação. “Demos 30 dias de aviso e esse prazo já expirou. Somos responsáveis pelo atendimento de vários alunos nas escolas e, por causa disso, eles serão prejudicados.”

A equipe do Diário questionou a Prefeitura sobre o assunto, mas até o fechamento desta edição, não houve resposta.




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