Economia Titulo Previdência
Privacidade e independência levam idosos a preferir morar sozinhos

De acordo com IBGE, nos últimos 20 anos triplicou contingente da terceira idade que mora sozinha no País

Andréa Ciaffone
Do Diário do Grande ABC
28/01/2014 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC


 Desde que ficou viúva, há 22 anos, Madalena Tayan de Moraes, 68 anos, mora sozinha. E representa uma tendência no Brasil. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), entre 1992 e 2012, o número de idosos que moram sozinhos triplicou. O salto foi de 1,17 milhão no começo da década de 1990 para 3,7 milhões na mais recente medição, de dois anos atrás. Enquanto em duas décadas o contingente da terceira idade cresceu 117%, o dos maiores de 60 que não dividem o teto com mais ninguém aumentou 215%.

No Grande ABC, segundo o IBGE, existem 279.230 com mais de 60 anos, sendo que o número de mulheres supera o de homens em cerca de 20%. “Aqui na região existem condições para que muitos idosos possam morar sozinhos com dignidade”, diz o diretor de políticas sociais da Associação dos Aposentados e Pensionistas do Grande ABC, Luiz Antonio Rodrigues. “Muitos dos aposentados da região foram trabalhadores especializados que tinham salários que lhes permitiram formar patrimônio e também ter benefícios acima do piso. Assim, o idoso organiza suas finanças para poder preservar sua independência e a dignidade de ter a sua dinâmica de vida mantida.”

“Gosto da minha privacidade e acho que não existe solidão para quem mantém uma vida ativa e se relaciona bem com as pessoas”, diz Madalena, que tem habilidade de fazer amigos. Prova disso é que a cachorra Nina, de 2 anos, passa bastante tempo com ela. “Não acho que morar sozinha saia mais caro. Como a gente tem liberdade de planejar os gastos, faz tudo caber no orçamento”, diz a andreense, que atua como voluntária na Pastoral da Criança na Paróquia do Senhor do Bonfim e também dá aulas de pintura na comissão de auxílio fraterno. Em breve deve se mudar para um apartamento no mesmo andar do da sobrinha. “É bom estar bem perto da família, mas é melhor que cada um tenha a sua própria casa.”

Para garantir assistência em caso de emergência, Madalena, que já foi atropelada por uma moto, criou estratégias de socorro com seus vizinhos. Para quem não tem ninguém tão próximo, assinar um serviço de assistência pode ser boa ideia. Pioneiro no Brasil, o Telehelp é um serviço que funciona a partir de uma pulseira com botão de emergência ligado a um telefone viva voz, por meio do qual atendente treinada tem como se comunicar com o idoso e tomar providências para ajudá-lo em caso de acidente. Atualmente, cerca de 150 idosos têm Telehelp na região. “Desenvolvi o sistema a partir da necessidade de saber se estava tudo bem com a minha mãe, que insiste em morar sozinha”, diz o engenheiro e empresário José Carlos de Vasconcellos.

Criada numa casa bem animada, com outros oito irmãos, Adélia Pancilo, 65 anos, de Santo André, foi saber o que é viver só apenas quando seu quarto filho se casou, há seis anos. “Embora eu tivesse a opção de morar com algum dos filhos, eu nunca quis”, diz ela, que admite que quer morar mais perto da única filha. Por isso, pensa em vender a casa onde mora há mais de 40 anos e que tem espaço para pelo menos seis habitantes.

“Quero morar perto, mas não junto”, ressalta. “Tenho minha rotina, faço hidro, passo na casa das amigas para bater papo e não tenho de ter pressa para voltar para casa.”




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