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Shows marcam 50 anos de música de Noca da Portela
Por Do Diário do Grande ABC
06/06/1999 | 14:23
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Sao 50 anos de samba e mais de 300 músicas gravadas. Um dos mais respeitados e politizados compositores da atualidade, Noca da Portela, está no Hipódromo-Up comemorando a data com o terceiro disco-solo, "Samba Verdadeiro", lançado este ano. Ele já fez shows no Rio, convidando amigos para dividir o palco, e agora marca datas em Sao Paulo, Belo Horizonte e Vitória.

Nessas cidades, ele pretende convidar compositores locais a participar do espetáculo, em que canta seus grandes sucessos e também as músicas do último disco. "É uma maneira elegante de agradecer a cada cidade o carinho que eu venho recebendo nestes 50 anos", explica Noca. Com relaçao a Sao Paulo, o cuidado é especial. "Sempre fui muito bem recebido lá, mas fiz poucos shows, talvez por ter pouco contato com os sambistas paulistas."

Os contatos podem ser poucos, mas, com certeza, a sua obra é bastante conhecida, principalmente por causa de seus mais de 30 anos como compositor da Portela, uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio.

No repertório do show, estao músicas do disco, mas também hits gravados por outros cantores. "Todo mundo já cantou músicas minhas, Elizeth Cardoso, Emilinha, Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Alcione, Nara Leao, MPB-4 e Jackson do Pandeiro", enumera Noca, com medo de esquecer alguém. "Só faltam dois, Zeca Pagodinho e Joao Nogueira, mas isso ainda vai ocorrer."

Neste caso, eles vao gravar sambas com a cadência típica da Portela, embalando letras em que a crítica política e social sao o forte. Um exemplo é o partido alto País dos Sem, do penúltimo CD, que as emissoras de rádio ainda nao descobriram, apesar de ser um hit nas rodas de samba cariocas.

O sucesso como compositor nao fez de Noca um homem rico, mas permitiu-lhe abandonar a profissao de tipógrafo (da revista O Cruzeiro e da gráfica da gravadora RCA Victor) e criar com dignidade os filhos que ainda moram com ele na modesta, mas confortável, casa em Engenho de Dentro, onde o maior luxo é a hospitalidade de sua mulher, dona Conceiçao, cozinheira de mao cheia.

"Meu grande hit foi É Preciso muito Amor, gravado até no exterior por Paul Muriat, que me permitiu comprar a casa onde moro", conta Noca. "Mas sei de muita gente que nao consegue viver de samba e tem de completar a renda com outras profissoes." Noca faz parte de um seleto grupo de sambistas de primeira linha, a exemplo de Monarco, Walter Alfaiate, Nelson Sargento e tantos outros bambas com os quais o próprio Paulinho da Viola admite ter adquirido muita experiência. Samba Verdadeiro reúne músicas de letras picantes com críticas relacionadas à questao social, características de Noca que, mesmo sambista, foi do antigo Partidao e se candidatou a verador pelo PSB.

Seu objetivo agora é romper barreiras e mostrar sua obra que mereceu muitos elogios, entre eles os de Albino Pinheiro, de Sérgio Cabral Filho e do crítico de música do Estado, Mauro Dias. "O Noca é fantástico", resume Mauro Dias ao comentar sobre o CD de Noca, que começará a ser distribuído em Sao Paulo.

Só na Portela, sua escola de coraçao e que lhe deu identidade artística, ele fez sete sambas-enredo, entre eles os últimos três, Gosto Que Me Enrosco, Os Olhos da Noite e Minas Gerais. Mas ele nao pretende fazer samba novo para o ano 2000. "Dá muito trabalho fazer samba-enredo e batalhar até ser escolhido", explica o compositor. "Agora estou mais interessado em cuidar do meu disco novo e comemorar direitinho os meus 50 anos de carreira." A Portela certamente vai sentir falta, mas o público vai poder ouvi-lo mais pelo Brasil afora.




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