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Bens duráveis puxam recuperação
Por Niceia de Freitas
Do Diário do Grande ABC
24/10/2004 | 15:15
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As alternativas para alavancar o consumo corrente, considerando o gasto de famílias com produtos de primeira necessidade, são melhorar a renda ou diminuir a incidência de impostos sobre esses itens. A segunda opção promoveria um barateamento e tornaria os produtos mais acessíveis às classes com menor poder aquisitivo. Porém, o segmento da economia que mostra recuperação está ligado ao setor de bens de consumo duráveis (automóveis e eletrodomésticos), que são destinados à exportação ou contam com financiamentos.

Há uma disparidade de crescimento de produção de itens duráveis, não-duráveis e semiduráveis (roupas, medicamentos e bebidas), que foi captada pela Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O primeiro grupo cravou crescimento de 25,96% em agosto ante o mesmo mês do ano passado. Já os produtos dos outros dois grupos cresceram apenas 3,1% pela mesma base de comparação.

O consumo que está aquecido vincula-se aos produtos que dependem de vendas a crédito, têm maior valor agregado e são líderes em crescimento na economia há muito tempo. Essa produção atende não apenas a demanda interna. Também é canalizada para o mercado de exportação.

Necessidade – Um exemplo típico é o da advogada Andrea Fogli Messa, que somente trocou o seu veículo seminovo por um modelo zero quilômetro em função das condições de um plano de financiamento. Ela tinha um Celta 1.0, ano 2000, e trocou por um 1.4 em setembro. O modelo antigo entrou como parte de pagamento, no valor de R$ 13 mil, Andrea acrescentou mais R$ 4 mil e financiou os R$ 7 mil restantes. Andrea disse que foram favoráveis as condições de financiamento proporcionadas pelo Banco GM, com taxas de 0,25% ao mês e parcelamento em 12 vezes. “Queria trocar há algum tempo, porém só agora consegui por causa desse crédito”, afirmou.

O outro segmento, de bens não-duráveis e semiduráveis, se refere a produtos que são fabricados para o mercado. São itens essenciais ao consumo e por isso dependem da recuperação da massa salarial, que esboça uma reação, porém de forma moderada, insuficiente para impulsionar o consumo.

A dinâmica de consumo dos dois grupos é diferente. O setor de não-duráveis e semiduráveis apresenta uma ligeira recuperação. Pela pesquisa do IBGE, o consumo desses produtos cresceu 6,3% em agosto ante o mesmo mês de 2003. Já na comparação de agosto sobre o mês anterior houve a queda de -0,3%. As atividades que puxaram o índice para baixo foram as de carburantes (gasolina e álcool), de -3,2% nos últimos 12 meses (de agosto de 2004 a agosto de 2003 frente aos 12 meses anteriores). Na comparação com o mês anterior, o índice também ficou negativo: -2,7%.

Menos impostos – O economista do Imes (Universidade Municipal de São Caetano) Francisco Funcia destaca dois eixos que sustentam a atividade econômica. A manutenção da retomada do crescimento econômico, que promove o aumento de empregos e a geração de renda, impulsionando o consumo de produtos. E o fator estrutural, o que demanda medidas pontuais que incentivem a atividade econômica, como a redução de impostos.

No entanto, o corte de tributos exige a alteração da estrutura tributária em vigor no país. “Os impostos deveriam ter maior incidência sobre o patrimônio, e não sobre produtos de consumo”, acrescentou Funcia.

Independentemente da renda, a população é obrigada a consumir produtos para subsistência que embutem carga excessiva de impostos. Nos dois últimos anos, um quinto da receita tributária no país foi proveniente de um único imposto, o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).

Em 2003, a carga tributária se concentrou também na Cofins, IPI, PIS-Pasep, CPMF e ISS, impostos que incidem sobre a produção e a circulação de bens e serviços.

Funcia ressaltou que, independentemente da renda, o trabalhador tem a necessidade de consumir artigos de alimentação, higiene, vestuário e calçado. No entanto, boa parte da renda é corroída pela pesada estrutura tributária que incide sobre esses itens, o que resulta em compras de baixo valor.

O cenário apresentado pelo economista ilustra o caso da consumidora Roseli Carmona. Na última sexta-feira, ela procurava um tênis para o filho Pedro, 14 anos. Segundo Roseli, a compra era necessária para o garoto praticar esportes e ir à escola. “Comprar por luxo, nem pensar, só mesmo pela necessidade”, acrescentou. Por conta disso, a opção de Roseli foi por uma marca intermediária – no máximo até R$ 90 –, compatível com a sua renda líquida.

Como Roseli, a dona de casa Renata Campelo comprou tênis para os filhos, o pequeno Leonardo, 1 ano, e Bernardo, 9. “A prioridade são as crianças”, destacou.

O economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Econômico), Júlio Gomes de Almeida, também considera a redução da carga tributária uma alternativa, já que o governo adotou medida semelhante para incentivar investimentos em máquinas e equipamentos, com a redução do IPI.




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