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Vazamento de informação é base para assalto a banco, diz polícia
Por Gabriel Batista
Do Diário do Grande ABC
29/01/2006 | 09:30
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Armas razoáveis na mão, ousadia e grupo capaz de confrontar a polícia. Eis a combinação para se ter um assaltante de bancos, de cargas, de edifícios luxuosos e especialistas em resgate de criminosos. De um lado, uma pessoa com essas características ou ligada à gente desse tipo. Do outro, alguém disposto a vazar informações sigilosas sobre horário e local em que altas cifras serão movimentadas em determinada agência. Quando o primeiro sujeito se encontra com o segundo, há um assalto a banco na praça e dezenas de clientes assustados podem experimentar o fogo cruzado.

O aprimoramento das estratégias de segurança nos bancos resultou no costume de não aglomerar montanhas de dinheiro dentro das agências. Medida essa que empurrou ladrões para outras modalidades do crime, e aliviou a atmosfera tensa comum nos estabelecimentos bancários há 20 anos. De outubro de 2004 a setembro de 2005 ocorreram 26 assaltos a banco na Região Metropolitana (exclui a capital). Dois a cada mês, em média. Em todo o Estado, foram 141 assaltos a bancos no mesmo período. Pouco mais da metade ocorreu na capital.

Embora a polícia considere o roubo em banco uma ação fora de moda, provoca espanto geral a ousadia de criminosos como os que tentaram assaltar a agência do Unibanco no Shopping Metrópole na última segunda-feira. O insucesso da ação acabou no assassinato de dois seguranças e deixou três pessoas feridas – duas delas clientes do shopping.

Apesar da tragédia, a polícia afirma que é mais difícil roubar agências bancárias de shopping do que aquelas com acesso direto para a rua. “Os assaltantes escolhem locais mais vazios e com menos agentes de segurança. Os shoppings contrariam essa regra, porque concentra mais gente e, além da agência, existem os seguranças do próprio shopping”, diz o delegado seccional de São Bernardo, Marco Antonio de Paula Santos. “Hoje os ladrões são mais ousados, se arriscam mais e se preparam para o combate.”

Os ladrões tidos como secundários, que preferem evitar confronto com policiais, geralmente optam por roubar carros, pessoas na rua ou que acabaram de sacar dinheiro no caixa eletrônico.

No caso do Metrópole, a polícia afirma que o assalto foi planejado, mas que a informação que partiu de dentro da agência estava errada. Os criminosos acreditavam que naquele horário encontrariam muito dinheiro e que teriam facilidade no roubo. A polícia não descarta a hipótese de que algum integrante do bando tenha se precipitado, talvez com um disparo acidental, o que teria levado os assaltantes a matar os seguranças.

Hoje, as agências bancárias não trabalham mais com valores altos, e são poucas as pessoas que sabem quanto e quando será transportado. Por isso, a possibilidade de vazar informação é menor. Um assalto em que cada integrante da quadrilha fique com R$ 20 mil não compensa o risco. “É pouco dinheiro para uma ação de matar ou morrer”, diz o delegado seccional de Santo André, Luiz Alberto Ferreira de Souza.

Os bancos brasileiros investem cerca de R$ 1,1 bilhão por ano em segurança. De acordo com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), o número de usuários de internet banking (operações bancárias pela internet) passou de 11,7 milhões de pessoas em 2003 para 18,1 milhões em 2004. Com isso, uma parte crescente dos clientes vão às agências somente quando não há outra alternativa. A Febraban observa que cada vez mais se utiliza os serviços de correspondente bancário (serviço bancário em lojas), banco postal (operações bancárias no caixa dos correios) e pagamento de contas em lotéricas.

Os bancos não consideram hoje a segurança das agências como principal enigma. O gerente comercial Juarez Novaes Teodoro, da empresa Instalarme, que fornece monitoramento a grande bancos, diz que hoje a maior preocupação na área de segurança é quanto a fraudes pela internet e clonagem de cartões. Nas agências, ele diz que são utilizadas câmeras coloridas durante o dia e em preto-e-branco à noite.

“Mas já existem no mercado dispositivos de reconhecimento facial, capazes de cruzar imagens de assaltantes com o banco de dados da polícia, e assim identificá-los. Alguns condomínios já utilizam esse equipamento, os bancos devem adotar”, disse Teodoro, da empresa de monitoramento. A reportagem procurou os maiores bancos do país, que não comentaram o assunto por estratégia de segurança.




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