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Chuva não intimida em festival em Paranapiacaba
Por Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
11/07/2004 | 17:55
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São Pedro não se censurou a usar as chaves que lhe competem e choveu constantemente sobre telhados e cocurutos no dia de abertura do 4º Festival de Inverno de Paranapiacaba, sábado. De manhã, a impressão era de que o evento começaria “degavarinho”, como diria a Banda Palhaçal, que se apresentou no Largo dos Padeiros. Começava então o alarido dos walkie-talkies dos organizadores para transferir espetáculos antes programados ao ar livre para lugares cobertos. A maioria foi realizada com readequações de locais e horários; sorte que não tiveram a trupe do Pia Fraus e os bonecos infláveis do espetáculo Bichos do Brasil, cancelado no sábado, mas apresentado normalmente neste domingo, dentro da Escola Estadual Lacerda Franco.

O público não se intimidou; saiu às ruas disposto a ver a MPB de Eurídes Macedo, o chorinho do veterano Mimi e as instalações do mestre impressor Roberto Gyarfi, que se acomodou nos Galpões das Oficinas com gravuras de Lívio Abramo e uma releitura das sobras materiais da Epopéia Paulista, da artista Maria Bonomi.

O melhor amigo do turista foi a capa de chuva. A peça de moda utilitária foi um dos hits do comércio da Vila. O vendedor João Casimiro, da Barraca da Dona Francisca, por exemplo, vendera todo o estoque de 400 capas plásticas só no sábado de manhã; saiu à tarde para buscar outras 200.

O mau tempo, com temperaturas que margeavam os 15 graus, não obstou também o retorno de Dirce Negrini, nascida 73 anos atrás em “uma dessas casinhas” de Paranapiacaba e hoje residente no centro de Santo André. Foi ela a monitora de uma discreta caravana formada pelas filhas e pelo neto Marcello. E não seria uma “chuvinha à toa” que impediria o casal Sônia e Wilson Bernardes a vir de Osasco para conhecer a vila ferroviária. “Encantados”, planejavam voltar para ver o show de Wagner Tiso e Victor Biglione, no próximo dia 24.

Dança da estiagem – O maracatu deve estar bem cotado junto ao “chaveiro do céu”. Bastou os 90 integrantes do grupo Ilê Alafia entoarem que “hoje tem maracatu, alegria da nossa nação” no início da tarde de sábado para que a chuva cessasse. Vindo do Jabaquara (bairro de São Paulo), o conjunto seguiu em cortejo pelas ruas. “Nossos tambores não são daqueles que chamam chuva; eles a espantam”, diz Nelci Abilel, coordenadora do grupo fundado em 1999. No cortejo, Sandrine Amorim Paz, 9 anos, fazia as vezes de caboclinha, com uma fantasia formada por penas. Sentia frio, a indiazinha? “Não”, respondeu encolhida, os dentes estalando.

A estiagem terminou assim que o Ilê Alafia entrou nos ônibus que os levariam de volta ao Jabaquara. Ônibus da mesma empresa que desaconselha o tráfego de seus veículos em estradas de terra e para a qual trabalha o motorista José de Freitas. “Não tem jeito, né?”, disse, a respeito da única via vicinal, sem asfalto, que conduz à parte baixa de Paranapiacaba.

A programação prosseguiu. O Clube União Lyra Serrano virou sede do quinhão coreográfico do Festival. Por lá passaram sábado escolas de dança contemporânea e street dance, afora a Stacatto Cia. de Dança e a Cia. de Danças de Diadema.

A seta marca o local – Com a chegada da noite, foi possível divisar a iluminação coreográfica concebida por Guilherme Bonfanti especialmente para o Festival, com canhões de luz que desenham setas no chão. Entre os sons noturnos, difícil identificar corujas diante do Outkast que ecoa de um carro, dos versículos da Bíblia na voz de Cid Moreira, de uma janela, e dos sermões enérgicos do pastor André Garcia dentro de uma casinha que abriga unidade da Assembléia de Deus, freqüentada por cerca de 200 fiéis da Vila que tem 2,1 mil habitantes.

A vida noturna começou a se manifestar, neste ano de forma mais veemente em relação aos três anos anteriores de Festival. O tradicional Bar da Zilda, com 20 anos de existência, divide clientes com a Taberna Recanto Cigano – cujo nome dispensa explicações sobre trilha sonora e decoração predominantes – e o Empório Brasil, há um ano instalado em Paranapiacaba e que tem no blues e nas pingas de Salinas (MG) seus chamarizes.

Termina o sábado, nasce o domingo. Ressaca transforma-se em ímpeto para perseguir a série de eventos previstos para este domingo, como os shows de Duofel e Renato Borghetti. E as 70 lixeiras distribuídas pelo lugar encravado na Mata Atlântica cumpriram sua tarefa. “Tá todo mundo bem limpinho, bem organizadinho”, elogiou Maria do Socorro de Jesus, funcionária das equipes de limpeza pública do Festival, que prossegue até dia 25.




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