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Coopflora: da frente de trabalho à cooperativa
Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
09/01/2005 | 17:22
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Roçadeira, pá, enxada, enxadão, tesourão, terra e mudinhas de planta. Maçarico, máscara de soldador, lixadeira e ferramentas que só metalúrgicos usariam. Objetos que pouco se relacionam ao mundo feminino, mas que representam inclusão social para as cerca de 18 mulheres da Coopflora, cooperativa formada em sua maioria por ex-trabalhadores da primeira turma da Frente de Trabalho de Santo André, em 1999, e que fez a manutenção de praças e jardins da cidade.

Na Cooperativa, além de efetivamente colocar a mão na terra para realizar os serviços de jardinagem, as mulheres aprenderam a construir brinquedos para parquinhos, o que diferenciou ainda mais o trabalho e o público que elas desejavam atingir. Atualmente, metade da cooperativa trabalha com jardinagem e a outra metade dedica-se à fabricação dos brinquedos. Quatro homens completam o grupo, que embora seja composto quase que inteiramente por mulheres, não tem o objetivo de ser uma cooperativa exclusivamente feminina.

Uma das pioneiras entre os cooperados é a ex-cozinheira Marlene Galdino da Silva, 40 anos. Na cooperativa, aprendeu a administrar problemas e vivenciar situações que nunca pensou ter de encarar. “Aqui descobri o que era ter uma profissão e a trabalhar com união. Mas também foi o primeiro contato com pagamento de impostos e outras coisas que nunca pensei em ter de aprender um dia”, afirma.

Em três anos, já fizeram trabalhos em São Paulo e para muitos clientes em Santo André. Atualmente, a Coopflora tem convênio com a Prefeitura de Santo André, para a qual confecciona os brinquedos de parquinhos de escolas municipais de educação infantil e praças, e planta árvores em áreas em processo de urbanização, como o Jardim Capuava.

Marlene foi a grande agregadora da Coopflora. A partir dela, chegaram à cooperativa amigas, vizinhas e conhecidos que tinham pouca afinidade com a terra. Uma das que mais se destacou foi a franzina Sirlei Félix Dantas da Silva, 36 anos, uma das vizinhas de Marlene do Jardim Santo André. “Fiz de tudo um pouco na vida, mas nunca tinha mexido com plantas antes. Eu não tinha noção do que fazer. Tive muita dor no corpo no início. Nem sabia o que era uma roçadeira e depois tive de usá-la. É pesada, tem quase 20 Kg”, conta. Mãe de três filhos, ela encontrou uma verdadeira vocação. “Nós estamos fazendo curso de paisagismo para diversificar cada vez mais nossas atividades”, afirma.

Os brinquedos para parques são fabricados na sede da Fabrinq, um núcleo do Depav (Departamento de Parques e Áreas Verdes) da Prefeitura de Santo André. Como matéria-prima, elas utilizam objetos recicláveis como postes de ferro de sinalização retirados das ruas. A atual presidente da cooperativa, Valdicléia Félix da Silva, 32 anos, é uma das que se dedicam a pintar os brinquedos. “Fico bastante orgulhosa porque penso que meus filhos poderão brincar nos mesmos brinquedos que ajudei a construir”, afirma. Lá, todas sabem fazer tudo, de cortar o metal, lixar e soldar.

Hoje, embora a cooperativa tenha clientes e consiga se sustentar, ainda é necessário se consolidar entre novos clientes. “Crescemos 10% em três anos, mas é precisamos de mais clientes e mais pessoas para trabalhar. Ainda queremos fazer cursos de jardinagem e paisagismo e crescer ainda mais”, afirma a pioneira Marlene.




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