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Famílias usam chamada de vídeo para celebrar Páscoa

Em isolamento social por causa da pandemia, pais e filhos da região recorrem à tecnologia para manter a tradição

Por Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
13/04/2020 | 00:01
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André Henriques/DGABC


Aquela toalha de mesa para ocasiões especiais. Pratos e cadeiras extras. O cheiro de comida preparada com carinho toma conta da casa. A campainha toca uma, duas vezes, quem sabe, uma terceira. A família está reunida e pronta para o almoço de Páscoa. Mas antes, a tradicional troca de ovos de chocolate, e ao longo da refeição, a oportunidade para colocar a conversa em dia.

Assim foi a Páscoa do ano passado de muita gente, e o sonho para que seja de novo em 2021. Ontem, no entanto, com a pandemia da Covid-19, foi diferente. O único encontro possível, para quem respeitou o isolamento social que tem sido pedido pelo governo do Estado, prefeitos da região e órgãos de saúde, para tentar frear o avanço da pandemia, foi por ligação de telefone, chamada de vídeo e troca de fotos e áudios por aplicativo de smartphone.

Na casa do aposentado Paulo César Petreca, 62 anos, e de sua mulher, Maria Lucia, 55, em Santo André, a Páscoa foi bem diferente do que em outro anos. Se em 2019 cada um da família levou um prato diferente, no cardápio de ontem, panqueca e bolinhos de bacalhau foram o suficiente para o casal. Os filhos não estavam, assim como os sogros de Petreca e outros familiares. A saudade da filha Andrea e do genro Ícaro foi aliviada pouco antes da refeição por chamada de vídeo no computador. “Depois falamos com meu filho. Fomos recebendo ligações, da minha irmã, da sogra, cunhada”, explica Petreca.

Faz cerca de três semanas que não encontram os parentes. “Tenho sobrinhos pequenos e que temos contato muito próximo. Eles querem nos ver. Só saímos em casos de emergência, para atender meu sogro e minha sogra”, diz ele.

Petreca comenta que não tem sido fácil ficar longe da família. “Sou de origem italiana, e temos essa coisa de estarmos muito ligados, nos visitando semanalmente”. Mas reconhece que se não fosse a tecnologia, que lhe dá a possibilidade de ver os familiares, tudo seria mais complicado.

Na casa da arquiteta andreense Elaine Moraes de Albuquerque, 45, o almoço de ontem também foi longe da família. Junto dela estava o marido, Waldo Carvalho de Albuquerque, 45, e os filhos, Jairo, 15, e Joel, 9.

Por causa do isolamento social, ela não pôde estar perto de seus pais, Mauro, 72, e Maria, 71, como sempre faz. Mas para que a Páscoa não fosse tão diferente de outras, sugeriu de almoçarem juntos, ainda que à distância. “Tinha proposto (aos filhos) falar com vovó e vovô e fingir que estávamos em uma mesa só”. E assim o fez.

“Rimos muito”, diz. Ela conta que boa parte da conversa foi com sua mãe perguntando aos netos o que gostariam de comer quando a quarentena passasse. “Ficou decidido que o reencontro será com uma bela feijoada.”

Apesar do sacrifício de ficar longe dos outros parentes, tanto Petreca quanto Elaine estão tentando aprender com a quarentena. Para ele, é momento de autoconhecimento e de as pessoas olharem mais pelas outras. “Não dá para se sentir bem vendo que o outro não tem o mínimo necessário”, avalia.

Elaine vê a quarentena como algo importante. “Hoje estamos olhando para o presente. Tem gente com medo de morrer, de sofrer, de perder o emprego. Quanto mais nos sentirmos efêmeros, mais valor daremos para a vida que temos”, encerra ela, sonhando, sim, com uma Páscoa novamente ao lado dos pais e irmãos.




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