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Exposiçao Brasil 500 será a maior do país
Por Do Diário do Grande ABC
28/03/1999 | 16:43
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O mais ambicioso projeto de exposiçao brasileira de artes visuais de todos os tempos está sendo desenvolvido, há dois anos, por uma equipe comandada pelo ex-presidente da Bienal Internacional de Sao Paulo, o banqueiro Edemar Cid Ferreira, e pelo artista plástico Nelson Aguilar. A mostra, gigantesca, batizada de Brasil 500 anos, é composta por 6 mil peças, entre objetos, quadros e esculturas, e estará à disposiçao do público a partir de 3 de maio de 2000, no pavilhao Ciccillo Matarazzo da Fundaçao Bienal de Sao Paulo. Trata-se da reconstituiçao de cinco séculos de história por meio da arte.

Os estrangeiros, que terao acesso à exposiçao, ou a parte dela, nos meses posteriores, vao, com toda certeza, se encantar com a riqueza da produçao iconográfica nacional. Mas aos brasileiros estao reservadas as melhores surpresas. Como numa mensagem resgatada de uma garrafa que boiava há séculos pelos mares e finalmente encontrou seu destinatário _ para reproduzir uma imagem usada pelo curador geral da mostra, Nelson Aguilar _, os visitantes daqui vao reencontrar-se com parte do tesouro nacional perdido.

Aguilar refere-se, por exemplo, aos exuberantes mantos tupinambás do século XVI, que foram levados naquela época e só agora, com a exposiçao, quatro séculos depois, voltam ao solo brasileiro. Sao peças raríssimas _ existem cinco no mundo, sendo duas delas mais ricas, de valor incalculável, que sao justamente as que Aguilar está trazendo para integrar a mostra. Uma pertence a um museu de Bruxelas, na Bélgica, e a segunda a uma instituiçao de Copenhague, Dinamarca.

Outro reencontro _ ou reconhecimento _ pode-se dizer que é em relaçao à nossa arte popular, afro-brasileira e de imagens do inconsciente. O curador cita o crítico de arte Mário Pedrosa, diretor artístico da 6ªBienal de Sao Paulo (1961), que sonhava com museus que reunissem a produçao do índio, do negro, a arte primitiva e nao apenas a arte reconhecida como tal pelas elites. 'Vamos em parte realizar o sonho de Pedrosa, que chegou a dizer que esperava que das cinzas do incêndio do MAM (Museu de Arte Moderna) do Rio pudesse florescer esse novo conceito de museu``, diz Aguilar.

A exposiçao Brasil 500 anos foi dividida em nove partes: Arqueologia, Artes Indígenas, Arte Afro-Brasileira, Arte dos Séculos XVII-XVIII, Arte Popular, Arte do Século XIX, Imagens do Inconsciente _ com curadoria da dra. Nise da Silveira e de Luiz Carlos Mello - O Olhar Distante e Arte do Século XX. A Arqueologia mostrará objetos criados pelos habitantes do período pré-cabralino. Na indígena estará a produçao ao longo da história, inclusive a contemporânea, das naçoes indígenas brasileiras. A mostra de Arte Afro-Brasileira é particularmente importante, segundo o curador, por nao existir hoje no país uma instituiçao que reúna essa produçao. 'O mundo hoje está valorizando muito a arte de origem africana, tanto que uma peça de prestígio chega a alcançar o valor de US$ 500 mil, US$ 600 mil``. Além disso, será uma oportunidade de começar a levantar questoes sobre as nossas raízes africanas, assunto ainda tratado timidamente pelos estudiosos.

A Arte dos séculos XVII-XVIII reúne principalmente esculturas religiosas do período colonial, como as de autoria de Manuel Inácio da Costa e Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. A mostra de Arte Popular trará a produçao diversificada, em formas e materiais, que procurou fugir aos padroes europeus de cultura. A do Século XIX, ao contrário, pinturas com grande influência da arte européia.

O Olhar Distante exibe os trabalhos de cientistas e viajantes estrangeiros que vieram ao país e transformaram em arte as suas impressoes (Franz Post, Eckhout, Debret, Rugendas e Taunay). Na mostra Imagens do Inconsciente, estarao expostas obras de artistas que passaram a vida em hospitais psiquiátricos, como Fernando Diniz e o Bispo do Rosário. E no painel da arte contemporânea, os trabalhos de afirmaçao da identidade nacional, resultado das várias influências que formam a cultura brasileira. 'Exposiçoes no mundo todo têm consagrado a produçao contemporânea do país, há uma grande curiosidade em torno do que está sendo produzido pelos `netos' de Hélio Oiticica e Lygia Clark``, diz Aguilar, para quem a mostra, como um todo, 'é uma oportunidade para o Brasil dar um passo em direçao ao auto-conhecimento``.




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