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Moradores do Santa Cruz, no pós-balsa, ainda estão esquecidos

Bairro em área de proteção aos mananciais, em S.Bernardo, tem infraestrutura precária

Francisco Lacerda
Do Diário do Grande ABC
01/01/2018 | 07:00
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André Henriques


 Encravado em área de proteção aos mananciais na região do Riacho Grande, em São Bernardo, o núcleo Santa Cruz, no pós-balsa, sofre com infraestrutura deficiente. Tem ruas esburacadas, outras com pedras e de terra, lixo, restos de móveis e até carros abandonados. Apenas uma UBS (Unidade Básica de Saúde) atende a cerca de 20 mil moradores, além de servir como comprovante de endereço a muitos deles.

Em dezembro de 2016, equipe do Diário esteve na região e mostrou a vida de duas famílias. Um ano depois, a volta ao vilarejo atesta que a realidade contada na edição de 1º de janeiro de 2017 continua perversa. Para uma das famílias, piorou.

Samuel Penha Martins, 20 anos, Bruna Elem, 24, três filhos (dois deles de outro relacionamento dela) e Ana Carolina Nunes Silva, 21 e gestante, prima de Samuel, não moram mais na casa visitada na Estrada do Rio Acima. Na época, estavam todos desempregados. Samuel fazia bicos para prover a residência, inclusive o aluguel, de R$ 500. Vizinhos informam que o casal se mudou.

No imóvel, vivem há quatro meses o aposentado Adenilson Jorge Nascimento, 77, sua mulher, Joana D’Arc da Silva, 56, e os dois filhos, Marco Jorge Nascimento, 21, e Ana Paula Silva Nascimento, 25. Ninguém trabalha. A família sobrevive com o benefício do progenitor. A filha cuida da mãe, acamada. Em relação ao Santa Cruz, as lamúrias de Adenilson igualam-se às dos ex-moradores. “Ninguém fez nada aqui. Asfalto nem pensar. A água e a luz continuam ‘do gato’.”

Já para a outra família, a de Maria da Graça Valadares, 55, a situação piorou. Aumentou o número de habitantes no lar e a renda encurtou. Antes dividindo o básico com um dos filhos, a nora e três netos, hoje o outro filho, livre da cadeia, a mulher dele e duas crianças também moram com dona Maria Pretinha, como é chamada. Três do cinco cachorros morreram, mas ela já arrumou outros dois e dois gatos. Vivem com R$ 900 de pensão pela morte do marido.

Quando da visita, Maria Pretinha tomava café aproveitando o sol da manhã, ao lado da escada para subir à residência, que ganhou cimentado, assim como a varanda. Sobre os velhos problemas, ela perde o sorriso e, desanimada, conta que persistem. “A rua continua sem asfalto. Quando chove tem barro que suja tudo, e falta água direto.”

Sidney Valadares Araújo, 27, o novo filho no lar, cumpriu pena por se “envolver em coisas erradas”. Faz bicos de ajudante geral para ajudar a mãe e manter a mulher, Kelly Cristina Silva Rocha, 18, gestante de sete meses de Alice, e o outro filho, Miguel, 1 ano e 8 meses. “De melhor aqui (no Santa Cruz) não tem nada.”

Mas Maria Pretinha, que diz ter vergonha das condições da minúscula casa, garante que está feliz com a proximidade da família. “Cabe todo mundo, igual coração de mãe.”

 




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