Setecidades Titulo Ribeirão Pires
Família vive com R$ 270 mensal

No Jardim Serrano, em Ribeirão Pires, irmãs lutam para dar futuro melhor aos filhos pequenos

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
01/01/2017 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Enquanto a preocupação de muitos no fim do ano foi a fartura do cardápio dos jantares, uma família de nove pessoas no bairro Jardim Serrano, em Ribeirão Pires, não sabe se vai ter comida suficiente para os próximos dias. As irmãs Claudia Pereira, 42 anos, e Claudineia Pereira Machado, 39, vivem com a renda de, em média, R$ 270 mensal.

Claudineia tem seis filhos, porém, dois de criação, já que foram abandonados pela sobrinha, filha de Claudia. Além do Bolsa Família de R$ 170, o artesanato feito em panos de prato e pequenos bicos ajudam a complementar a renda em mais R$ 100.

“Não sobreviveríamos se não fossem as doações. Somos muito gratas as pessoas que dividem com a gente o pouco que têm. Acaba fazendo a diferença na refeição”, disse Claudineia. No dia da visita da equipe do Diário, a família tinha recebido diversas porções de legumes, o que ia garantir o almoço e o jantar até o fim da semana.

A casa fica em espaço estreito, onde é necessário subir pequena rampa de barro. O cano que leva o esgoto fica embaixo de tudo isso e solta resíduos próximo ao portão. Em três cômodos (quarto, cozinha e sala) a família se divide e mantém tudo arrumado.

Os pequenos acabam dividindo os presentes de Natal, já que Renato, 8, e Arthur, 11, não tiveram suas cartinhas selecionadas pelo programa Papai Noel dos Correios. Os poucos brinquedos são improvisados ou fruto de doações. Praticamente tudo na casa é compartilhado.

“Faz mais de um ano que a gente não compra uma roupa nova. É triste, mas tento manter a alegria no dia a dia. Choro à noite, escondida, para que eles não vejam, porque eu tenho que me manter forte para a família”, disse Claudineia.

Wesley e Eloá, de 2 e 4 anos, são os filhos adotados e que precisam ir para creche. Porém, no bairro não há nenhuma unidade. “Temos que pegar um ônibus até o Centro ou algum outro bairro que tenha creche. Ainda não sei como vou resolver essa situação, já que fazer isso todos os dias a R$ 3,80 não tem como.”

O bairro, que concentra muitas casas pequenas e sem acabamento, tem um parquinho recém-inaugurado na entrada. São apenas duas balanças, sendo que somente a rua em que a família mora tem cerca de 100 crianças. “Parece até que a administração está brincando com a gente. Não temos Educação ou Saúde e a gente tem que se contentar com isso?”, questionou.

A irmã mais velha, Claudia, é analfabeta e tem o sonho de aprender a ler e escrever. Mas a escola do bairro não oferece o EJA (Educação de Jovens e Adultos). A falta disso acaba sendo um dos principais limitadores em sua vida, já que ela tem dificuldades em pegar o ônibus e, na maioria das vezes, precisa do auxílio de mais uma pessoa.

Neste ano, ela começou a ter fortes dores de cabeça e perda de cabelo, o que a levou a procurar atendimento médico no Hospital Municipal. Apesar de fazer biopsia, o diagnóstico está longe de ser concluído. “A médica disse que não teria previsão do resultado e que eu deveria tentar fazer em rede particular.”

Desde setembro, ela guarda o exame em casa, com esperança de conseguir juntar dinheiro, porém, segue com as dores de cabeça. “Dói e coça muito. Faz um ano que tenho isso todos os dias e não sei se vou conseguir outro médico”, disse Claudia, emocionada.

Entre tantos problemas, a família não perde o bom humor nem o sorriso. A luta das duas matriarcas é para manter as crianças felizes e proporcionar futuro melhor. “Cresci aqui e, apesar das dificuldades, fui feliz. Meu sonho é que todos consigam se formar. Tenho muita esperança.”
 




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