Política Titulo
Avamileno entrega futuro nas mãos do PT
Leandro Laranjeira
Do Diário do Grande ABC
01/01/2009 | 07:02
Compartilhar notícia
Nário Barbosa/DGABC


Responsável por assumir a Prefeitura de Santo André em um dos momentos mais difíceis da história da cidade, no início de 2002, após o assassinato de Celso Daniel, o petista João Avamileno deixa o cargo de chefe do Executivo após seis anos com "sentimento de dever cumprido". "Foi um momento complicado, de incertezas. Cheguei a questionar se conseguiria substituí-lo. Mas graças a Deus e ao apoio da população, tudo correu bem", argumenta, emendando que daria "nota 8" ao seu governo.

Avesso a comparações com Celso, Avamileno se diz orgulhoso de ter feito parte das administrações que, segundo ele, fizeram de Santo André um município melhor para se viver. Deu continuidade aos projetos iniciados por Celso, mas conseguiu imprimir sua marca própria na administração, com as construções dos Cesas e do Hospital da Mulher, seus principais motivos de orgulho. "Não fiz tudo o que queria, mas fiz tudo o que podia. O que não consegui terminar foi por problemas técnicos e burocráticos, não má vontade."

Como grande decepção, deixa o mais alto posto do município sem ter conseguido fazer do deputado estadual Vanderlei Siraque (PT) seu sucessor. Após garantir ter ficado surpreso com a repercussão negativa pelo fato de ter manifestado, em recente entrevista ao Diário, a intenção de concorrer a uma vaga na Assembleia Legislativa em 2010, possivelmente em uma dobrada com Siraque a federal, Avamileno mudou o discurso. "Apaga tudo o que falei. Fiquei chateado com algumas pessoas e com a repercussão. Por isso, a partir de agora, coloco meu futuro nas mãos do PT."

DIÁRIO - Qual a avaliação que o senhor faz do mandato?
JOÃO AVAMILENO - Deixo a Prefeitura com a sensação de dever cumprido. A população me respeitou muito neste período, e procurei retribuir esse carinho. Considero o mandato positivo porque as realizações foram muitas. Não fiz tudo o que queria, mas fiz mais do que podia. Isso foi importante. Deixo a Prefeitura bem, com a máquina ajeitada, as finanças em dia e saldo em caixa para o próximo prefeito. O único problema é com relação aos precatórios. É importante registrar que deixaremos uma série de obras positivas e iniciadas para o Aidan (Ravin, prefeito eleito) inaugurar. Se ele terminar o que estou deixando, já terá feito um bom mandato.

DIÁRIO - Qual a nota que o senhor daria para a sua gestão?
AVAMILENO - É complicado dar nota para si próprio. Mas acho que é 8, em virtude de não ter conseguido entregar todos os projetos iniciados em função de problemas técnicos e burocráticos, e não por má vontade.

DIÁRIO - Qual a realização que o senhor mais se orgulha de ter sido o responsável?
AVAMILENO - É até difícil escolher. Mas considero importante os avanços nas áreas Social, Saúde e Educação. Citaria a urbanização de núcleos habitacionais, o Hospital da Mulher, os Cesas e o Sabina. Também fico satisfeito de ter participado, ao lado do Celso Daniel (prefeito assassinado no início de 2002), de um governo que trouxe avanços para Santo André e melhora para a vida da população. Muita gente, por exemplo, critica Paranapiacaba. Mas quem conheceu aquela Vila antes do PT sabe que ela estava abandonada, totalmente deteriorada. Modificamos a paisagem e levamos desenvolvimento e emprego. É motivo de orgulho para a nossa administração. Em 1999, a taxa de desemprego era de 61%. Hoje ainda tem bastante, mas está em 30%. Não realizamos todos os sonhos, mas houve avanços. Não podemos negar. Em 2002 havia 90 postos de trabalho, agora são 400. A renda individual cresceu 67% em média. A vila ficou mais bonita, até porque recuperamos muitos patrimônios. E há projetos para continuar este trabalho, depende do próximo prefeito.

DIÁRIO - Com estes avanços citados, o senhor se considera um administrador melhor do que foi o Celso Daniel?
AVAMILENO - Não. Somente digo que não quero comparações com ele. Nem pior nem melhor. Dentro da sua característica, Celso foi um excelente administrador, um homem público de novas ideias que revolucionou a cidade. Se estivesse vivo faria parte do governo Lula. Não preciso dizer mais nada. Foi um grande professor para mim. Tudo de bom que tinha, procurei absorver e aplicar no meu mandato.

DIÁRIO - A debandada do secretariado em função das prévias foi o momento mais difícil enfrentado pelo senhor nestes seis anos de mandato?
AVAMILENO - Não, foi assumir a cidade após a morte do Celso. A Prefeitura passava por momento difícil, eram muitas as incertezas. Quando tive de assumir repentinamente, fiquei preocupado. Cheguei a questionar se realmente conseguiria substituir o Celso. O Pelé, por exemplo, até hoje não achou substituto, embora o Santos não tenha deixado de ser um time grande. Então, imagina a minha situação naquela oportunidade? Mas com a ajuda de Deus e da população superei e venci essa fase. Quanto à saída dos secretários, também foi um momento difícil, mas fiz substituições rapidamente e o governo seguiu normalmente com o trabalho. Não houve prejuízos. O que realmente me decepcionou foi o fato de não ter conseguido fazer o sucessor.

DIÁRIO - Após a morte do Celso, o senhor conseguiu, até por conta de ter sido reeleito, recolocar o PT nos trilhos. E, agora, com a derrota à Prefeitura, como ficará a questão?
AVAMILENO - A esperança do PT voltar aos trilhos era fazermos a sucessão. Se tivéssemos conseguido, estaríamos mais tranquilos para superar a crise. Com a perda, devo admitir, o efeito foi o inverso e será mais difícil. Mas o PT sempre foi e continuará a ser grande.

DIÁRIO - Chegou-se a cogitar que o senhor deixaria o PT rumo ao PDT...
AVAMILENO - Foi somente especulação. O PT, para mim, continua sendo o único partido da minha vida. Já sofri e lutei tanto por este partido, que deixá-lo agora seria muito difícil. A não ser que ele me deixe. Aí cuidarei da minha vida de outra forma, não participando da política.

DIÁRIO - Quanto ao futuro, o senhor está decidido a disputar vaga na Assembleia?
AVAMILENO - No PT, os espaços são muito disputados. Lideranças aparecem e somem, talvez por ser um grande partido. Mas apaga tudo o que falei naquela oportunidade (quando manifestou, em entrevista ao Diário, a intenção de ser candidato a deputado estadual em dobrada com Siraque a federal). Fiquei surpreso com a repercussão do anúncio, e chateado com algumas pessoas. Estou à disposição, e coloco meu futuro nas mãos do PT, ao qual me dedicarei a partir de agora.

DIÁRIO - O senhor teme pelo futuro de Santo André?
AVAMILENO - Prefiro esperar e fazer essa avaliação daqui a cem dias. A minha vontade é que a cidade continue crescendo e melhorando.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;