Cultura & Lazer Titulo Luto
Cauby cantou tão lindo assim

Uma das vozes mais conhecidas do Brasil,
cantor despede-se do público aos 85 anos

Sérgio Lemos
17/05/2016 | 05:44
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Andréa Iseki/DGABC


Obra ou armação do destino, por vezes cai no colo de um repórter de faculdade entrevistar um ídolo então envolto pelo ostracismo imposto pelo dos anos 1980. Muito tempo depois, a vida pauta entrevista com o mesmo astro, agora octogenário, que renascia tantas vezes quanto seu amor pela música permitisse. E sem perder seu brilho.

Amigo há 65 anos de Ângela Maria, com quem se apresentava até os dias atuais, Cauby Peixoto morreu na noite de domingo, aos 85 anos, em São Paulo, onde estava internado por conta de pneumonia.

Apenas por tratar-se de uma de suas últimas entrevistas é que a reportagem publicada pelo Diário em 18 de novembro de 2015 talvez mereça ser considerada relevante. O fato de conseguir algumas declarações de um dos maiores ídolos da MPB foi ímpar.

Disponível, simpático e acessível, ele atendeu a equipe de reportagem do Diário intermediado por sua amiga e secretária particular, Nancy Lara, responsável, entre outras coisas, pela tarefa de fazê-lo ‘ouvir’ as perguntas e retornar as respostas, pois sua audição e compreensão do mundo externo já não eram tão imediatas. Mesmo assim a entrevista rolou, tal como sua publicação (no destaque ao lado).

O extraordinário estava para acontecer após o autor da reportagem ser convidado a assistir ao show e entregar o jornal nas mãos do intérprete de Conceição. Pontualmente às 21h do mesmo dia, as cortinas do Teatro Bradesco, em São Paulo, se abriam para a voz ainda incrivelmente potente de uma senhora de pouco mais de um metro e meio de altura. Depois de várias canções e, sempre aplaudida de pé, Ângela Maria desaparece atrás do pano vermelho.

Alguns minutos de espera e surge Cauby Peixoto em poltrona não menos espalhafatosa que ele. Com Ângela, canta quase todas as músicas do espetáculo, pois ela e o maestro Reynaldo Rayol estão a postos para lembrá-lo a todo instante do roteiro do show, como no momento em que o cantor esquece totalmente qual composição que viria a seguir e como começá-la. Coincidentemente aquela feita para ele por Chico Buarque, Bastidores.

Embora houvesse um sem número de desacertos, cada um deles era saudado por palmas e risos e é aí que reside o extraordinário em acompanhar um dos últimos momentos de um showman que, beirando os 90 anos, ainda queria se reinventar e trabalhar mais e mais. Tanto aplausos como risos vinham de uma casa lotada de pessoas de cabelos brancos. Eram, após tantas décadas de idolatria, mais que fãs. Tornaram-se cúmplices e atestavam que estávamos ali diante de um imortal.

Depois do show, o Diário foi recebido por Cauby nos camarins. Sentado num simples sofá olhou a capa do caderno Cultura&Lazer, sorriu para sua própria foto e posou para mais uma. Deixamos o ‘professor’ descansando. Tudo isso em silêncio, sem qualquer palavra. Apenas e para sempre que o timbre de sua voz ficará ecoando na música popular brasileira. 




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