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Laranja baia espanhola ganha mercado brasileiro
Do Diário do Grande ABC
06/01/1999 | 16:05
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Maior produtor mundial de citros, o Brasil está sendo invadido neste verao por uma variedade especial de laranja espanhola, cuja importaçao deve atingir 1,2 mil toneladas. A laranja ``navel' espanhola, semelhante à variedade baía brasileira, supre em parte a escassez desta fruta no mercado nacional durante a entressafra. A importaçao da ``navel' espanhola, caracterizada pela ausência de sementes e destinada principalmente para sobremesa, ocorre principalmente entre dezembro e fevereiro.

Edmundo Marti, gerente de vendas da Importadora Marti, importou em dezembro último 37,5 t e espera manter esta média mensal em janeiro e fevereiro. Ele afirma que o produto é trazido para o Brasil por cerca de 12 importadoras, com volumes semelhantes. A laranja espanhola chegou ao mercado brasileiro pela primeira vez no final de 1997, experimentalmente. Como a aceitaçao foi boa, a importaçao se popularizou este ano. O Brasil também importa laranja ``navel' do Uruguai, há cerca de dez anos, mas com volume inferior.

No entreposto da Central de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de Sao Paulo (Ceagesp) localizado no Jaguaré, na capital, o volume mensal de laranja ``navel' espanhola comercializado durante o verao é de 8 mil caixas de 15 quilos, segundo Antônio Carlos, do Departamento de Economia. O volume de laranja baía nacional comercializado na Ceagesp em novembro totalizou 21.153 caixas de 25 quilos, afirmou Antônio Carlos.

Segundo o pesquisador Jorgino Pompeu Júnior, do Centro de Citricultura Sylvio Moreira, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de Sao Paulo, a importaçao de laranja ``navel' se justifica pela safra curta da laranja baía nacional, cuja colheita principal vai de maio a julho. A safra de ``navel' espanhola acontece de novembro a janeiro, chegando ao Brasil em uma época de escassez do produto. Pompeu afirma que a importaçao se faz necessária, pois o consumo da baía é grande no Brasil. Além disso, Pompeu Júnior afirma que na Espanha o clima é mais favorável à produçao da laranja ``navel' do que no Brasil.

``No Brasil as condiçoes sao boas, mas nao ideais', diz, explicando que, tanto na Espanha como na Califórnia, a oscilaçao térmica, com dias ensolarados e noites muito frias, faz com que tanto a casca como o suco da laranja tenham coloraçao mais forte. ``O frio deixa a laranja mais bonita, e mais atrativa para o consumidor', diz Pompeu Júnior.

Raphael Juliano, um dos maiores produtores de laranja de mesa do Brasil, com cerca de 1,4 milhao de caixas de 40,8 quilos por ano, afirma que o alto preço da laranja espanhola torna a importaçao do produto inviável. ``O preço da laranja importada é muito maior do que o nosso, e a gente nao consegue entender como a laranja espanhola está vindo para o Brasil. Do Uruguai eu até entendo, pois é mais barata e eles nao tem consumo interno', disse.

O pesquisador Pompeu Júnior informa que o quilo da ``navel' espanhola custa ao consumidor R$ 1,49, enquanto que o quilo da baía nacional sai por cerca de um terço desse valor. Um outro problema da laranja importada é a conservaçao. Ana Lúcia Manzato Antibero, gerente de comércio exterior da importadora Irmaos Benassi, que importou, em 1998, 360 t de citros da Espanha, a viagem de navio leva 15 dias e a fruta demora mais 15 dias no Brasil até chegar aos supermercados.

Segundo Pompeu Júnior, a fruta perde qualidade com o envelhecimento e com condiçoes precárias de conservaçao. ``A geladeira pode dar um gosto amargo à fruta, pois muitas vezes os atacadistas conservam a laranja junto com verduras e outras frutas, mantendo a temperatura inadequada para a laranja', disse Pompeu. As laranjas importadas se destinam sobretudo para grandes redes de supermercados, sendo também negociadas no entreposto da capital paulista da Ceagesp. Para o grande produtor de laranja de mesa, Raphael Juliano, ``a importaçao nao chega a prejudicar os produtores, porque o volume é pequeno'.

Edmundo Marti, da Importadora Marti, concorda, afirmando que essa importaçao só se justifica nos períodos de escassez da baía nacional. ``Nao é viável importar laranjas equivalentes à baía em outras épocas', garante. Ele explica que apesar de os preços da laranja espanhola serem competitivos, os impostos, custos de frete e armazenamento encarecem o produto final.




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