Setecidades Titulo Iniciativa privada
Apenas 1,24% das praças do Grande ABC estão adotadas

São Bernardo, por exemplo, as áreas adotadas
geram economia de cerca de R$ 93,9 mil por ano

Por Natália Fernandjes
28/04/2014 | 00:02
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Andréa Iseki/DGABC


O Grande ABC conta com 1.692 praças ou áreas ajardinadas espalhadas por seu território, sendo que apenas 21 delas, o equivalente a 1,24%, estão sob os cuidados de iniciativa privada ou da própria comunidade organizada. A ação de tomar conta do espaço público, vista pelos especialistas como alternativa para a manutenção dos locais com possibilidade de economia por parte das Prefeituras, é possível mediante legislações municipais de cooperação por tempo determinado.
 
Santo André é a cidade com maior quantidade de praças cuidadas por empresas. Dos 878 espaços, entre praças e áreas ajardinadas, 12 estão sob cuidados externos, seja como forma de compensação ambiental, como é o caso da Praça Paulo Afonso, na Vila Valparaíso, ou adotadas, como a Praça Alan Kardec, no Jardim Bela Vista, sob cuidados da padaria Bella Vitória.
 
De acordo com as prefeituras, o principal benefício da adoção dos equipamentos públicos é a manutenção constante, tendo em vista a dificuldade para que as equipes das secretarias de serviços urbanos circulem por todos os pontos em curto espaço de tempo. Além disso, há menos gastos por parte das administrações. No caso de São Bernardo, por exemplo, as áreas adotadas geram economia de cerca de R$ 93,9 mil por ano. A cidade foi a única a informar o dado.
 
Em São Bernardo, sete das 631 áreas ajardinadas são adotadas. Entre elas estão a Praça Nossa Senhora de Fátima, no bairro Anchieta. Em Mauá, dois dos 111 locais públicos estão sendo cuidados por empresas. Já Diadema e São Caetano possuem 162 e 72 espaços, respectivamente, todos administrados pela Prefeitura. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não informaram.
 
Em visita a algumas praças na região, a equipe do Diário constatou que os espaços adotados pela iniciativa privada e os pontos localizados nas áreas centrais das cidades são geralmente os mais bem conservados. 
 
Em contrapartida, praças nas periferias sofrem com a falta de manutenção. Nestes casos, a própria comunidade que se encarrega da ação. Exemplo é observado na Praca Ettore Nobeschi, na Vila Alpina, em Santo André. O comerciante Temístocles de Rezende, 83 anos, explica que são os vizinhos quem recolhem o lixo jogado no local para evitar a presença de pragas. “A gente retira as madeiras e roupas que o pessoal deixa, mas ainda fica o mato alto e a falta de iluminação”, comenta.
 

Apesar de bem conservada, a Praça Paul Harris, na Vila Conceição, em Diadema, precisa de melhorias, na visão do motorista José Roberto Ferreira, 40. As principais reivindicações dos moradores são faixa de pedestres no entorno do espaço e segurança aos fins de semana, quando o local é invadido por carros e motos.

Áreas colaboram para saúde e permeabilidade do solo

Para especialistas na área de urbanismo, as praças têm papel fundamental na estrutura das cidades. Além de contribuírem para a permeabilidade do solo, são importante instrumento para regular a temperatura, colaboram para a saúde da população e para manutenção da biodiversidade.
 
Conforme explica o professor da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP (Universidade de São Paulo) Paulo Pellegrino, além da vantagem financeira para as prefeituras, a adoção dos espaços públicos é algo positivo para a população. “Se não houver critérios nem acompanhamento para evitar poda errada ou plantio de espécies inadequadas, podemos estar criando problemas futuros”, destaca.
 
A falta de fiscalização pode acarretar, segundo Pellegrino, problemas nas calçadas e canalização ou invasão dos fios da rede elétrica por parte das árvores. “A árvore é um ser vivo. Se deixar descuidada ela adoece e acaba causando transtornos ao cair”, diz.
 
 A coordenadora do grupo de pesquisa e de análise do meio ambiente da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Marta Marcondes, esclarece que a adoção das praças e áreas ajardinadas é importante ainda porque propicia o sentimento de pertencimento ao local. “A área passa a fazer parte da vida da pessoa e a fazer sentido, com isso, elas começam a conservar e inibir depredação”, observa.
 
 Para a especialista, falta incentivo das prefeituras para que a população passe a tomar conta dos locais. Cada cidade possui lei diferente sobre a adoção de praças, no entanto, os interessados devem apresentar documentação junto à administração e é feito chamamento público. São estabelecidas ainda regras para os cuidados e a prefeitura fiscaliza a ação.
 
Diadema foi a única cidade a informar que pretende elaborar programa de adoção de praças e áreas verdes para incentivar a comunidade.
 
Na Praça Artur Eberhardt, no Jardim Aurora, em São Bernardo, por exemplo, a poda dos galhos e remoção do lixo acumulado são feitos pela comunidade. Em consequência, o local passou a ser mais frequentado, principalmente por trabalhadores do entorno durante horário do almoço. Para o comerciante Carlito Ernesto, 48, as melhorias por parte do poder público só são observadas nas proximidades do período de campanha eleitoral, a cada quatro anos.
 

São Bernardo pretende atrair tutores

 Com 631 praças e apenas sete adotadas, a Prefeitura de São Bernardo pretende atrair empresas para complementar a atuação do Executivo em manter as áreas públicas ajardinadas em bom estado de conservação. Durante a inauguração da revitalização da Praça Santa Luzia, ontem, no bairro Taboão, o prefeito Luiz Marinho (PT) disse que o Executivo trabalhará o conceito de adoção desses espaços. 

“É fundamental que as empresas adotem mais praças. Vamos trabalhar esse conceito e a partir da revitalização que estamos fazendo em algumas praças, as disponibilizaremos para que possam ser adotadas. Estamos melhorando a manutenção dessas áreas públicas, reestruturando, colocando conceito de baixo custo de manutenção e uma melhor qualidade, pois, quanto pior a qualidade, pior fica para fazer a manutenção e mais trabalho dará”, falou.

 As intervenções para renovação de praças que vêm acontecendo no município são demandas eleitas pela população no OP (Orçamento Participativo). 

Neste ano, as praças Geraldo Capitâneo, no bairro Santa Terezinha, e a do Professor, no Nova Petrópolis, também passaram por obras. Para Marinho, enquanto os locais não ganham tutores, as revitalizações contribuem para que a população se aproprie e fiscalize as áreas, inibindo a depredação. “Uma praça inadequada não tem a frequência de pessoas da comunidade e atrai usuários de drogas e vândalos. Mudando o espaço, isso se resolve, porque o pessoal do bairro frequenta o local e espanta os mal-intencionados”.  (Vanessa Oliveira)

Em Santo André, ações auxiliam na manutenção

Tendo em vista que Santo André possui o maior número de praças da região – 866 são cuidadas pela Prefeitura –, a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana, Obras e Serviços Públicos executou algumas medidas para realizar a manutenção desses locais com maior frequência. Segundo o titular da Pasta, Paulinho Serra, na gestão anterior levava-se dois anos para percorrer todos os espaços do município. “Uma praça que sofria intervenção hoje, passaria pela próxima em 24 meses, dependendo da demanda. Agora, conseguimos passar duas vezes por ano”, contou.
 

Entre as ações tomadas estão a reativação de equipes próprias – passando de 20 para 70 operadores – e a redução do metro quadrado pago para a empresa que presta o serviço de roçagem. “Houve redução de 12% na metragem roçada, então, eles conseguem roçar mais gastando o mesmo dinheiro”, pontuou o secretário. Serra acrescentou que o cronograma automático de manutenção havia sido interrompido nos últimos anos e a retomada possibilitou aprimorar o planejamento. “A equipe não chega mais a um local que deixou de receber manutenção há um tempo maior do que o previsto. Isso criou um ciclo que facilita a segunda passagem”. (Vanessa Oliveira)




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