Economia Titulo Desconto em folha
Demanda por empréstimo com desconto em folha aumenta 28%

Aposentados e pensionistas da região
mostram mais apetite por crédito consignado

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
05/10/2013 | 07:26
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O apetite dos aposentados e pensionistas por empréstimos consignados foi grande em agosto. A demanda, no Grande ABC, expandiu 28% em relação ao mesmo mês do ano passado. Segundo dados do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), as concessões atingiram R$ 83,3 milhões.

Diadema, com 50% de expansão, e Ribeirão Pires, com crescimento de 40%, foram os destaques, conforme os dados do Banco Central. Respectivamente, tiveram R$ 12,3 milhões e R$ 3,7 milhões em operações contratadas no oitavo mês deste ano.

No País, os beneficiários do Ministério da Previdência Social também mostraram interesse elevado. Foram R$ 3,3 bilhões, alta de 24% em relação a agosto de 2012. Apenas como comparação, os funcionários públicos geraram incremento da ordem de 15%, com R$ 9,2 bilhões, e os empregados da iniciativa privada, 6%, com R$ 1 bilhão. As informações são do Banco Central.

Entre janeiro e agosto, os trabalhadores do setor privado aumentaram em 10% a demanda em relação ao mesmo período do ano anterior. Os funcionários do setor público elevaram em 24%. E, os aposentados e pensionistas, em 27%.

EXPLICAÇÕES - O aumento da demanda por crédito com desconto em folha por aposentados e pensionistas pode ser explicado pela maior restrição de crédito nas demais operações, destaca o professor de Finanças da FIA (Fundação Instituto de Administração) Ricardo Humberto Rocha. Em sua avaliação, como mecanismo para combater as taxas de inadimplência, as instituições financeiras acabaram ampliando a atuação no consignado.

Isso porque, segundo o professor de Finanças da EESP-FGV (Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas em São Paulo) Samy Dana, mesmo com rentabilidade baixa sobre esse tipo de empréstimo, tendo em vista que os juros deles são menores, os bancos incrementam a proteção contra os calotes, já que os pagamentos das parcelas são prioridade, descontados na folha de pagamento.

Entre as hipóteses, o professor de Finanças da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras) Eduardo Vieira dos Santos Paiva observa que as instituições financeiras assumiram postura mais agressiva na modalidade, que completará neste ano uma década de vida.

SOLUÇÃO - Exigente e detalhista, herança dos mais de 50 anos de dedicação aos instrumentos musicais, o aposentado de Mauá Marim Pereira pensou muito bem antes de contratar um consignado. “Eu tinha um problema. Então emprestei um dinheiro para pagar em 24 parcelas. Pesar no orçamento, pesa. Mas é muito melhor do que continuar com a dor de cabeça que eu enfrentava”, conta, sem expor o que lhe perturbava.

Pereira, porém, garante que está muito aliviado, principalmente para extrair o melhor do seu trompete, instrumento predileto.

Operação é barata, mas deve ser usada com atenção

O crédito consignado é o mais barato disponível para o consumo no País. Apenas como comparação, enquanto sua taxa média, em agosto, era de 26% ao ano (1,9% ao mês), os empréstimos pessoais tinham custo médio 79% ao ano (4,9% ao mês).

A liquidação das parcelas do empréstimo direto na folha de pagamento é um mecanismo que diminui o risco de inadimplência dos bancos, que, por isso, deixam os juros baixos.

Mas o menor custo não significa que a modalidade deve ser utilizada sem planejamento, destaca o especialista em Finanças Pessoais do GuiaBolso.com Luiz Krempel.

O consignado é um empréstimo destinado, principalmente, para a liquidação de outras dívidas mais caras. “Como as parcelas de lojas e crediários atrasados, ou mesmo os cartões de crédito e cheque especial, que têm juros muito superiores”, diz Krempel.

Pelas regras da operação, existe um limite para o valor do empréstimo. As parcelas não podem ultrapassar 30% do benefício bruto mensal. Isso significa que, se a aposentadoria é de R$ 1.000, por exemplo, a mensalidade máxima será de R$ 300. “E pode ser feito em até 60 vezes”, pontua Krempel.

Para quem recebe o piso da Previdência Social, que hoje está em R$ 678, terá acesso a crédito com parcelas de, no máximo, R$ 203.

O professor de Finanças da FIA (Fundação Instituto de Administração) Ricardo Humberto Rocha alerta que esse tipo de recurso não deve ser um meio para financiar dívidas de pessoas próximas. “A gente faz um apelo para não emprestar para o parente. É quase uma regra. Ele não vai pagar.”

Krempel acrescenta que contratar uma operação de crédito para tentar salvar um filho, ou sobrinho, que está com dívidas, pode não ser uma boa ideia, tendo em vista que essas pessoas já estão enfrentando dificuldades e provavelmente também terão para garantir o retorno do dinheiro.

“Ainda mais com o alto endividamento das famílias, o filho encosta no pai e pede o empréstimo. Essa situação é complicada e perigosa. Ainda mais porque a renda dessa pessoa será reduzida em um ambiente de inflação em alta, principalmente dos
alimentos”, completa Rocha.

O BC revela que em julho, último dado disponível, 45,10% do salário das famílias estava comprometido com dívidas financeiras, em média. Para se ter noção, um ano antes, o registro era de 43,41% e, dois anos antes, 40,96%. Em 2010, eram 37,83%.
 




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