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Mãe de Eloá minimiza dor ao lembrar de órgãos doados

Ana Cristina Pimentel se tornou militante da causa; hoje é Dia Nacional da Doação de Órgãos

Por Cadu Proieti
Do Diário do Grande ABC
27/09/2013 | 07:00
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Andréa Iseki/DGABC


“Às vezes estou triste, com saudade da minha filha, e penso nas pessoas que receberam os órgãos dela, que não foram para o lixo ou a terra comeu. Eles salvaram vidas. É isso o que me anima.” Essa frase reflete o espírito de Ana Cristina Pimentel, mãe de Eloá Cristina, assassinada pelo ex-namorado Lindemberg Fernandes Alves, em 2008, após 100 horas de cárcere privado no Jardim Santo André, em Santo André. Hoje, Ana Cristina faz parte da luta pela doação de órgãos no Grande ABC.

A morte cerebral de Eloá, com 15 anos, abriu as portas da captação de órgãos no CHM (Centro Hospitalar Municipal) da cidade. Na ocasião, os profissionais viabilizaram os transplantes de sete órgãos da adolescente com o consentimento da família: coração, fígado, pulmões, rins, pâncreas e córneas. Antes disso, o processo cirúrgico só era realizado em São Paulo. O transplante ainda é feito somente na Capital. Há discussão no Consórcio Intermunicipal para a criação de uma OPO (Organização de Procura de Órgãos) dentro de um hospital público no Grande ABC, algo inédito na região.

“Na época, não sabia das dificuldades e do tamanho da fila de espera. Depois que doei e fui a Belém (Pará) conhecer a moça que recebeu o coração da Eloá, vi como era importante a doação de órgãos. É por isso que estou nesse projeto. Quando me chamam, sempre venho. Virei militante dessa causa”, disse Ana Cristina, que será uma das principais ativistas da 1ª Caminhada pela Doação de Órgãos, que ocorre hoje, a partir das 9h, em Santo André, com saída da Praça do Carmo.

Apesar de se confortar ao saber que os órgãos de Eloá fizeram com que outras vidas não fossem interrompidas, Ana Cristina ainda sente muita falta da filha. “A tristeza e a saudade são grandes. Ela era minha companheira. Em todo lugar que eu ia, ela estava junto. É muito gratificante saber que a Eloá continuou a fazer o bem depois que morreu.”

A mãe da adolescente afirmou que ainda mantém contato com pelo menos dois transplantados, que receberam o coração, rim e pâncreas de Eloá. “A minha iniciativa surgiu quando fiquei sabendo que tinha muita gente sofrendo e precisando de órgãos, pessoas que morreram esperando na fila. Conhecer quem recebeu os órgãos da minha filha foi gratificante, como a moça que ficou com o coração. Ela tinha previsão de apenas mais seis meses de vida e hoje está bem. O pai dela até falou que gostava de mim como uma filha.”

CAMPANHA

Além da caminhada, hoje, Dia Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes, também será realizada audiência pública sobre o tema na Câmara de Santo André. “Geralmente, quando as famílias não exercem a doação é por falha no processo ou desconhecimento. Essas ações são boas para levar mais orientação, informação e conscientização à população. Com maior conhecimento das pessoas, o número de doadores tende a aumentar”, explicou o gerente de Enfermagem do CHM de Santo André, Paulo Cezar Ribeiro, integrante da Cihdott (Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante).

No primeiro semestre deste ano, o CHM realizou a captação de 14 rins, três fígados, um pâncreas e seis córneas. A fila de espera por órgãos na cidade tem 221 pessoas. Em 2012, 27.567 brasileiros aguardavam por transplante. 




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