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Ficou para 2011

Por ‘motivos eleitorais', como se verá, acaba de ser frustrada uma tentativa de reengenharia na Polícia Civil

Por Wilson Marini
08/07/2010 | 00:00
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Por ‘motivos eleitorais', como se verá, acaba de ser frustrada uma tentativa de reengenharia na Polícia Civil do Estado que estava sendo gestada há um ano com apoio da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que bancou os custos de uma consultoria a respeito.

O plano era testar uma moderna central regional para o atendimento de chamadas e gestão do deslocamento de viaturas, além da unificação de delegacias. No planeta em mudanças, a Polícia Civil também quis se adaptar aos novos tempos. Se desse certo, a experiência poderia ser adotada em todo o Estado.

O projeto começaria experimentalmente neste mês nas seccionais de Piracicaba, Americana, Limeira, São João da Boa Vista, Casa Branca e Rio Claro, numa área que compreende 52 municípios e população de 2,8 milhões de habitantes. O Cepol (Centro de Comunicações e Operações da Polícia Civil), em Piracicaba, centralizaria o controle das informações.

A iniciativa se baseia na tendência de call centers, como fazem as operadoras de telefonia. A própria Polícia Militar está centralizando o atendimento do serviço 190 em regiões do Estado.

O objetivo seria aumentar a produtividade dos agentes policiais, que deixariam de fazer funções cartorárias e se dedicariam mais a ações conjuntas no combate ao crime - afinal, o que é esperado pela população. Pequenas unidades policiais absorvem demais os delegados em tarefas burocráticas, em prejuízo da investigação.

A reengenharia foi anunciada pelo governador Alberto Goldman em visita a Piracicaba no dia 21 de junho para inaugurar a sede da nova central, que custou 1,6 milhão, e iria propiciar "projeto piloto de reengenharia das unidades policiais civis do Estado". Uma data foi marcada para o início do projeto: 1º de julho. "Vamos ter uma polícia investigativa mais eficiente", prometeu o governador. Palmas.

Eleições
De fato, a maioria das delegacias foi instalada nas últimas três décadas de forma caótica e não integrada. Agora, são tempos de tecnologia e racionalização. "Não é possível manter a estrutura atual. Há a necessidade de se distribuir nossos recursos de forma mais racional. O crime não tem fronteiras e estávamos presos nas unidades", disse o delegado-geral, Domingos Paulo Neto. "Não se cogita a extinção de nenhuma unidade policial, mas sim o agrupamento delas", afirmou o delegado do Deinter-9 (Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior), Oduvaldo Mônaco. Goldman enfatizou que, com os avanços tecnológicos, ter acesso a uma delegacia não significa que seja preciso viver ao lado dela. E o secretário da área, Antonio Ferreira Pinto, tascou que a "Polícia Civil não é o número de imóveis, mas sim investigação. Polícia é serviço de inteligência, é troca de informações". O discurso oficial parecia redondo.

Mas faltou o bendito diálogo regional para azeitar o plano. A população passou a temer prejuízos com a ausência de delegacias mais próximas a suas casas. Em Sumaré, com o apoio de autoridades, 600 pessoas realizaram protesto contra a fusão dos distritos policiais e a prefeitura ameaçou retirar os 42 funcionários administrativos emprestados à Polícia Civil. Vereadores se movimentaram também em Hortolândia. Em Americana, o Ministério Público prometeu agir. E em Campinas, o Parlamento Metropolitano da Região Metropolitana manifestou-se contrário à reengenharia. O governo do Estado, sozinho, sem o apoio da opinião pública em ano eleitoral, recuou solenemente.

Às 18h do dia 30 de junho, fim do expediente da véspera do dia marcado para o início oficial da reengenharia, o delegado seccional de Americana, João José Dutra, recebeu telefonema informando que a ideia havia sido abortada. "Por se tratar de um ano eleitoral, o projeto poderia ser visto como uma manobra política, o que não é o caso", afirmou.

Em Limeira, o delegado seccional José Henrique Ventura também anunciou que a fusão dos distritos policiais não aconteceria mais, pelo menos por enquanto."Essa questão começou a dar problemas em Americana e Sumaré, pois as populações destas cidades se posicionaram contra a reengenharia, achando que os distritos iam ser fechados. Mas isso não aconteceria, apenas iriam para um local só".

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado explicou que "a iniciativa não será implantada em decorrência de dificuldades advindas de restrições legais impostas pelo período eleitoral, quanto à movimentação de recursos humanos e efetivação de despesas não previstas em orçamento, imprescindíveis à concretização do projeto, que, por sua extrema relevância, há de ser retomado em momento oportuno".

Combinado?
A suspensão do projeto acalmou a população e não criou animosidade aos candidatos do PSDB. O governo do Estado também não enfrentará problemas com a Justiça. Só faltou, a exemplo de Feola com os russos, combinar com os bandidos.




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