Economia Titulo Reflexo da pandemia
Covid afasta 200 em pneumáticas

Sindicato reclama que alta demanda pressiona trabalhadores; se somar a esse número demitidos em 2020, efetivo foi reduzido em 6,6%

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
16/03/2021 | 00:11
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DGABC


O novo coronavírus tem afastado parte do efetivo das duas fabricantes de pneus da região, a Bridgestone e a Prometeon. Em torno de 200 profissionais estão fora da linha de produção, sendo 143 retirados por pertencerem ao grupo de risco e aproximadamente 45 funcionários todos os meses ficam fora da fábrica por terem contraído Covid-19 ou por terem tido contato com alguém com o vírus.

O Sindicato dos Borracheiros da Grande São Paulo, que inclui a região e que levantou os dados, aponta que o volume também foi reduzido ao longo do ano passado em 210 profissionais, o que leva as baixas a quase 400 profissionais, ou 6,6% dos 6.000 que atuam em Santo André.

Segundo o presidente do sindicato, Márcio Ferreira, a redução da mão de obra efetiva nas fábricas impacta na produção, justamente em um momento em que a procura pelos pneus tem aumentado. “Tem muita gente afastada todos os meses, e as montadoras de caminhões continuam com muitos pedidos, mas os trabalhadores não estão dando conta da demanda”, afirma. “Os que continuam no chão de fábrica ficam pressionados e, embora a empresa pague hora extra, existe uma sobrecarga e a produtividade é comprometida. Se tem que entregar 400 pneus, por exemplo, entregam 350.”

As plantas do Grande ABC têm como principais produtos pneus para tratores e a caminhões, ambos integrantes de setores que têm tido alta demanda mesmo em meio à pandemia, por causa do agronegócio e da logística de produtos para os supermercados.

Na Bridgestone, conforme números da entidade, dos cerca de 3.500 funcionários, 156 foram demitidos ao longo do ano passado – entre cortes e adesões ao PDV (Programa de Demissão Voluntária), cujo número não foi especificado –, 116 estão fora da fábrica, no grupo de risco, e 21 estão afastados por Covid ou com suspeita de ter contraído a doença. Ou seja, isso já totaliza 293 profissionais ou 8,3% do quadro da empresa. Na Prometeon, dos aproximadamente 2.500 empregados, 54 foram dispensados em 2020, 27 são do grupo de risco e 24 estão afastados. Os 105 representam baixa de 4,2% do total.

O sindicalista alega que, com relação aos afastamentos por coronavírus, os números todos os meses giram em torno desses citados. Questionadas, Bridgestone e Prometeon disseram que não iriam comentar.


Entidade lamenta exclusão em reunião

No fim de fevereiro, comitiva do Grande ABC se reuniu em Brasília com o secretário especial de produtividade, emprego e competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa, para pleitear incentivos ao setor de pneus. Essa indústria, que emprega diretamente 28,8 mil trabalhadores no País – sendo 6.000 (21%) na região – pede condições igualitárias de competitividade com produtos importados, que tiveram alíquota de 16% zerada, no caso dos pneus de caminhões.

Nova reunião no Planalto, que ocorreria por esses dias, acabou sendo postergada devido ao agravamento da pandemia e ainda não possui nova data. A ideia é que as pneumáticas façam mapeamento da cadeia produtiva para identificar onde o governo federal pode interferir e reduzir a carga tributária do setor.

Participaram do encontro representantes das empresas, o deputado federal Alex Manente (Cidadania) e Paulo Serra (PSDB), prefeito de Santo André e presidente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. No dia da reunião, ele estimou que até o fim do ano sejam criados 300 postos devido ao aumento da demanda e da construção de complexo logístico para armazenagem e distribuição de pneus no segundo semestre em Santo André.

No entanto, de acordo com o presidente do sindicato dos borracheiros, Márcio Ferreira, por ora, não existe a perspectiva de contratação por parte das pneumáticas. “A situação é esta no momento e temos de conviver com ela, até porque a pandemia está longe de passar, ao que tudo indica. Mas os trabalhadores estão sobrecarregados”, reforça.

Ferreira lamenta não ter participado do encontro em Brasília. “O trabalhador ficou sem representação. Quando há demissão, a prefeitura não vai empregá-lo. Não levar representante do operário é uma enorme falta de consideração com as pessoas dentro da fábrica. Leva a entender que, se houver redução de impostos, isso só vai aliviar o custo financeiro da empresa, sem impactar o emprego”, dispara. “As companhias não pregam tanto compliance (transparência)? Mas por que não tinha representante do empregado? Quanto tem demissão, vai fechar alguma área ou reduzir benefício, ou seja, para dar notícia ruim, quem vai para a porta da fábrica é o sindicato. Agora quando vai falar com o governo, para dar notícia boa, chamam o prefeito.”  




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