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Cirurgia bariátrica: agora falta pouco

Pacientes aguardam fim de ‘novela’ para realizar sonho de fazer o procedimento na rede de São Caetano

Por Bia Moço
15/07/2018 | 07:00
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Faltam dois meses para terminar a espera de seis anos de Bianca Comitre, 45 anos, que vai realizar o sonho de fazer cirurgia bariátrica. Bianca deveria ser a primeira da lista no Programa de Endoscopia e Cirurgia Bariátrica de São Caetano, retomado em abril, porém como ainda luta para perder mais cinco quilos – ela tem 150, mas chegou a pesar 182 –, duas mulheres passaram na sua frente e operam na quarta-feira.

Mesmo assim, a agente de Saúde do município não desanima. Ela entrou na lista para cirurgia em 2012, mas o programa foi paralisado. Neste mês, ela termina de fazer, pela sexta vez, os exames pré-operatórios para “ficar lindona”, como ela mesma descreve.

Entrevistada pela equipe do Diário há três meses, Bianca agora comemora a perda de dez quilos. A moradora do bairro Mauá lamenta o fato de sentir dificuldade para andar e também de ter dores no corpo.Ela relata que toda sua família é obesa e, brincando, diz que já nasceu “grandalhona” e “cheia de fome”. A descendente de italianos conta que, por costume de família, gosta de mesa farta e pratos bem cheios. Quando questionada do motivo do sobrepeso, não têm dúvida: comida em excesso aliada à ansiedade.

“O pouco (de peso) que perdi foi tomando remédios. Agora tenho de fazer dieta, o que não consigo, e tentar caminhar, o que também tenho dificuldade, para perder mais cinco quilos e poder fazer a cirurgia”, explica Bianca. “Tenho uma péssima auto-estima. Sinto muita vergonha de mim. Sofro de depressão e não tenho dúvida que depois da cirurgia vou estar ‘me achando’. ''''Vou voar''''”, brinca.

Não é diferente com João Vitor Alves Presti, 31, que, com 200 quilos, está em fase final dos preparativos para inserção de balão gástrico para perda de peso. A opção foi escolhida por médicos da rede, tendo em vista o peso muito alto e os riscos que Presti correria na cirurgia.

Morador do bairro Boa Vista, ele deu início no tratamento em 2010, também pela Prefeitura de São Caetano, e espera que, em dois meses, seja atendido. Com a paralisação do programa, em 2013, realizou tratamento no Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André, e com a colocação do balão perdeu 32 quilos – foi de 222 para 190 quilos.

Atualmente está em 20º lugar na lista de espera, mas esperançoso de que sua vida irá mudar. “Estou terminando de fazer os exames. Vou passar pelo médico e agendar a colocação do balão.”

O analista afirma que, a partir de agora, vai mudar basicamente tudo. “A qualidade de vida será enorme. Terei perspectiva de poder ter uma família, filhos, crescer profissionalmente e ir em locais públicos sem ser notado. Coisas que para as pessoas ‘normais’ são fúteis, como pegar ônibus, poder sentar em qualquer cadeira. Tudo muda.”

O PROGRAMA

Com 165 pessoas na fila de espera, o município dará início às cirurgias bariátricas na próxima semana. A novidade será a ampliação no atendimento, que passa a realizar sete cirurgias por mês. O programa, iniciado em 2008, realizava um procedimento a cada 30 dias.

Até o início de 2013 – quando foi interrompido –, cerca de 224 pessoas foram beneficiadas. A meta para este novo ciclo é a de que sejam realizadas 100 cirurgias ao ano. A cidade terá investimento anual de aproximadamente R$ 3,5 milhões.

As demais cidades encaminham os pacientes ao programa do Estado.

Especialista diz que alerta é para prevenção


Para a médica gastroenterologista e integrante da FBG (Federação Brasileira de Gastroentereologia) Elaine Moreira, o aumento de cirurgias não é fator a ser comemorado, pelo contrário, é preocupante. “O número de cirurgias subiu porque a doença cresce a cada dia. Se a rede investir em prevenção e diminuir a quantidade de pessoas que chegam ao sobrepeso, o custo será menor e a garantia na qualidade de vida muito maior.”

De acordo com dados da SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica), o número de cirurgias realizadas no SUS (Sistema Único de Saúde) cresceu 215% entre 2008 e 2017. O aumento na rede pública é superior à média anual do setor privado, que registrou 7% nos últimos anos – no SUS, a taxa é de 13,5%. No Brasil, mais de 5 milhões de pessoas têm indicação para o procedimento.

Segundo o Ministério da Saúde, a obesidade cresceu aproximadamente 60% na última década e, diante deste cenário, a cirurgia é alternativa para tratar a doença e condições associadas ao sobrepeso, como hipertensão e diabetes tipo 2.

A especialista lamenta o preconceito que os obesos sofrem e relata que são estigmatizados, inclusive, por profissionais de Saúde mal preparados. “É uma doença grave, que deve ser olhada. Tem de ser tratada com carinho e respeito. Além disso, eles (obesos) precisam ter a prevenção. Essa doença tem de ser mais falada.”

A médica comemora o fato de o SUS investir mais nesta população, mas deixa o apelo para que invistam em cuidados iniciais.




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