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Projeto conscientiza mulheres sobre abuso na Vila São Pedro

Ação do grupo Rede Vida beneficia 120 moradoras da área periférica de São Bernardo; violência doméstica motivou 1.587 inquéritos até julho

Nelson Donato
27/11/2016 | 07:00
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Nario Barbosa


 “Durante 15 anos sofri agressões do meu marido. Hoje, luto para que mulheres mais jovens não passem pelo o que passei”. A afirmação é da dona de casa Rosaly da Silva Barrence, 52 anos, moradora da Vila São Pedro, em São Bernardo, que escancara problema grave de violência contra a mulher, principalmente em regiões carentes, onde o acesso à informação, por vezes, é restrito.

Para reverter esse quadro, o grupo Rede Vida, do qual Rosaly participa, se organiza para auxiliar as moradoras do bairro que sofrem com maus tratos por parte dos companheiros. A iniciativa trabalha, principalmente, com a conscientização e com o estímulo ao diálogo para evitar situações que terminem em agressões verbais ou físicas.

A importância da ação é evidenciada pelo número de inquéritos policias abertos para investigar crimes desta natureza entre as sete cidades. De janeiro a julho, foram iniciadas 1.587 investigações baseadas na Lei Maria da Penha nas quatro DDMs (Delegacias de Defesa das Mulheres) da região – Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá.

A violência de gênero não se restringe aos atos que terminam em agressões físicas, alerta uma das articuladoras do grupo Rede Vida, Ângela Alves da Silva Rocha, 38. “É preciso entender que os crimes não ocorrem apenas quando o homem bate ou mata uma mulher. Ações como xingamentos, por exemplo, são violências que poucas vezes são denunciadas.”

Ainda de acordo com a ativista, a estrutura familiar das comunidades carentes ainda segue modelo no qual o homem é aquele quem deve sustentar a casa”, fator que cria dependência por parte das mulheres. “Muitas das moradoras de comunidades carentes não trabalham fora. Por isso, os maridos se sentem no direito de tratá-las com desrespeito, já que eles sustentam os lares financeiramente. Por esse motivo, muitas evitam denunciar os agressores ou mesmo deixá-los, já que ficam com a ideia de que sem eles, não conseguirão se manter.”

Segundo Ângela, outro problema é o atendimento dado às mulheres agredidas. Para ela, os funcionários dos órgãos responsáveis por receberem as denúncias atuam como “robôs”. “Quando alguém sofre qualquer tipo de violência, é preciso dar atenção ao caso. Em relação às mulheres violentadas, isso é mais importante ainda. É preciso humanizar a forma como se trata a vítima, ouvir seus problemas”, considera.

RESPEITO
Com reuniões semanais, que contam com a presença de mulheres e homens, as ativistas do Rede Viva buscam levar aos participantes a importância do respeito que deve ser mútuo entre o casal. “É preciso entender que o diálogo é a base de tudo. Conversar evita brigas e agressões. Temos essas conversas na presença de maridos e namorados para que eles também se conscientizem sobre a importância de respeitar as companheiras.”

No caso de Rosaly, a criação conservadora no sertão baiano fez com que ela aguentasse as ofensas do marido. “Meu pai sempre xingava minha mãe. Infelizmente, é uma questão cultural e muitas mulheres aceitam isso. Eu, por exemplo. Um dia, porém, meu companheiro chegou bêbado em casa e me atirou no sofá. Instintivamente peguei uma faca e o ameacei. Nunca permiti que ele me machucasse fisicamente”, revela.

Em 2011, Rosaly e outras 120 moradoras da Vila São Pedro ingressaram no programa federal Mulheres de Paz, iniciativa que consistia na conscientização sobre os direitos da mulheres e acerca da importância da luta pela igualdade de gênero. “Mesmo eu participando do projeto, ele continuava com as ofensas. Pouco tempo depois, ele sofreu um acidente e teve traumatismo craniano. Hoje, apesar de tudo que ele fez, não o deixo desamparado.”

Rosaly, usa as experiências negativas para auxiliar as mulheres mais jovens a compreender que não precisam tolerar abusos por parte dos companheiros. “Hoje há mais informações. As nossas vizinhas podem se tornar independentes e, portanto, menos tolerantes em relação às agressões. Agora, temos meios para nos proteger. Não precisamos sofrer com a violência de gênero”, ressalta.




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