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Alice na era virtual

Mundo binário vira o país das maravilhas em espetáculo;
peça estreia nesta quinta-feira, no Centro Cultural Fiesp

Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
21/04/2010 | 07:00
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Na semana em que estreia no Brasil o filme "Alice no País das Maravilhas", de Tim Burton, a personagem de Lewis Carroll descobre um outro universo fantástico, desta vez no teatro, em "Alice Através do Espelho", a partir de amanhã no Centro Cultural Fiesp, em São Paulo.

Perdida em um mundo de códigos binários, onde a mídia faz a vez do universo paralelo, a mocinha parte em busca da realidade fantástica representada virtualmente.

"Quando você pega os parâmetros que Lewis Carroll (criador de Alice) usou para falar do fantástico, colocado como nonsense para os tempos normativos da era vitoriana, percebe que esse mundo, hoje, faz parte do nosso cotidiano", conta Rubens Velloso, diretor do espetáculo.

O espelho não ganha espectro de mergulho interno, mas de busca da representação. Como signo, ele representa a bidimensionalidade com que estamos tão acostumados no dia a dia. A Alice moderna - configurada em mais duas, a clássica dos livros de Carroll e a Alice Liddell, do mundo real, que serviu de inspiração para a composição do personagem original - deixa um bilhete no espelho de casa antes de desaparecer, dizendo que as coisas não fazem mais sentido e que ela vai sumir por um tempo.

Lorina, sua irmã, cria um blog para encontrá-la e tentar entender o que não faz sentido em seu mundo. Logo, essa página da internet vira ponto de encontro, onde os participantes assumem os apelidos dos personagens dos livros de Carroll, e a protagonista marca um encontro de blogueiros via skype (ferramente de comunicação por voz que substitui o telefone nos computadores).

"A Alice, como qualquer pessoa, quer ver refletido muito além do que é o mundo. Hoje, com os fluxos gigantescos dos meios de comunicação, você não pode chamar uma só coisa de real. E essa coisa se transforma no paradoxo que Carroll propunha traçar com o meio em que vivia, que hoje representa nosso senso comum da realidade. O fantástico já está acontecendo na vida de todos".

O cenário é um Campus Party, todo munido de aparatos tecnológicos. "Alice é um processo, um espaço de experimentação. O corpo, a palavra, a imagem, os espaços e a luz são mutáveis, são permeáveis, pretendem estar sempre em expansões cognitivas e de sentidos".

No elenco estão jovens atores do núcleo experimental de artes cênicas do Sesi-SP. "Todo mundo pode ser Alice um dia e falar que não quer ver apenas a sala refletida no espelho. A peça fala principalmente dessa nova geração e quais caminhos ela pode tomar através dessa realidade multiforme contemporânea", afirma Velloso.

Alice Através do Espelho - Teatro. No Centro Cultural Fiesp - Avenida Paulista, 1.313, São Paulo. Tel.: 3146-7405. 5ª a sáb., às 20h30, e dom., às 19h30. Grátis. Até 11 de julho.

‘Filha da Anistia' fala sobre o legado da ditadura

As marcas deixadas pela ditadura ganham contorno em "Filha da Anistia", peça exibida hoje, com entrada franca, no Teatro Conchita de Moraes, em Santo André.

A montagem, protagonizada e escrita por Carolina Rodrigues, conta a história de Clara. Após a morte da avó, ela quer estabelecer elo com o passado, procurando o pai que não conheceu. Com o endereço de um homem chamado Jorge, que julga ser seu pai, vai até ele. No encontro, fica evidente o abismo cultural que cerca a juventude alheia aos acontecimentos dos anos de chumbo em confronto com a dolorosa lembrança dos acontecimentos vividos por Jorge nessa época. Duas tramas entram em cena: a de Clara com Jorge e a de seus pais na juventude. A protagonista, aos poucos, tem seu passado revelado. Pelas surpresas que descobre, percebe que sua vida foi moldada por meio do que seus pais viveram, envolvidos como jovens militantes da resistência contra a ditadura.

"Durante o processo de criação da peça, uma pergunta ganhou força: qual ditadura existiu, a que nos foi apresentada na escola ou essa que estamos conhecendo na pesquisa?", diz Carolina.

Confira outras peças na região

Outras atrações compõem a programação teatral da região. Amanhã, a Cia. do Nó, de Santo André, toma conta do Teatro Municipal de Mauá. Às 20h, encena "A Dobra" e, antes, às 15h, apresenta "Yan Ran, Melodrama para Crianças".

"A Dobra" conta a história de William, um bem-sucedido empresário de 40 anos, que fica insatisfeito ao perder suas economias e acaba confrontando o jovem que era aos 20 anos. "Travamos também uma discussão sobre o homem que perdeu o poder de reflexão, só age de acordo com o reflexo do estilo de vida que deseja levar. As pessoas, hoje, descartam o diálogo consigo mesmas", diz o ator Esdras Domingos.

No infantil, uma cidade tomada pela ideia de modernidade recebe a visita do garoto Yan Ran, que possui um objeto mágico capaz de curar todos os males da humanidade. A paixão entre o menino e a filha de um grande homem de negócios da cidade põe em discussão temas como a natureza e a tecnologia.

O Senai São Bernardo traz amanhã e sexta, gratuitamente, "O Crápula Redimido". A peça conta a história do empresário Getúlio Miranda, que acredita que os sete pecados capitais são sua filosofia de prosperidade. Ao descobrir uma doença incurável, o crápula ruma à redenção e compreensão do outro. Sábado e domingo, a peça estará no Sesi Santo André.

Amanhã, também grátis, o Centro Cultural Serraria, em Diadema, apresenta Intolerância. Em briga de trânsito, homem mata um motoboy. Essa cena, apresentada diversas vezes na montagem, compõe mosaico que discute a violência.

No sábado, o Municipal de Mauá ainda recebe o musical "O Primo Basílio", que esteve em Santo André no fim de semana. A adaptação do romance homônimo do português Eça de Queirós, que conta o triângulo amoroso vivido entre Luísa, seu marido Jorge e o primo dele, Basílio, ganha canções da bossa nova no repertório.




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