Familiares de pacientes internados no Hospital Municipal Maria Braido, em São Caetano, receberam, nesta semana, telefonemas de golpistas se passando por médicos da unidade, que pedem quantia em dinheiro – entre R$ 1.500 e R$ 2.000 – para o pagamento de exames extras que o complexo hospitalar não poderia custear. Ao menos 11 pessoas receberam a ligação, na qual o indivíduo fala com riqueza de detalhes sobre os dados da família e das pessoas hospitalizadas. Ninguém realizou o depósito.

A Secretaria de Saúde da cidade instaurou sindicância via corregedoria municipal, na quinta-feira, para apuração interna, com previsão de conclusão em 30 dias. Comunicados sobre o golpe foram fixados no complexo hospitalar. A Pasta também registrou boletim de ocorrência no 2º DP (Santa Maria). A Polícia Civil abrirá inquérito.

O hospital possui 440 funcionários e o secretário de Saúde do município, Silvio Luiz Martinez, não descarta que os dados dos pacientes estejam saindo de dentro do equipamento. “Com informações tão precisas, são pessoas que têm acesso aos prontuários”, salientou ele, recordando que, dois anos atrás, caso parecido ocorreu no Hospital Municipal de Emergências Albert Sabin. “Mas não foi com essa intensidade, tão detalhado. Ficou preocupante.”

As pessoas que receberam o telefonema – na terça e quinta-feiras – preferem não se identificar. “A bandidagem está com informação sobre nós”, destaca um homem que está com a sogra internada no local para a colocação de marcapasso. “Se dizendo médico do hospital, (o golpista) falou que seriam necessárias sete tomografias que o SUS (Sistema Único de Saúde) não cobria, mas que ele tinha clínica que faria por R$ 2.000. Disse que teria de correr contra o tempo, senão, minha sogra iria a óbito”, relata. Desconfiado com a quantidade de tomografias exigidas, o casal foi ao hospital e soube que outras pessoas também haviam recebido o telefonema.

Um rapaz que está com a irmã hospitalizada ficou surpreso com o requinte de detalhes. “Se meus pais (de 70 e 74 anos) tivessem atendido, iam depositar o dinheiro.”

Para uma mulher, que está com o pai internado, o golpista forneceu número de celular que seria do diretor do hospital, mas ela confirmou com a unidade que se tratava de golpe. O Diário ligou no número e, ao perguntar quem falava, o homem se identificou como médico do Hospital Bandeirantes (na Capital), e completou em tom de ameaça: “Curiosidade é um dom feminino, cuidado.”

Em Ribeirão Pires, UPA registrou a mesma situação dois meses atrás

Em junho, o Diário noticiou caso semelhante ocorrido com pessoas que tinham parentes internados na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Ribeirão Pires. Ao menos seis famílias também receberam telefonemas de estelionatários se passando por profissionais da unidade, pedindo dinheiro para a realização de exames.

A abordagem foi a mesma ocorrida em São Caetano. Para a filha de uma senhora que estava hospitalizada, o golpista, que se identificou como chefe de emergência do local, disse que foi constatada hemorragia no pâncreas do paciente e que, se não passasse por cirurgia urgente, poderia morrer. O indivíduo falou ainda que seriam necessárias três tomografias, que custariam R$ 1.400.

A Secretaria Municipal de Saúde registrou boletim de ocorrência no 1º DP (Centro). De acordo com a Polícia Civil, foi instaurado inquérito, que ainda está em andamento.

Neste ano, hospitais de Marília e Bauru, no Interior, e de cidades de Minas Gerais e Piauí também registraram essas ocorrências.