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Velhos amigos

Ex-prefeitos e arquirrivais Gilson Menezes e
José Augusto unem após quase 30 anos de briga

Por Leandro Baldini
Do Diário do Grande ABC
08/08/2016 | 07:00
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A briga em Diadema começou no fim de 1987, período pré-eleitoral à disputa pela Prefeitura em 1988, e meses antes da convenção partidária do PT, quando eram companheiros de partido. Prefeito na ocasião, Gilson Menezes (hoje no PDT) e o diretor de Saúde, José Augusto da Silva Ramos (PSDB), iniciavam ali uma rivalidade ácida, recheada de ofensas e ataques que marcaram a história política do município. Os dois, que cinco anos antes protagonizavam uma relação de pupilo e aprendiz, inflamados pela ideologia partidária do petismo recém-criado e que aflorava no País como identidade do trabalhador brasileiro, rompiam elo, com promessa eterna de afastamento. Quase 30 anos depois, o que era, até então, impensável na cidade se tornou realidade. Gilson e Zé Augusto estão juntos no projeto político que tem como objetivo reeleger o prefeito Lauro Michels (PV). O chefe do Executivo tinha apenas 5 anos de idade quando os ex-prefeitos deflagraram guerra particular.

Em outubro, os veteranos políticos tentarão conquistar cadeira no Legislativo, além de, pelas ruas do município, pedir voto a Lauro contra os projetos do PT, representado pelo parlamentar Manoel Eduardo Marinho, o Maninho, e do PRB, encabeçado pelo vereador Vaguinho do Conselho, tidos como principais adversários.

Figuras centrais do petismo, estereotipados com a imagem de socialista – ambos ostentavam com orgulho barbas longas –, passaram da amizade para disputa de poder. A fissura entre os então aliados ficou evidenciada porque se tratava justamente de uma primeira gestão petista no País. A discordância partiu quando Zé Augusto foi escolhido pela maioria do diretório para corrida eleitoral, contra a vontade de Gilson, que apoiava Cláudio Rosa, seu diretor de gabinete.

“O Zé Augusto foi convidado pelo Gilson para integrar a equipe de governo, após se destacar como médico no hospital da cidade, como pronto-socorrista. Tinham uma relação de confiança”. contou ex-petista e hoje prefeiturável pela Rede, o advogado ambientalista Virgílio Alcides de Faria. Virgílio foi caseiro de Zé Augusto, na residência que o tucano mantém até hoje na Rua das Perobas, no bairro Eldorado.

“Ali foi mostrada a primeira traição no PT, porque havia uma relação de proximidade e, na hora H, uma briga gigantesca, por egos”, relembrou Manoel Boni, 61 anos, à época vereador pelo PT.

Frustrado com a decisão do diretório petista, Gilson demitiu Zé Augusto da Prefeitura e funcionários ligados a ele. Deixou o PT, e mesmo sem legenda trabalhou Rosa para a disputa contra seu ex-pupilo na eleição. Acabou derrotado.

Vitorioso e eleito novo prefeito, Zé Augusto não deixou por menos e, como retaliação, demitiu servidores públicos de carreira ligados a Gilson.

“Eles tinham perfis diferenciados. O Gilson era bonachão, carismático, vindo do sindicato. Já o Zé era executor, uma espécie de gerente. Braço direito nos planos do prefeito”, relembrou o presidente da Câmara, José Dourado (PSDB), aliado mais próximo de Zé Augusto nos dias atuais.

No PT, o hoje tucano prosperou. Elegeu seu secretário de Obras, José de Filippi Júnior (PT), que também viria ser rival político, e ainda conseguiu o feito inédito de se eleger deputado federal, em 1994. “O Zé Augusto se tornou a principal figura entre os petistas. O que dizia era lei. Vencer uma eleição para o Congresso foi um projeto muito grande para época”, adicionou Dourado.

Para eleição de 1996, a rivalidade com Gilson voltou à tona. Zé Augusto, a forceps, se lançou candidato à Prefeitura novamente, depois de interna briga fratricida e que dividiu o PT ao meio. No PSB, Gilson voltava à concorrência e, justamente explorando briga no diretório petista. Saiu vitorioso.

Um ano depois, a derrota ao Paço, atrelada a outras desavenças, custou a Zé Augusto a expulsão do PT. De fora, ensaiou uma reaproximação com Gilson, como foi retratado pelo Diário (em charge ilustrada, à esq.). O elo, porém, não se reafirmou.

Novo enfrentamento ocorreu em 2000, recheado de troca de farpas, na eleição municipal. Na ocasião, Zé Augusto, já no PPS, tentava evitar reeleição de Gilson, que, na ocasião, disse: “Eu não teria saído do PT se não fosse o mau-caráter do José Augusto”. Desta vez, o então popular-socialista superou o antigo aliado, mas perdeu em segundo turno para Filippi. Quatro anos depois, novo confronto. Enfraquecido politicamente, Gilson ficou distante da disputa, porém, marcou o período eleitoral novamente alfinetando o agora tucano.

Nos pleitos de 2008 e 2012, Gilson tornou a apoiar o PT, cada vez mais distante de Zé Augusto. O hoje pedetista se aliou ao PT, sendo vice de Mário Reali.

Passadas as décadas de cotoveladas políticas e retaliações, ambos procuraram minimizar aproximação, mas sem afagos.“Em um momento importante temos de ressaltar a soma”, resumiu Zé Augusto. “Não somos amigos, mas podemos estar pelo mesmo ideal. O que passou, passou”, discorreu Gilson.

Ponto de pacificação entre Zé Augusto e Gilson, Lauro, hoje com 34 anos, celebrou o fato. “É orgulho para mim ter conseguido unir dois homens que ajudaram na construção da nossa cidade.” Curiosamente, a família Michels juntou inicialmente os antigos desafetos. Gilson e Zé Augusto somaram forças para tirar o grupo do tio-avô do atual prefeito, também chamado Lauro Michels, do poder, em 1982. 




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