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Amigos lembram Cássia Eller
Melina Dias
Do Diário do Grande ABC
10/12/2005 | 08:25
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Neste sábado Cássia Eller faria aniversário. Foi antes da hora há quatro anos e deixou no ar seu vigor, a vibração da roqueira que cantava muito, cuspia e enfrentava o público de peito aberto e, às vezes, à mostra. Mas a homenagem hoje enfatiza uma outra face da artista – intérprete de gosto musical refinado, suave e divertido. É a audição comentada do CD Cássia Secreta, dos compositores paulistas Hermelino Neder e Luiz Pinheiro, neste sábado, às 18h, na Fnac Paulista (tel.: 2123-2000). A entrada é franca.

A dupla conheceu Cássia no início da carreira, uma fase de dureza, quando ela e Eugênia deixaram o público amigo de Brasília e vieram tentar ampliar horizontes em São Paulo. É desse primeiro encontro que Neder gosta de lembrar como um momento especial. "Eugênia, simpática, falava por ela (a timidez de Cássia beirava a patologia). Comecei a mostrar minhas músicas, e ela gostava de tudo, falava 'grava essa, grava essa também'. Fui elogiado e me senti bem, até que Eugênia insistiu para ela cantar. Fiquei impressionadíssimo e disse: 'A artista aqui é você!'. Isso aconteceu na minha sala!", conta, empolgado.

Da convivência e troca artística – eles precisavam de uma intérprete e ela de bons compositores – nasceu o repertório básico dos dois primeiros discos de Cássia, Cássia Eller (1990) e O Marginal (1992). É a "fase MPB" da carreira, e quando Neder conta a história tem-se a impressão de que o rock foi uma saída correta do ponto de vista mercadológico. "Nessa fase ela gravou majoritariamente compositores de São Paulo. É pouco conhecida, mas revela que ela tinha um gosto artístico sério. Há muita coisa por trás do rótulo de roqueira", afirma.

Vale situar rapidamente a posição artística da dupla Neder e Pinheiro, parceiros de gente do naipe de Arrigo Barnabé, Carlos Rennó, Itamar Assumpção (1949-2003) e Mário Manga. Amigos de infância, o primeiro enveredou pela formação acadêmica em música, é também arranjador e professor. Luiz é psiquiatra, mas nunca deixou a música e a poesia.

E a tal audição comentada? "É uma prática muito comum nos Estados Unidos e na Europa. O artista não faz um show (o disco é repleto de participações especiais, o que também inviabiliza a execução ao vivo), mas ouve e comenta algumas ou todas as faixas, seus arranjos, um determinado solo... É uma maneira de o público entender como o artista pensa, seu processo criativo", diz Neder, que foi aluno do maestro Hans Joachim Kollreuter e recentemente doutorou-se pela PUC-SP com tese sobre a técnica de composição desenvolvida por ele para criação de trilhas sonoras.

No encarte do CD é contada a história de cada faixa, a relação pessoal de Cássia com a canção, e letra acompanhada de cifras. Um belo presente de aniversário, coisa fina, que só poderia vir de velhos amigos.




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