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Pandemia aprofunda queda nos exames de mamografias na região

Todas as cidades tiveram redução no volume de procedimentos; Outubro Rosa tenta reverter cenário

Yasmin Assagra
Do Diário do Grande ABC
05/10/2020 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


O Outubro Rosa deste ano chegou com responsabilidade ainda maior. O mês, criado para alertar mulheres sobre a prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama, apresentava dificuldade na conscientização, mas, neste ano, encontrou outro duro adversário: a Covid-19. De acordo com o Datasus, sistema de dados mantido pelo Ministério da Saúde, em 2020, 15.612 exames de mamografia foram realizados de janeiro a agosto, queda de 52% se comparada com igual período de 2018, quando 32.391 diagnósticos foram realizados. No ano passado, foram 23.993 procedimentos.

O número impressiona pela redução significativa a cada ano nas sete cidades. São Bernardo atingiu 12.506 exames em 2018. Esse volume caiu para 11.794 no ano seguinte e, em 2020, chegou ao patamar de 7.747. Até mesmo Diadema, que vinha na contramão regional, apontou diminuição – teve 715 exames em 2018, subiu para 1.442 em 2019, mas está em 643 neste ano.

O aprofundamento da queda no número de diagnósticos está associado diretamente com o período de isolamento físico. Há medo de frequentar hospitais ou laboratórios. Existem também casos de esquecimento para agendar o exame. “A prevenção é uma coisa que precisa ser lembrada todo tempo. Claro que, na pandemia, foi recomendado que todos ficassem em casa, principalmente, os idosos ou pessoas que apresentem um outro problema de saúde. Eles só tinham de procurar a unidade de saúde se fosse urgência. Porém, olhando os dados, não só da região mas de todo País, já existia uma queda até mesmo antes da Covid, justamente, por não termos essa política contínua na saúde”, detalha a oncologista da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica) e coordenadora do comitê de cuidados paliativos e suporte, Fátima Gaui.

A política contínua à qual a especialista se refere se trata de um acompanhamento cotidiano na saúde para essas mulheres. Para Fátima, algo fundamental para os diagnósticos precoces. “O programa seria ideal para esse planejamento. Ou seja, a saúde dos municípios precisa identificar aquelas mulheres que não fizeram o exame naquele ano ou naquele período e fazer com que elas fossem chamadas automaticamente. A prevenção precisa ser feita todo tempo, o que vai além do Outubro Rosa”, declara a oncologista.

Nos meses iniciais da pandemia – março e abril – os médicos indicaram que os pacientes ficassem em casa para evitar a proliferação do vírus. Exames periódicos sem urgência foram suspensos, bem como cirurgias eletivas. Depois, nos meses seguintes, gradualmente, as consultas foram retomadas, com o reagendamento dos exames necessários para que os diagnósticos precoces fossem detectados. O que aconteceu com a autônoma Heloísa Montanari, 59 anos, que retornou ao médico para exames de rotina em julho e descobriu o câncer de mama.

“Apesar do medo diante da Covid, eu não deixei de fazer esses exames, pois algo estava me dizendo que eu precisava fazer. Por isso, fui tranquila e sabendo que era necessário”, diz. Heloísa conta que realizou todos os exames e descobriu o nódulo pelo ultrassom das mamas. A princípio, os médicos não sabiam ao certo se aquele nódulo era cancerígeno e foi necessário realizar a biópsia. “Eu ainda fiz a besteira de abrir meu exame antes da biópsia e procurar na internet, mas já me preparei e busquei solução o quanto antes. A doença não ia me abalar.”

Heloísa ainda ressalta que, apesar de ter descoberto precocemente, sabia dos riscos do nódulo aumentar e do seu tratamento ficar mais difícil. “Foram meses de preocupação, não teve jeito. Mas eu estava fazendo a coisa certa e buscava forças, apoio da família para continuar. Isso foi essencial”, lembra. A autônoma realizou a cirurgia em setembro em hospital privado de São Bernardo e segue em recuperação. “Quando retornar ao médico vou saber ainda ao certo quais tratamentos vou precisar fazer, mas tenho certeza de que a fé e a corrente de orações já me curaram da doença”, comenta.

Em paralelo ao tratamento, Heloísa deseja participar de rodas de conversas para incentivar outras mulheres a procurarem ajuda e realizar os exames com frequência. “Aprendi muitas coisas que eu não sabia sobre essa doença e vou levar para outras mulheres do meu jeito.”

Pesquisa aponta que mulheres têm medo de ir nas consultas durante a pandemia
A pedido da Pfizer, o Ibope realizou pesquisa para checar os hábitos de saúde relacionados à prevenção e ao controle do câncer de mama. Foram entrevistadas 1.400 mulheres, a partir de 20 anos, de São Paulo (Capital) e das regiões metropolitanas de Belém, Brasília, Porto Alegre, Recife e Rio de Janeiro. Pelo menos 62% das mulheres responderam que estão esperando o fim da pandemia para retornar ao médico e realizar exames de rotina.

Diante dos resultados, a diretora médica da Pzifer, Marjorie Dulcine destaca que o cenário é preocupante. “Devido à pandemia e essas dúvidas sobre a Covid, as mulheres atrasaram consultas e exames para detecção do câncer de mama. Entendemos o medo da Covid, mas é preocupante, pois isso pode impactar nos próximos meses em outras doenças”, avalia.

Ainda de acordo com o levantamento, 72% das mulheres entrevistadas vão ao médico pelo menos uma vez ao ano. Porém, uma em cada quatro respondeu que não conversa com o médico sobre a prevenção ou, em muitas vezes, não recebe orientações sobre a importância dos exames anuais.

Diretora de corpo clínico e coordenadora da oncologia clínica do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), Maria Del Pilar Estevez Diz, analisa que o câncer de mama não tem causa única. “Os fatores hereditários correspondem a apenas 5% a 10% do total de casos. É importante que desde cedo as mulheres sejam informadas e orientadas a cuidar da sua saúde”, explica.

Prefeituras iniciam ações que vão acontecer o mês inteiro
As prefeituras da região vão realizar atividades do Outubro Rosa mais restritas este ano por causa da pandemia. Em Santo André, por exemplo, durante todo o mês, as unidades de saúde reforçarão o tema durante as consultas. Além disso, dia 17, os equipamentos estarão abertos para a realização do exame papanicolau e encaminhamento a mamografia.

Em São Bernardo, a rede de saúde realizará ação com oferta de mamografia em unidade móvel, com atendimento agendado no Caism (Centro de Atenção Integral a Saúde da Mulher) entre hoje e sexta-feira. Além do exame, que terá o relatório emitido logo após sua realização, a paciente poderá passar em consulta com o ginecologista e colher o papanicolau. A capacidade do mamógrafo é de 80 exames por dia. Caso esse limite seja alcançado, a paciente recebe uma senha para o dia seguinte. De 13 a 30, a unidade móvel estará em frente à Igreja Matriz, com atendimentos nos mesmos moldes.

Já em São Caetano, a programação começou dia 1º e seguirá durante todo o mês, com palestras e rodas de conversas no Centro de Oncologia Luiz Rodrigues Neves para as pacientes que estiverem em dia de atendimento. Além disso, a Prefeitura vai realizar mais quatro palestras on-line em parceria com a USCS (Universidade Municipal de São Caetano) – o link será divulgado para todos os pacientes da oncologia. O Caism também realizará consultas com o mastologista com horário pré-agendado, entre 19 e 23. Para mais informações, as mulheres devem ligar para o 4233-7501.

Diadema optou em manter as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) decoradas com o tema para sensibilizar a população e profissionais, além de promover rodas de conversas temáticas virtuais e distribuição de material informativo. Em Rio Grande da Serra, a cidade atenderá mulheres da região realizando exames preventivos de hoje até sexta-feira, nas UBSs do município e, em paralelo, farão o encaminhamento para mamografia em pacientes a partir dos 35 anos.

Mauá e Ribeirão Pires não responderam aos questionamentos do Diário até o fechamento desta edição.




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