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Casa de 1950 preserva pequena parte da história da Antônio Piranga

Nos seus três quilômetros de extensão, via concentra comércios, indústrias e bancos, além da Câmara e do Quarteirão da Saúde

Por Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
17/08/2020 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Com três quilômetros de extensão e uma das principais vias comerciais de Diadema, a Avenida Antônio Piranga, que passa pelo Centro, além dos bairros Canhema e Vila Nogueira, tem pelo menos uma casa dos tempos em que ainda era de terra batida e rodeada de mato. Em que pese a Prefeitura apontar que ainda existem seis residências, a reportagem do Diário percorreu os três mil metros da via e encontrou apenas uma, construída por volta de 1950 e totalmente preservada pela família Kuroiwa. No imóvel de portão, portas e janelas antigas, hoje habitam seis pessoas, entre elas Lilian, 34 anos.

Com um álbum de fotografias em mãos, ela lembrou sua história de vida enquanto mostrava imagens que comprovam que a família preserva a tradição e mantém a casa intacta, inclusive com a mesma disposição mobiliária. “Moro nesta casa desde que nasci”, contou, mostrando fotos de quando ainda era bebê, na mesma sala em que recebeu a equipe de reportagem.

O responsável por enraizar a família Kuroiwa no endereço foi o avô de Lilian, Mitsuki. A foto em homenagem ao batian (avô em japonês) fica no centro de uma estante, na sala principal, rodeada por retratos de toda a família. “Temos nessa rua uma raiz muito forte. Há muitos anos a família recebe várias propostas para vender o imóvel. O ponto é muito cobiçado, principalmente por empresários. Mas ninguém quer sair daqui, não”, brincou Lilian.

Para ela, além da tradição e raiz familiar, o que segura os Kuroiwa na casa é o fato de que está em uma “localização maravilhosa”. “Estamos perto de tudo e fazemos tudo a pé. Aqui temos a linha do trólebus, todos os tipos de comércio, restaurantes e centros médicos. Não temos do que reclamar”, afirmou, revelando que considera a avenida como uma das mais importantes de Diadema, sobretudo pelo fácil acesso aos demais bairros da cidade, além de fazer ligação com a Capital, pela Avenida Kennedy, e com São Bernardo, pela Avenida Piraporinha. A rua também abriga a Câmara de Vereadores, unidade do INSS e a sede do sindicato dos servidores.

As mudanças de cenário, porém, estão na memória de Lilian, que relata que, quando pequena, de sua janela via somente mato e, aos poucos, percebeu que o local foi tomando outra forma, ganhando mais comércios, indústrias e movimento. O divisor de águas, segundo ela, foi a instalação da linha do trólebus. “Foi quando começou a ter mais movimento, sobretudo empresarial.”

O NOME
A Avenida Antônio Piranga é uma homenagem a Antônio José de Oliveira, dono de terras em Diadema quando a cidade ainda era distrito de São Bernardo. Segundo a Prefeitura, Oliveira tinha uma fazenda onde é hoje o Centro da cidade, e que também envolvia todo o bairro Serraria.

O nome da via foi dado por sua mulher, Amélia Eugênia, que hoje também é nome de rua em Diadema. A denominação existe desde 1925, muito antes da emancipação política do município, que ocorreu em 1959.

Vaz Gomes, há 48 anos na via, tem a fama de restaurante ‘vip’
O restaurante Vaz Gomes, inaugurado em 1972 no número 1.024 da Avenida Antônio Piranga e especializado em culinária portuguesa, é considerado a ‘casa vip’ de Diadema. Famoso pelos pratos que levam bacalhau, o ponto é conhecido não somente por frequentadores da via e moradores, mas também pela população do Grande ABC e Capital.

Há 48 anos, o estabelecimento foi fundado por Vitorino Santos Gomes, 84. No entanto, hoje quem mantém a tradição da família são suas sobrinhas, Silvia Augusto Gomes Masson, 48, e Karen Miralha Gomes, 46. Segundo elas, antigamente a via tinha viés mais industrial, e devido à alta quantidade de empresários no entorno, o restaurante ficou conhecido como espaço ‘vip’ do almoço executivo.

“Meu tio tinha um mercadinho do outro lado da Imigrantes. Quando comprou esse terreno, resolveu dar início a um restaurante, mantendo as tradições portuguesas da família, tendo como destaque pratos à base de bacalhau, além dos tradicionais bolinhos. Com o crescimento industrial da via, o espaço, que antes era somente um salão, teve de ser ampliado para dar conta de receber os empresários que vinham almoçar aqui”, revelou Silvia.

A mantenedora explicou que, anos depois, seu irmão Marcelo se tornou sócio do tio, e passou a tomar conta do local, ao lado de Karen, já que Vitorino mudou-se para Portugal com a mulher Prazeres dos Santos Gomes. “Meu irmão morreu há dez anos e, pouco antes, me chamou para ajudar aqui. Hoje, com muito orgulho, eu e minha cunhada mantemos a tradição da família, ao lado do meu tio, que sempre está por aqui”, disse Silvia, ao lembrar que, quando pequena, a avenida ainda era de terra. “Vinha almoçar com meus pais, e isso era tudo de terra. Não tinha nada, além de mato e terrenos. Foi depois de anos que a Antônio Piranga começou a se fortalecer comercialmente”, lembrou.

DE FAMÍLIA
Silvia disse que a paixão pelo ramo gastronômico é “coisa da família Gomes”. Embora seu tio Vitorino tenha seguido para o lado voltado a refeições, seu pai, Henrique, e outros três tios (Elias, José e Lauriano) foram os proprietários da padaria Central, em Santo André, durante 30 anos, vendendo o ponto em 2010.

Via leva à Capital e São Bernardo
A Avenida Antônio Piranga, que corta a região central de Diadema, é conhecida pelo alto fluxo, seja de carros, transporte público ou mesmo de pessoas a pé. Além dos 160 pontos comerciais, sete indústrias e agências bancárias, os três quilômetros de extensão são também usados como ponto de passagem, já que o caminho liga a cidade à Capital e também ao município de São Bernardo.

O vaivém pela Antônio Piranga é acompanhado diariamente pelo taxista Nivaldo Ives da Rocha, 69 anos. Ele destaca que o movimento é intenso, sobretudo pela quantidade de pessoas que trabalha no local. O motorista fica em ponto em frente ao Quarteirão da Saúde, equipamento da Prefeitura, de onde chegou a transportar cerca de 90 pessoas em apenas um dia.

“Agora o movimento está ruim, por causa da pandemia do coronavírus. Mas essa via tem muita gente. Sempre atendi passageiros que vieram para cá pelos mais diversos motivos”, revelou Rocha.

REFORMA
Projeto antigo, a Prefeitura de Diadema pretende transformar a via em calçadão comercial, deslocando o corredor de trólebus para a Avenida Fábio Eduardo Ramos Esquível. O boulevard sairia da Praça Lauro Michels, nome em homenagem ao tio-avô do prefeito Lauro Michels (PV), no Centro, e seguiria até o terminal de ônibus, na divisa com a Capital.

Segundo a administração municipal, o Paço aguarda o retorno da Secretaria dos Transportes Metropolitanos e da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) sobre a viabilidade e a destinação de recursos para execução da obra.

Para o prefeito, a avenida tem valor cultural e histórico. “Facilita o acesso e a circulação dos moradores e tem um centro comercial pujante. Fico muito feliz em poder ter contribuído com a revitalização das calçadas, fortalecendo o comércio da região e dando mais segurança para as pessoas caminharem pelo local”, comentou o chefe do Paço.




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