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Estado vai produzir vacina contra o novo coronavírus

Desenvolvida em parceria com laboratório chinês, imunização será testada em 9.000 pessoas

Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
12/06/2020 | 00:01
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Governo do Estado de SP


O Instituto Butantan, na Capital, vai produzir a vacina contra a Covid-19, em parceria com o laboratório chinês Sinovac Biotechom, sediado em Pequim. O anúncio do imunizador, batizado como CoronaVac, foi feito ontem pelo governador do Estado, João Doria (PSDB), durante coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes, em dia que o tucano considerou como “histórico para o Brasil”. 

O estudo já está na terceira e última fase de testagem, na qual, a princípio, serão vacinados 9.000 voluntários brasileiros e, se provada a eficácia da fórmula, a previsão é a de que as doses estejam disponíveis à população ainda no primeiro semestre de 2021.

Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan e integrante do Comitê Estadual de Contingência do Coronavírus, explicou que, na primeira etapa de estudos, a vacina foi aplicada em macacos. Já na Fase 1, que deu início na testagem humana, 144 voluntários receberam a dose e, na Fase 2, mais 600 pessoas foram imunizadas, todas da China. A terceira fase será no Brasil e, depois de comprovada a funcionalidade da imunização, a expectativa é a de que seja aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para que a produção em massa possa ser iniciada. O custo desta última fase será de R$ 85 milhões, financiado pelo governo de São Paulo. 

"A partir daí (com aprovação da Anvisa), em um primeiro momento, poderá vir da China (a vacina), que já terá a produção em grande escala e, em segundo momento, será feita no instituto”, confirmou Covas, pontuando que a Fase 3 considera estudo populacional. “É a situação real, de pessoas expostas à infecção, onde será verificado se ela (vacina) protege ou não contra o coronavírus”, confirmou. 

O princípio ativo, segundo Covas, contém apenas fragmentos do vírus. “Ela (vacina) tem o coronavírus inativado. Junto com a dose é colocado um adjuvante para melhorar a resposta imunológica,”, disse. 

Em seu discurso, Doria lembrou que, somando todos os estudos em execução, o mundo já está produzindo mais de 100 vacinas – até agora foram divulgadas 130 –, reforçando que somente dez estão em fase final de testes. “A (vacina) do Butantan é uma das mais avançadas. Os estudos indicam que estará disponível até junho de 2021”, comemorou o governador.

O tucano afirmou que todas as pessoas que se disponibilizarem a fazer o teste receberão acompanhamento médico, que analisará possíveis reações e complicações, assim como a proficiência do imunizador. “Comprovada a eficácia e segurança (da dose), o instituto terá o domínio da tecnologia e poderá produzi-la e fornecê-la pelo SUS (Sistema Único de Saúde) de forma gratuita”, acrescentou, lembrando que outros estudos estão sendo feitos na Capital, como é o caso da vacina por spray nasal, em desenvolvimento pela USP (Universidade de São Paulo). 

MAIS ESTUDOS 
Outra vacina contra a Covid-19 será testada no Brasil – inclusive em São Paulo –, em 2.000 voluntários. A imunização está sendo desenvolvida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e é considerada uma das mais promissoras, sobretudo por estar em fase avançada, testando a eficácia em larga escala humana. Mas a expectativa é que, se tudo der certo, as doses fiquem prontas no início de 2021. 

Especialistas pedem calma, mas demonstram otimismo

No mundo, 130 vacinas contra a Covid-19 estão em desenvolvimento, sendo que, destas, somente dez entraram nas fases de estudo final em humanos. Com a chegada da testagem da CoronaVac ao Brasil, em parceria do Instituto Butantan, na Capital, e o laboratório chinês Sinovac Biotechom, sediado em Pequim, o País soma duas doses circulando para avaliação – a outra é que está sendo produzida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido. No entanto, mesmo que ambas estejam na última etapa, portanto já avançadas e, tecnicamente, consideradas seguras, especialistas preferem esperar antes de comemorar a eficiência das imunizações contra o coronavírus.

Diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Renato Kfouri pontua que outras vacinas, além da britânica e chinesa, devem ser testadas no Brasil, tendo em vista a situação epidemiológica do País. “Há várias tecnologias em desenvolvimento”, explica. Já sobre esperar resultados, o especialista garante que ainda é prematuro prever funcionalidade. “É imprevisível dizer se vai dar certo. As primeiras vacinas não serão, necessariamente, as melhores. Pode ser que sejam as primeiras a não darem certo, ou podem ter um desempenho ótimo. Não dá para saber. Isso somente os estudos podem dizer”, argumentou o diretor da SBIm.

Apesar de reforçar que é preciso esperar pelos resultados, Kfouri acredita que, tanto no País como em todo o mundo, pesquisadores encontrarão um caminho. “Não sei com qual das tecnologias em estudo, muitas delas nunca utilizadas até hoje em vacinas licenciadas. Não conhecemos ainda as respostas”, pontuou o especialista, que se diz otimista, de maneira geral, “com todas as vacinas”. “Acredito que encontraremos, pelo caminho da imunização, uma forma de combater este vírus”, previu.

Infectologista e professor da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Munir Akar Ayub avalia que, com mais de 100 vacinas em pesquisa, é possível que mais de uma funcione contra a Covid-19. “Pode ser que várias vacinas saiam juntas, funcionem ao mesmo tempo, ou que nenhuma delas sirva. Então é o tempo que vai dizer o que temos”, analisou.

Quanto aos riscos aos voluntários, ambos destacaram que, para chegar na fase três, as doses já passaram por testes em animais e em pacientes, mesmo que em menor escala. “Os voluntários se arriscam, mas é um risco pequeno, porque os testes das fases anteriores também já testaram uma pequena parcela de pessoas, então existe uma segurança para a aplicação. A contrapartida é que, se a vacina funcionar, são os primeiros brasileiros a receber a dose”, concluiu Ayub.

Governo fará estudo clínico no Grande ABC

Com destaque nas ações de combate ao novo coronavírus, o Grande ABC será contemplado em ação do governo federal para estudo clínico com o medicamento Nitazoxanida – antiparasitário conhecido como Anitta –, que testará a eficácia do produto em 500 munícipes voluntários das sete cidades. São Caetano foi escolhida para o anúncio do programa, chamado #500VoluntáriosJÁ, que será feito hoje, às 11h, pelo ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, no Hospital de Emergências Albert Sabin, no bairro Santa Paula. 

Utilizando inteligência artificial em testes com 2.000 fármacos, o CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), organização social vinculada ao ministério, identificou cinco remédios com potencial para combater a replicação do novo coronavírus. Segundo o estudo, a Nitazoxanida reduziu em 94% a carga viral em células infectadas in vitro. Estas duas etapas da pesquisa científica deram suporte para o início da última fase dos estudos clínicos, com pacientes. O intuito é o de comprovar cientificamente a eficácia deste remédio no tratamento precoce da Covid-19.

“Precisamos envolver 500 pacientes voluntários para que o estudo seja concluído o quanto antes”, destacou Pontes, explicando que a ideia é apresentar ao Brasil e ao mundo, que este remédio – identificado por pesquisadores brasileiros com recursos do governo federal – “é capaz de combater o vírus e salvar vidas”. 

A carreta da ação estará disponível para atendimento a partir de hoje, na Rua Aurélia, 101, também no bairro Santa Paula, em São Caetano, e continuará em funcionamento até a adesão de 500 voluntários. O teste é gratuito e o uso de máscaras para triagem e cadastro no estudo é obrigatório. 

“Venham para a carreta #500VoluntárioJÁ”, chamou o secretário de Políticas para Formação e Ações Estratégicas do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcelo Morales, destacando que o teste estará disponível para 500 moradores dos sete municípios do Grande ABC que tenham interesse em participar.




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