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Poesia vira rotina na vida de estudantes

Na Emeief Profª Sonia Aparecida Marques, crianças tomam gosto pelo importante gênero literário

Selma Viana
Do Diário do Grande ABC
23/11/2011 | 07:00
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Na música Ciranda da Bailarina de Chico Buarque, o autor diz, em outras palavras, que todo mundo tem defeito, só a bailarina é que não tem.

Para os alunos do 5º ano da Emeief Profª. Sonia Aparecida Marques, na Vila Palmares, em Santo André, a poesia também era símbolo de perfeição onde só caberia falar de amor, da amizade, da brincadeira, de tempo bom, das coisas boas da vida... Descobriram a verdade quando a escola foi inscrita para participar da Olimpíada da Língua Portuguesa. O tema era O lugar onde vivo, na categoria poesia. Foi o primeiro contato com um gênero literário que tem um conjunto de versos, que formam a estrofe, mas nem sempre precisa de rima para agradar.

Para desenvolver o trabalho de forma organizada a professora Renata Kelly Aceituno de Matos implementou na sala o projeto Poesias em Nossas Vidas. A primeira atividade foi passeio pelos bairros da cidade. Foi aí que Renata percebeu que os alunos evitavam usar palavras negativas para formar os versos e não citavam os problemas da sua cidade nas produções dos textos.

"As crianças achavam que na poesia só cabiam coisa boa, eles não queriam retratar coisas tristes", conta. A professora trabalhou esse sentimento com a poesia contida na música de Chico: "Procurando bem / Todo mundo tem pereba / Marca de bexiga ou vacina / E tem piriri, tem lombriga, tem ameba / Só a bailarina que não tem...". Os alunos entenderam a mensagem.

No exercício seguinte, a professora pediu à classe que sugerisse palavras para construir versos. "Medo, raiva e problemas" começaram a ocupar as linhas dos cadernos. Na leitura, Renata recorreu aos poetas clássicos e modernos, como Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Gonçalves Dias, entre outros. E foi Carlos Drummond de Andrade quem tirou a pedra do caminho de Rodrigo Ferreira Montagnini, 10 anos. Ao conhecer o famoso poema No meio do caminho, ele ficou pensando no sentimento que tinha pela sua irmã de 4 anos. "Eu brigava muito com ela, achava que as pessoas só davam atenção para ela. Depois vi que não era assim", reconhece. A essa altura, ninguém queria mais saber de competir.

"As crianças queriam fazer poesia fora do horário em que aplicava o projeto, na aula de Matemática, mas diziam que não queriam ganhar nada", relata a educadora. Vinicius Pereira, 10 anos, é outro exemplo dos efeitos que a poesia causou em sua vida. Ele descobriu uma forma de extravasar sua inquietude sem desagradar tanto quem está ao seu lado. Resultado: a sua poesia foi a escolhida para representar a escola na competição. "Eu gosto da minha cidade / Porque ela tem flores e árvores / Tem lugares muito bonitos que / Traz-me felicidades!", enaltece Santo André na última estrofe.

Gosto pela leitura, vocabulário, criatividade, tudo foi ampliado com o projeto. Agora os alunos são autores. Se alguém duvidar pode tirar a prova na coletânea montada pela professora no livro Nosso Livro de Poesia.

Leitura reforça senso crítico de crianças

Se há quem profetize que as novas tecnologias vão levar ao fim dos livros e demais publicações impressas, na Emeief Salvador dos Santos, no bairro Humaitá, em Santo André, as previsões são contrárias.

"Aqui, os alunos gostam cada vez mais dos livros, de manuseá-los e levá-los para casa", ressalta a professora Solange Aparecida Pereira. Representante do projeto pedagógico Leitura em Ação, idealizado pela assistente pedagógica Thays Roberta de Abreu, e desenvolvido por todo o corpo acadêmico da escola, Solange ganhou destaque pelo desempenho da turma nas atividades de leitura. "Todas as professoras já mantinham programas separadamente, mas com o projeto a prática de ler passou a ser integrada e compartilhada não só entre todos os alunos, mas também entre todos os professores e funcionários", conta Solange.

Para isso foi estabelecido que às quintas-feiras, em horários determinados, pela manhã e à tarde, todo grupo escolar estivesse focado apenas em ler, com exceções apenas para os funcionários que não pudessem se ausentar dos seus postos de trabalhos de forma alguma.

"Como a partir da leitura que podemos explorar as demais áreas do conhecimento, a proposta do projeto é usar essa prática para ampliar o repertório dos alunos e unir a escola em busca de um objetivo comum", afirma Thays.

"Lendo e descobrindo a variedade dos livros e suas histórias, os alunos desenvolvem a capacidade de interpretação, o uso da lógica, o lado lúdico, desenvolvem a produção textual e melhoram a linguagem, tanto escrita quanto falada", completa Solange. Que o diga seus alunos de 8 e 9 anos.

"Eu adoro ler, principalmente poesias, mas leio muita coisa sempre", conta a eloquente Ana Beatriz Dellavare, 8 anos, que tem entre os últimos livros da sua lista Os Lusíadas para Crianças, O Diário de Anne Frank e um dos clássicos de Júlio Verne, Volta ao Mundo em 80 Dias. "Mas também adoro revistinhas em quadrinho, como as da Turma da Mônica", diz ela, para deixar claro o seu interesse por gêneros variados.

A aluna Gabriela Bovo Manfrin, 8 anos, prefere os textos que envolvam suspense e investigação, como O Escaravelho do Diabo. "Mas a minha autora preferida é Ruth Rocha."

Solange chama a atenção para a importância dos demais trabalhos multidisciplinares, desenvolvidos a partir da leitura inicial. "Toda segunda-feira, uma sala se apresenta para compartilhar o que leu com os demais alunos da escola, explorando outras formas de expressão, como a dramatização, a palavra cantada, poesias, entre outros", conta. Ela ainda destaca a importância do projeto para que as crianças aprendam a expor suas ideias em grupo, ampliem o convívio social e se interessem em buscar conhecimentos. (Mirela Tavares)




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