O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se mostrou favorável aos protestos que eclodiram no País no mês passado, mas fez ressalva: “Não reneguem a política nem os partidos políticos”. Ele revelou que todos ficaram surpresos com as mobilizações.

A primeira avaliação pública do ex-presidente sobre as manifestações de junho foi feita ontem à tarde, no campus de São Bernardo da UFABC (Universidade Federal do ABC). Ele disse que “os jovens podem protestar nas ruas, no computador, twittando, dizer que não gosta do Lula, da Dilma (Rousseff), do (Luiz) Marinho (prefeito de São Bernardo), mas não podem negar a política. De protesto em protesto a gente conserta o telhado.”

Segundo Lula, se as pessoas estiverem insatisfeitas com os partidos políticos existentes há possibilidade de criação de legendas. “É dentro de cada um que está o político ideal. Fora desse contexto não existe solução”, afirmou o ex-chefe da Nação, em palestra que durou quase três horas sobre avaliação da política externa em seu governo, de 2003 a 2008.

O ex-presidente comentou que, na Itália, na década de 1970, houve processo de negação da política “e surgiu o ex-premiê que estava lá”, em referência a Silvio Berlusconi. “No Egito, houve movimento para tirar uma ditadura (de 30 anos de Hosni Mubarak). Elegeram um cara (Mohammed Morsi) e, um ano depois, os militares voltam ao poder”, comparou.

Depois, aos jornalistas, Lula disse que ficou “surpreso com a capacidade das mobilizações” do mês passado. O líder máximo do petismo afirmou que “empenhou todas as bandeiras” de reivindicação que viu nas ruas. “Eu sei, a Dilma sabe, o povo sabe que temos muito a melhorar na Saúde, na Educação, na Habitação.”

Ao enaltecer a política pública de sua gestão, ele avaliou que o início dos protestos começou quando classes mais pobres da sociedade passaram a adquirir carro e viajar de avião. “Um estudante da UFABC, que comprou seu primeiro carrinho, fica preso no trânsito da (Avenida) Prestes Maia ou na (Rua) Marechal Deodoro (ambas no Centro de São Bernardo). E logo pensam: ‘essas ruas precisam melhorar. Vamos protestar’.”

RECADO À OPOSIÇÃO

Lula reclamou da postura de alguns oposicionistas de atacar o governo Dilma no eco dos protestos populares de junho. Ele recordou que partidos como PSDB, DEM e PPS lideraram movimento para o fim da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, conhecido como imposto do cheque), em 2007, cuja grande fatia era direcionada para investimento em Saúde.

O petista discorreu que, no início de seu segundo mandato, tinha engatilhado o programa Mais Saúde, projeto o qual ele classificou como “poderoso”. “Se contarmos os quatro anos do meu segundo mandato e os dois primeiros do da Dilma eles (oposição) tiraram R$ 350 bilhões da Saúde”, acusou. “Isso impediu que o projeto idealizado pelo (José Gomes) Temporão (ex-ministro da Saúde) não fosse colocado em prática. Triste.”

‘Boatos sobre volta de câncer foram feitos por canalhas ou imbecis’

As especulações da volta do câncer na laringe foram desmentidas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No fim de seu discurso no campus de São Bernardo da UFABC (Universidade Federal do ABC), o petista afirmou que os boatos que se espalharam pela internet “foram feitos por canalhas ou imbecis.”

Lula declarou não mais ter câncer na laringe, comentou que apenas faz exames de rotina (terá um em agosto) e garantiu que será o primeiro a vir a público para comentar caso haja regresso da doença. “Não tenho câncer, não quero ter, não vou ter e não gosto de quem tenha”, brincou.

Ele negou também as informações que foram disseminadas na internet sobre a suposta compra de um avião de R$ 50 milhões pelo seu filho Fábio Luís Lula da Silva. “Até mesmo a filha da Dilma, na internet, virou megaempresária”, ironizou.

Segundo Lula, “atos de vandalismo na internet farão com que haja regulamentação de uma ferramenta de livre expressão.”

‘Hoje a ONU não representa mais nada na governança do mundo’

Ao avaliar a situação na Faixa de Gaza, território disputado por israelenses e palestinos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente a ONU (Organização das Nações Unidas). “Hoje a ONU não representa mais nada na governança mundial.”

O petista questionou o fato de a ONU tivesse força, também brigaria para reconhecer o Estado palestino, assim como fez com o Estado de Israel.

De acordo com o ex-presidente brasileiro, as Nações Unidas não tratam o assunto com todos os agentes envolvidos, pois facções do Hamas (organização palestina) têm integrantes iranianos e sírios.

Ele também lembrou do episódio em que tentou, sem sucesso, costurar acordo com o ex-presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad para que os iranianos apenas trabalhassem com urânio para fins científicos.

‘Minha candidata em 2014 é Dilma; só volto para ver o jogo do Corinthians’

Defendido por petistas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou que vá retornar às urnas em 2014 para assumir a cabeça do projeto presidencial do PT caso Dilma Rousseff continue com queda em pesquisas de popularidade.

“Em 2014 não serei candidato. Minha candidata é a Dilma. Se eu vou voltar? Só se for para ver o jogo do Corinthians”, afiançou, aos jornalistas.

Ele defendeu reforma política e manutenção do mandato de quatro anos renováveis por mais quatro. “No passado, tiraram mandato de cinco anos com medo de mim. Agora falam em tirar reeleição com medo da Dilma”, opinou Lula, que também alfinetou a sucessora no quesito política de ajuda a países africanos.

“Copiamos tanta coisa dos Estados Unidos e podemos manter. Um mandato, com reeleição e acabou”, discorreu o petista, rebatendo que a continuidade do atual sistema garanta renovação de gestão quase automática. “O (George) Bush pai não conseguiu se reeleger como presidente, por exemplo (em 1992, quando perdeu para Bill Clinton).”

‘Snowden fez grande serviço à liberdade democrática’

Instigado por um estudante da UFABC (Universidade Federal do ABC), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou os Estados Unidos pelo caso de espionagem capitaneada pela NSA (agência de segurança norte-americana, na sigla em inglês).

O petista não quis comentar a negativa do governo brasileiro sobre pedido de asilo de Edward Snowden, ex-técnico da NSA que revelou a política dos Estados Unidos de observação de dados de outros países.

Mas afirmou que “esse rapaz prestou grande serviço à liberdade democrática ao denunciar comportamento antidemocrático de um país que tem o (Barack) Obama como presidente”. “Foi um desatino e irresponsabilidade dos Estados Unidos.”

O ex-chefe da Nação também brincou ao fazer avaliação sobre a situação. “Espero que eles (norte-americanos) não tenham ouvido minhas conversas.”

‘Foram raras vezes que a humanidade produziu líder como Mandela’

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou homenagem a Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul, que ontem completou 95 anos. O maior expoente contra o apartheid (segregação racial da África do Sul) continua internado em estado grave por conta de infecção pulmonar.

“Foram raras as vezes que a humanidade produziu uma figura tão grande como Mandela”, discursou. O petista também recordou a primeira vez que viu Mandela, em 1994, pouco depois de o Madiba ter assumido o cargo maior da África do Sul.

Lula relembrou que o ex-presidente sul-africano fez questão de misturar etnias em seu governo, não segregando os brancos após ter permanecido mais de duas décadas na prisão justamente por lutar contra o regime diferenciado aos negros que imperou na África do Sul.

Ontem, Mandela apresentou sinais de melhora ao abrir os olhos, segundo a ministra da Defesa, Nosiviwe Mapisa-Nqakula, que visitou o Madiba no hospital.

Estudantes da UFABC protestam por moradia estudantil

Estudantes da UFABC (Universidade Federal do ABC) aproveitaram a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para reivindicar a criação de moradias estudantis do complexo educacional.

Três universitários estenderam faixa com os dizeres “Lula, os alunos da UFABC contam com o seu apoio na luta pela moradia estudantil.”

No início do discurso do petista, o grupo segurou a faixa no canto do auditório do campus de São Bernardo da faculdade. Pouco tempo depois, o petista chamou os estudantes para mostrar a reivindicação a todos os presentes, em frente ao palco.

Pelas redes sociais, havia promessa de protestos contra o ex-presidente. Mas o que se viu foi uma que plateia por diversas vezes aplaudiu Lula e, no início, entoou o coro “Lula, guerreiro, do povo brasileiro”. Após o discurso, dezenas de estudantes foram tietar o ex-chefe da Nação.