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Arte com futebol
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
18/06/2006 | 08:09
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Futebol é arte ou cultura, além de ser um esporte? Quando este caderno chegar às suas mãos no dia de hoje, você estará lendo este texto seguramente antes ou depois de Brasil e Austrália, segundo jogo da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de Futebol na Alemanha, dificilmente durante. Portanto, não cabem aqui as análises pré-partida, pois o futebol de que tratam estas linhas não tem a ver com o esporte. Respondendo à pergunta acima, o futebol pode inspirar a arte pois é parte integrante da cultura nacional – e pelo que se vê na Copa, internacional.

Sendo assim, música, dança e pintura entram em campo para mostrar o que sabem fazer a partir dos limites das quatro linhas, seja para dentro ou fora dos gramados. O Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, São Paulo. Tel.: 5080-3000) é o palco principal de Boleiros, Poetas e Bailarinos, projeto que relaciona elementos do universo do futebol a manifestações artísticas. Hoje, a música entra em cena com o show Bola para Todos.

Ganhe o Brasil a partida de hoje ou seja surpreendido por aquilo que os australianos chamam de futebol, o show vai continuar. E haverá tempo para os torcedores assistirem à partida, comemorar ou lamentar, e seguir para a apresentação, que começa às 18h, com ingressos entre R$ 5 e R$ 10. Lá não deve haver motivos para decepções com o quarteto musical escalado, porque a promessa é de muito humor. Comandados pelo ator, cantor e compositor Carlos Careqa, que escalou e integra a trupe, estão Kleber Albuquerque, Wandi Doratiotto, músico, ator e apresentador do Bem Brasil da TV Cultura, e Mario Manga, parceiro de Wandi no Premeditando o Breque, o Premê. Os quatro se revezam em cena e fazem também tabelinha um com o outro cantando músicas de e sobre futebol.

O andreense Kléber Albuquerque compôs Futebol para Principiantes, cuja letra explica aos desavisados porque 22 marmanjos correm atrás de uma bola dentro da “caixinha de surpresas, toda verdinha verdinha e amarradinha, com uma linha de branca cor”. São-paulino fanático pelas finais do time, o compositor acompanha os jogos do Brasil na Copa e dá uma espiada nos demais quando é possível. Hoje, por exemplo, ele deve assistir só ao primeiro tempo do jogo da Seleção Brasileira. “Acho que no segundo tempo estarei em trânsito até o Sesc para fazer a passagem de som. Deverei ser um dos únicos na rua nesse horário”.

A Copa não é mais aquela, segundo o cantor. “Não estou tão animado como quando era moleque. Torço para o Brasil, mas gosto de ver os times africanos e asiáticos, só por diversão, pela ingenuidade deles. O Wandi tem uma música, Pelada, na qual fala que não gosta do ‘futebol força’, ‘futebol velocidade’. Hoje em dia o futebol está pouco espetacular”. Portanto, quem gosta ou não do jogo bretão, mas aprecia sátiras, tem Bola para Todos após o jogo.

Dança – Bailarinos jogando futebol é a proposta que a Cia de Danças de Diadema levará ao Sesc Vila Mariana no espetáculo Futebol, Paixão Nacional, criada em 1997 e remontada este ano. A apresentação é nos próximos dias 23, 24 e 25, dentro do projeto Boleiros, Poetas e Bailarinos, e terá mais duas companhias.

A Cia Ballet Sopro com a coreografia Jogado, que usa as diferentes reações dos jogadores durante as partidas com alusões aos jogos da vida. Fechando a série, o Ballet Stagium mostrará O Deus dos Estádios, uma homenagem ao atacante Heleno de Freitas, o craque galã e artilheiro do Botafogo (RJ), que jogou no Santos e na Seleção Brasileira dos anos 30 e 40, morto aos 39 anos em um sanatório.

Naïfs – Também no dia 23, sexta-feira, começa no Sesc Vila Mariana a exposição O Futebol na Arte Naïf. Os pintores escalados criaram a maior parte das obras para este evento, e todas elas retratam o futebol e seus aspectos no imaginário popular. São casados contra solteiros, futebol na roça, uma final importante alguns dos temas retratados em óleo sobre tela e acrílica sobre tela. Embora o futebol tenha aqui caráter de diversão e a atmosfera em seu entorno seja sempre festiva, de arte primitiva, espontânea e autodidata, estes naïfs têm pouco.

Por outro lado, são 13 obras selecionadas. Coincide com a superstição do coordenador técnico da Seleção Brasileira no Mundial, Mário Jorge Lobo Zagallo, que reza aos quatro ventos que 13 é seu número de sorte (o Brasil estreou no dia 13). Daí ele fica procurando encontrar o número 13 em tudo o que vê ou toca: 13 letras, 13 nomes, 13 pedrinhas...

Esta é para alimentar o Lobo: a Copa na Alemanha é a 18ª da história, das quais o Brasil ganhou cinco. Tire cinco de 18 e veja quantas Copas o Brasil deixou de ganhar.

Artistas naïfs (do francês, ingênuos), integrantes da arte popular brasileira que não são oriundos de feirinhas de artesanato urbanas ou lojas de souvenires, e que expressam criações populares e não um pseudofolclore colorido, são outros. E os que trataram também de futebol estão na Galeria Brasiliana (r. Artur de Azevedo, 520, São Paulo. Tel.: 3086-4273. Não abre aos domingos), na exposição Show de Bola.

Esta mostra reúne 18 artistas como o escultor Resendio, o pintor Agostinho Batista de Freitas, descoberto em 1951 por Pietro Maria Bardi, ou os cronistas visuais do cotidiano Licídio Lopes, baiano, e Irene Medeiros, paraibana, e ainda João Pilarski, deficiente físico paranaense de obra pouco numerosa, mas de inspiração européia ancestral.

Nas telas ou esculturas em cerâmica em exposição, o futebol aparece naturalmente, não sob encomenda, como parte integrante do folclore da comunidade. Assim como as manifestações da torcida, que são espontâneas por si, e não necessitam de overdoses de estímulos comerciais para isso.




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