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Natal na arte
Por Alessandro Soares e Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
23/12/2006 | 19:05
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Saiba como a data máxima do Cristianismo é representada em manifestações artísticas como a pintura, a música – popular e erudita – e o cinema

Música pop
Quem conhece um pouco do universo pop sabe que o repertório musical dos festejos natalinos vai muito além das canções sobre “sinos pequeninos” e a caridade do ‘bom velhinho’. Depois da tradicional Jingle Bells, a melodia mais lembrada durante essa época do ano é a de Happy Xmas (War is Over), lançada por John Lennon, em dezembro de 1971.

Acompanhado de sua então inseparável esposa Yoko Ono, o ex-beatle utilizou a canção, de grande apelo popular, para promover o lançamento de uma campanha em que pedia a paz mundial. Na ocasião, o governo norte-americano ainda estava envolvido na Guerra do Vietnã, conflito do qual só se retiraria quatro anos mais tarde. O casal mandou espalhar outdoors em 11 das mais populosas cidades do mundo, com a mensagem: “A guerra acabou, se você quiser. Feliz Natal de John e Yoko”.

Além da melodia assobiável, também contribuiu para que a canção fosse cristalizada na memória afetiva do público o fato de que o artista foi assassinado em 8 de dezembro, dias antes do Natal de 1980. Naquele ano, naturalmente, as rádios norte-americanas, executaram a música à exaustão. Principalmente entre os mais jovens, Happy Xmas (War is Over) será sempre lembrada por ter servido de base para a enfadonha versão produzida pela cantora Simone, em 1995.

A lista de sucessos natalinos é variada e parece infindável. Na década de 80, o grupo punk Garotos Podres manifestou seu protesto contra a hipocrisia e o consumismo que costumam ser associados ao Natal, na antológica Papai Noel Velho Batuta. Ainda nos domínios do punk, o grupo norte-americano lançou Merry Christmas (I Don´t Want to Fight Tonight), em que traduziu a mensagem natalina de paz e compressão em apenas três acordes.

Nesta relação estão presentes ainda, só para ficar em mais três exemplos, o baladeiro Elton John (Step into Christmas), a dupla White Stripes (que, em 2002, lançou o disco Merry Christmas from the White Stripes), e o extinto grupo brasiliense Raimundos (Infeliz Natal).

Pintura
O Natal é uma passagem crucial do Novo Testamento, o nascimento de Jesus Cristo. Dogma de fé à parte, os registros visuais deste momento e episódios que circundam a cena do presépio – anunciação, adoração dos pastores, três reis magos, estrela de Belém, fuga para o Egito – renderam obras-primas da arte ocidental.

Uma delas é reproduzida nesta página. A Sagrada Família (1503/04, Galeria Uffizi, Florença), de Michelangelo (1475-1564), mostra José, Maria e o Menino Jesus num tondo, redondo como era costume representar telas com Madonas. Ao contrário das delgadas figuras de Cristo e santos representadas como seres etéreos em visita à Terra na arte medieval, os artistas do Renascimento faziam o oposto. Davam peso e emoções humanas a tais figuras, delineados em perspectiva geométrica.

Arte e ciência em comunhão para mostrar o real tangível, o Divino que pertence à Terra. Reviravolta no pensamento teológico, visão moderna baseada em observação cotidiana e conhecimento científico, que influenciou a arte séculos após.

Giotto Di Bondone (1267-1337), mestre dos afrescos, fundou o Renascimento. Fez a cabeça das gerações posteriores de artistas influenciados por suas representações pictóricas que davam emoções humanas a cenas religiosas. Como em A Natividade (1303/1306), um dos episódios da vida de Cristo retratados na capela Arena, em Pádua, na Itália.

Leonardo Da Vinci (1452-1519) fez poucas telas em vida, mas deixou A Anunciação (1472, Galeria Uffizi), pintada no início de carreira. Só a adoração dos magos, Sandro Botticelli (1445-1510) fez várias. Religioso e dado à mitologia, fez também Natividade Mística (1500, Galeria Nacional, Londres), na qual vincula o nascimento de Cristo e sugere, em alegorias espalhadas ao redor do presépio, um apocalipse. Mas pode trazer várias interpretações.

Portanto, temas natalinos produzidos neste período fundador de nova estética e pensamento têm significado aproximado ao do Natal.

Cinema
Filmes natalinos. Dá até para considerá-los um gênero, feito comédia ou suspense, tal a quantidade de obras relacionadas ao tema, que têm Hollywood como fornecedor quase exclusivo. E o que é filme natalino? Aí é que está: depende da disposição do cinéfilo.

Se ele é chegado a purismos, deve julgar natalinas somente produções que abusam de guisos nas trilhas sonoras, as que narram o nascimento de Cristo ou as inúmeras versões e reversões de Um Conto de Natal, famosa lição de moral literária de Charles Dickens – a mencionar, entre as mais divertidas, Os Fantasmas Contra-Atacam (1988).

Quanto ao principal aniversariante de segunda-feira, são centenas, senão milhares, os filmes que contam seu nascimento. Ben-Hur (1959) é um deles; O Rei dos Reis (1961) e A Maior História de Todos os Tempos (1965), outros dois; e há, para os menos ortodoxos, A Vida de Brian (1979), sátira que conta a história errada, por linhas certas, providenciada pela trupe do Monty Python.

E, ainda pelas alas do conservadorismo, não faltam variações sobre o tema do espírito natalino que cura qualquer caráter, algumas com o Papai Noel à dianteira: de Um Herói de Brinquedo (1996) a Esqueceram de Mim (1990), de O Grinch (2000) a O Expresso Polar (2004), de Férias Frustradas de Natal (1989) a Milagre na Rua 34 (duas versões: 1947 e 1994), de O Estranho Mundo de Jack (1993) a A Felicidade Não Se Compra (1946) – este, obra de Frank Capra, talvez o maior de todos os clássicos natalinos.

Agora, em caso de indiferença a tradições, pode-se vislumbrar a desconstrução do bom velhinho como projeção do consumismo em Papai Noel às Avessas (2003); ou ver o feriado como uma estação da má sorte e da hipocrisia, conforme demonstram Gremlins (1984) e Duro de Matar (1988); ou, ainda, entendê-lo como tabuleiro do jogo da verdade familiar, como em Parente É Serpente (1994) e no sueco Fanny e Alexander (1982).



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