Economia Titulo
Golpista detalha como lesou o INSS
Por Sérgio Vieira e Thales Stadler
Do Diário do Grande ABC
02/09/2007 | 07:19
Compartilhar notícia


Por suas mãos passou em 45 dias a soma de R$ 100 mil. A quantia não pertencia a ele. Eram recursos de aposentados. Integrante de uma quadrilha que desviou perto de R$ 5 milhões dos cofres do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) no Estado de São Paulo, João – nome fictício, adotado por motivo de segurança – dá detalhes de como interceptou valores de revisões de aposentadorias.

O esquema foi desbaratado no fim do mês passado pela Operação Revisão, da Polícia Federal, após João denunciá-lo por carta à PF. Seis pessoas foram presas. Indiciado por estelionato e formação de quadrilha, ele só está solto porque se apresentou espontaneamente à polícia para prestar depoimento e se comprometeu a colaborar com as investigações.

A fraude consistia em sacar, com RGs falsos, valores liberados pela Previdência, antes que os beneficiados o fizessem. João diz que ele atendia ao perfil procurado pela quadrilha: homem aparentando 50 anos e com um ar de simplicidade. Sua parte no esquema era fornecer a foto para a confecção de um RG falso e retirar o dinheiro na boca do caixa.

João está entre os 10 integrantes do bando, liderado pelo empresário Miguel Chalella Júnior e pelo comerciante Marciano José Rodrigues. Ele diz que, desde que fez a denúncia à PF, em abril, não teve mais contato com a quadrilha.

“Um amigo me chamou para fazer parte do esquema. Estava em uma situação difícil e resolvi entrar”, conta. “Os chefes vieram na minha casa para ver se eu servia. Aí não dava mais para sair.” Ele revela que o grupo tinha acesso ao cadastro da Previdência – “alguém de dentro da Caixa Econômica Federal, que eu não sei quem, fornecia isso” –, e sabia as datas das liberações dos recursos das revisões de aposentadoria.

RG feito no carro - “O Miguel comprava em São Paulo o papel em branco do RG. Aí ele escolhia uma agência da Caixa em qualquer cidade e, do lado de fora, fabricava um RG. Ele pegava minha foto, colava no documento, eu assinava e punha minha impressão digital. Aí preenchia com os dados do aposentado.” João detalha mais: “Para parecer documento velho, o Miguel jogava terra na foto e nas pontas. Dentro de seu carro ele tinha laptop, impressora e papel contact. O documento ficava pronto rapidinho.” Entre as cidades em que aplicaram o golpe estão Suzano, Pindamonhangaba, São José dos Campos e Taubaté. João lembra ter ido pelo menos sete vezes a bancos. “Tinha caso que saía com R$ 15 mil. Ficava com R$ 300 e dava o resto para uns deles, que já me esperavam fora da agência.”

Procurada pelo Diário, a Polícia Federal em São Paulo disse que a operação foi desencadeada pela regional de Campinas, que não respondeu.



Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;