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Família enfrenta saga após morte de rei momo de 400 kg
Gabriel Batista
Do Diário do Grande ABC
13/10/2005 | 08:15
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Os mais de 400 kg do motorista e autônomo Murilo Ivo de Jesus, 39 anos, resultaram em martírio para toda a família nas horas seguintes à sua morte. Para piorar, o inchaço do corpo após o falecimento fizeram-no atingir a marca dos 500 kg. Com 2,10 m de altura e 1,60 m de diâmetro, não havia caixão compatível às medidas de Murilo. A família teve de arrombar a parede da casa para remover o corpo. Murilo morreu por volta das 6h de terça-feira, na cama da sala que utilizava como quarto, no Jardim Alvorada (perto do Jardim do Estádio), em Santo André. Mas só foi retirado de lá às 20h, 14 horas depois.

Ontem, a saga da família de Murilo teve novo capítulo. O corpo não entrou na geladeira do IML (Instituto Médico Legal) e, no cemitério Santo André, não havia jazigo que acomodasse as dimensões de Murilo. Até as 18h de ontem o defunto ainda não havia sido enterrado.

Os parentes do morto estavam revoltados com a situação. Eles acusaram o médico e diretor do IML, Vladimir Alves dos Reis, de se recusar a fazer necropsia no corpo de Murilo. O médico diz que isso é mentira. A família também se sentiu lesada pelo serviço funerário do município. "É inacreditável que uma cidade como Santo André em pleno ano 2005 não recolha o corpo de uma pessoa obesa", disse o enteado de Murilo, o motoboy João Dias, 32 anos. O encarregado da funerária Santo André, Ricardo Amaral, reconhece que a funerária é incapaz de remover uma massa corporal com esse volume.

A história – Até seis meses atrás, Murilo era assistido por um médico que impunha a ele uma dieta balanceada. A família o considerava saudável e afirma que ele não tomava remédios e não tinha histórico de problemas de saúde. A sala da casa em que ele vivia, com mais cinco parentes, era seu quarto. Murilo dormia na mesma cama que a mulher, Irani Couto, 52 anos. Na última terça-feira, amanheceu morto. Abalada com a morte do ente querido, a família começou a enfrentar o drama da locomoção do corpo.

A irmã de Murilo, a dona-de-casa Márcia Ivo de Jesus, 44 anos, chamou o serviço funerário de Santo André, mas os funcionários municipais informaram que não poderiam remover um corpo tão pesado. Márcia conta que insistiram com a funerária, sem êxito. A família ligou para a polícia e registrou boletim de ocorrência sobre a morte no 3º DP da cidade.

Por volta das 20h, o cunhado José Maria desparafusou e retirou a porta da sala e usou uma marreta para arrombar 40 centímetros da parede. A família retirou o corpo da cama e o espremeu em um caixão, que não comportou totalmente o morto. Utilizaram o carro de uma funerária particular para levá-lo ao IML.

No IML, Murilo foi deixado no corredor, próximo à porta do necrotério. Ele não coube na mesa de necropsia e não passou pela porta da geladeira de conservação. A família diz que o diretor do IML, Vladimir dos Reis, não quis fazer a necropsia do cadáver. O laudo do IML atestou morte por infarto e insuficiência respiratória. "Temos o direito de saber realmente por que ele morreu. Mas, porque insisti, aquele médico chegou a me levar até o corpo e abri-lo na minha frente, e em seguida não fez a necropsia", diz a irmã de Murilo, Márcia.

O médico e diretor do IML negou as acusações. "É mentira. O nosso trabalho aqui é sério. Inclusive me certifiquei de fotografar a necropsia, posso mostrar as fotos para qualquer delegado de polícia", disse o médio Vladimir dos Reis.

No cemitério Santo André, Wagner Carnaval, do departamento de vendas, resolveu refazer um jazigo com gavetas para seis corpos. Ele mandou retirar as gavetas e divisórias e deixar o interior da urna vazia, para abrigar apenas Murilo. O valor do jazigo, o maior que havia, é de R$ 17 mil. No fim da tarde de ontem, a família não queria enterrar o corpo enquanto não resolvesse o imbróglio com o IML. Às 18h, o núcleo familiar de Murilo planejava velar o morto às 22h e enterrá-lo na manhã de hoje.

Biografia – Murilo foi rei momo de Santo André por cinco vezes, de 1989 a 1993. Casado, com uma filha de 22 anos e um enteado de 32, ele morava na rua Macuco com mulher, filha, enteado, irmã e cunhado. Tornou-se motorista e, em seguida, passou a trabalhar com ônibus fretado. A família afirma que ele tinha atualmente 39 ônibus e que realizava passeios para crianças a parques de diversão.




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